Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Disseram de você o que você nunca supôs que sequer pensariam sobre sua pessoa?

Viram intenções malévolas e mesquinhas, onde havia, de sua parte, sincera disposição de serviço?

Olharam de través para você, como se fosse um farsante ou um crápula?

Apunhalaram-no pelas costas, aqueles mesmos que mais lhe deviam favores e serviços prestados?

Ignore tais expressões de primitivismo, meu caro, e siga adiante, porque quase nunca a mente humana reflete adequadamente em torno do que acontece em torno. Quase sempre, em matéria de ciência, as condutas são explicáveis e aceitas. Mas, quando se parte para a esfera do comportamento e da esfera do pensamento humanos mais sutis, o mau juízo se faz, amiúde escandaloso.

O cirurgião faz incisões violentas no organismo, cortando os tecidos do paciente, extraindo pedaços do corpo, costurando as fendas abertas em meio a sangue copioso. Alguém, todavia, diria que é um homicida esquartejador, ainda que uma cirurgia não salve o paciente da moléstia que intentava-se extirpar de seu organismo?

O anestesiologista, para propiciar o trabalho do cirurgião, ministra-lhe dose precisa de drogas que, pouco mais do que o estritamente necessário, pode conduzir facilmente o paciente a óbito. Alguém aventaria a hipótese de que esse profissional tencione envenenar seus pacientes até a morte?

O ginecologista criterioso faz toques científicos nos órgãos genitais de suas pacientes, para a justa anamnese. Seriam todos os médicos da área assediadores e abusadores de mulheres?

O pai ou a mãe conscienciosos, podem ser duros na punição de seus filhos, quando a disciplina se faz imprescindível e se encontra de frente a um caráter refratário à boa educação. Alguém seria justo se alcunhasse esses homens e mulheres de bem de personalidades psicopatas e diabólicas, por serem enérgicos em certas ocasiões?

Entretanto… as injustiças, calúnias e incompreensões seguem horrendas, ferindo os corações mais sensíveis, em inomináveis torturas psicológicas. Amadurecimento moral (para não se incomodar com o que se diz ao próprio respeito, ou não se incomodar tanto) e distanciamento dos atacantes é o que se pede de cada um que se sinta alvo da sanha venal dos maliciosos de plantão.

Se você é negro e o vêem como marginal ou quase isso, um cidadão de segunda classe, apenas por ter mais melanina na pele;

Se você é homossexual e o têm como um degenerado promíscuo, apenas por não partilhar das preferências da maioria heterossexual;

Se você é mulher e tomam-na por menos inteligente ou decidida, apenas por portar organismo feminil;

Se você é religioso e é tido à conta de fanático, apenas por não se entregar à insensatez do materialismo, que enlouquece a massa hipnotizada, pelo sistema consumista-materialista de organização sócio-econômica;

Se você é rico e o vêem como sovina e insensível, apenas porque foi competente e previdente o bastante para economizar e constituir patrimônio;

Se é pobre e observam-no como preguiçoso e incapaz, apenas porque pôs o foco de sua vida em outros valores e funções, a que dedica o melhor de seus esforços;

Se é simpática e extrovertida e interpretam-na como mulher volúvel e infiel;

Se é introvertido e melancólico e leem seu estilo de ser como arrogância e presunção;

Se você é generoso e bom, e crivam-no de acusações de vaidade e interesse pessoal dissimulados, em suas atitudes beneméritas;

Se você é educado e sensível, psicológico e político; e têm-no como bem-acabado hipócrita e demagogo;

Se você se dá a uma causa humanitária, por esforço e idealismo, e enxergam, em suas intenções, morbidezes e monstruosidades indizíveis;

Seja bem vindo à Terra.

Por muito tempo, ainda, no planeta, a coroa de espinhos será o prêmio para quem age em padrão um pouco acima da média, justamente por a mole humana não admitir algo superior às suas próprias premissas de verdade e experiência.

Proteja-se, defenda-se e demonstre, psicológica e politicamente, suas reais intenções, mas até a medida do socialmente obrigatório. E, depois disso, não se preocupe em se desculpar e se explicar, confiando a Deus a experiência da incompreensão, certo de que, cedo ou tarde, será compensado pelos ataques injustos – alguns abomináveis – que sofre. Por mais dolorosa a situação que atravesse, ganhará infinitamente mais, com o amadurecimento que lhe advirá da vivência amarga, a segurança, a paz, o sentimento inapreciável de dever cumprido, a sensação de realizar o propósito da própria estada no mundo físico, o sentido da própria existência.

Releve os desatinos de quem não o ama, e foque sua atenção no que fazem-lhe os que realmente lhe querem bem. Ignore a gritaria ensandecida dos inimigos da causa do bem, e se concentre na sua felicidade, na sua espiritualidade, nos seus valores, e no bem que possa fazer por outras pessoas.

Plante hoje a semente do bem. Faça o bem a quem lhe quer ou parece lhe querer mal. Faça o bem, ainda mais, por quem precisa de seu apoio e assistência, ou por quem ama e é amado. Onde encontrar desdém, distribua sorrisos genuínos de fraternidade. Em quem perceber suspeita, dê um pouco mais de sua sinceridade. Pelo terreno minado pela força do mal, plante, a mancheias, os germens invencíveis das potências divinas do bem… E, lenta mas progressivamente, todo mal-estar, todo perigo e toda adversidade serão arrefecidos até o total banimento, em diversos aspectos, de muitos deles.

No mais, confie na Divina Providência, porque sofrerá na exata medida, tão-somente, do que precisar para aprender e crescer. E, assim, em vez de se colocar como vítima impotente de contingências adversas (o que lhe rouba forças para reagir de modo prático e resolutivo ao problema), pergunte-se, após tomadas as providências de defesa cabíveis, o que Deus lhe quer ensinar com tal ou qual experiência de injustiça e ingratidão, e encontrará, às vezes de imediato, outras não tanto, o motivo exato do dissabor, cujo conteúdo deve assimilar, assim desfazendo o propósito da existência desta ou daquela provação em seus caminhos, que, por si mesmas, dissipar-se-ão.

(Texto recebido em 12 de maio de 2003.)