por Benjamin Teixeira.

Gosto de fazer homenagens a pessoas queridas, que fizeram de minha atual existência física uma Jornada de paz e de felicidade, apesar de todas as dores e dificuldades que atravessei e que ainda atravesso.
É uma forma de declarar, dramaticamente, que ninguém faz nada só, que ninguém chega solitariamente a lugar nenhum. Que o céu é realização de grupos; e que o inferno, quase sempre, é resultado da alienação e do isolamento. E, principalmente, um modo de exortar quem me dá ao trabalho de me ouvir ou ler, a prestarem atenção aos anjos ocultos, ao próprio lado, ocultos por portarem defeitos humanos, e, assim, apesar de canais de Deus para nós, passarem mascarados de humanidade, socorrendo-nos e sustentando-nos nos invernos, quanto nos verões da Vida…

Há alguém em particular que me dói o coração quando falo. Alguém que amo tão profundamente que, realmente, um aperto me surge no peito. Foi com essa pessoa que dividi meus primeiros sonhos, meus primeiros projetos de felicidade, meus devaneios e crises mais fortes. Foi ela quem conheceu meu lado melhor e o pior, em todas as faces que posso conhecer em mim.

Em 1981 foi quem esteve do meu lado quando tive a minha primeira vivência mística profunda: uma seqüência fortíssima de sonhos que revelavam algo que estava por acontecer… num futuro distante. Em linguagem simbólica, naqueles dias, eu, com 10 anos recém-completados, recebi um delineamento geral do que me ocorreria décadas mais tarde. Marilia, minha querida irmã-amiga… tinha apenas 7 anos então, mas ouviu-me e apoiou-me em tudo que imaginava estar acontecendo comigo.

Durante toda a adolescência, mas principalmente no período 1985-1986 fomos simbióticos. Eu com 15, ela com 12. Não sei como teriam sido aqueles dias tão difíceis sem seu apoio.

No Carnaval de 1988, Marilia foi a primeira pessoa que me ouviu e compartilhou comigo as maravilhas do Espiritismo, naquele longínquo final de tarde. “Preciso falar com você sobre uma coisa muito importante” – disse a ela. E ela me ouviu paciente e atentamente, e, ao final de minha fala, sob a penumbra do crepúsculo, concordou tranqüilamente com a exposição e passamos a dividir o mesmo ideal religioso, até hoje.

Em 1991, quando atravessava terrível crise emocional, após o término de devastadora paixão juvenil que se arrastava por mais de dois anos, e, naquele exato período, eclodia-me a mediunidade ostensiva, quase enlouqueci. Certa tarde, rondava pela casa como um lunático, clamando aos espíritos, internamente: “Não disse Kardec que os médiuns estavam por toda parte? Onde está o canal para que falem comigo agora? Estou realmente precisando de orientação, e urgentemente!” Já estava profundamente ligado à militância espírita, divulgando suas idéias por meio da imprensa, há mais de um ano. Mas a dor moral era infinita… Passava à frente do quarto de Marilia, várias vezes, para lá e para cá, que tinha a porta entreaberta, e percebi que, a certa altura, deitou-se ela em sua cama, para, logo mais, levantar-se e começar a escrever. Minutos mais tarde, vinha ela, com um texto em suas mãos, trazido das esferas que visitara em desdobramento pelo sono: “Benjamin: é para você”. Uma psicografia salvadora.

Foi nesse mesmo período que a doce Eugênia, que já me aparecia às percepções mediúnicas desde 88, sem se identificar, apareceu a Marilia, em vívida experiência fora do corpo, e lhe revelou seu nome.

Em 1995, em meio a soberba sobrecarga de compromissos, atividades e dificuldades, com o programa de televisão entrando em pool com a Bahia e lançando meu primeiro livro, recebi dela praticamente o único apoio para a decisão dramática de suspender meu curso de Direito, apesar de já estar no último ano, a fim de não periclitar o essencial: o propósito que me trouxera à reencarnação.

Dela ouvi, por diversas vezes, quando estava abatido e derrotado pelas ingentes dificuldades de meu trabalho: “Benjamin, não se esqueça de quem você é.” Parecia até que ela tinha mais certeza do que vim fazer no plano físico do que eu mesmo. Era ela o canal de Deus e dos Bons Espíritos que O representam, e falava também por ela mesma… espírito amigo que me conhecia muito bem… de sempre…

Recentemente estava fazendo um agradecimento público a algumas pessoas que muito colaboraram para que o trabalho que acontecesse por meio intermédio chegasse ao ponto em que chegou, e, quando citei o nome dela… tive que interromper e abaixar a cabeça por alguns instantes eternos, para não desabar em lágrimas, ali mesmo, diante das 500 pessoas que assistem às minhas palestras de domingos.

Lembra-se, Marilia… minha tão querida Marilia… daquela noite fatídica em que desabafei minha maior dor da época com você? Pedi para que fechasse os olhos e eu pus ainda minha mão sobre seus olhos, a fim de ter coragem para falar… Você tremia e eu também… Não sabia eu que nunca precisaria ter pedido que fechasse os olhos para mim…

Lembra-se, querida Marilia, daquele dia de nossas infâncias, há já 22 anos atrás, quando me disse, sobressaltada: “Benjamin, eu vi um fantasma!” e somente eu acreditei, e, com sua visão do além, você me deu reforço para acreditar em minhas próprias intuições?

Lembra-se, Marilia, do dia em que, já adultos, há mais de dez anos, no varadim de nosso apartamento, em que chorava dizendo, na hora do Ângelus, com o céu esfogueado de lindas cores em matizes diversos, que somente os corações de mulher poderiam me amar e perdoar por ser a alma tão imperfeita que sou? Era a você que me referia, era a você que agradecia por me querer bem, apesar de me conhecer tão bem.

Lembra-se, Marilia, do sem-número de vezes que viramos noites inteiras conversando, deixando mamãe morta de ciúmes? Recorda-se do número igualmente incontável de vezes que partilhamos nossos sonhos e intuições, retroalimentando-nos reciprocamente, em nossos projetos e ideais para o futuro?

Diante de mim… os seus olhos profundos que me fazem chorar. O seu perdão, a sua amizade, o seu carinho, a sua preocupação constante comigo, as brigas em que se meteu em meu nome…

Lembra-se, Marilia, daquele dia em 94, logo após haver lançado o programa, quando uma pessoa me desacatou publicamente numa palestra que proferia, e pedi socorro a amigos homens presentes, mas que foi você quem se levantou para tirar do ambiente a pessoa em surto, como se fosse o mais valente guerreiro da Terra? E você se lembra do número enorme de vezes que choramos juntos falando e lembrando de nossa tão amada mãe espiritual Eugênia?

Que poderia dizer, Marilia, para o coração nobre, reto, justo e bom que você é, senão pedir desculpas por não ter sido melhor para você, como tanto me merecia? De não ter sido mais amigo, mais disponível e mais presente, ignorando um pouco minha rotina tão sobrecarga de atividades, para ouvi-la com todo o amor e atenção que merece?

Os anos passaram… Marilia, e nossas antevisões para o futuro, de mais de duas décadas atrás, aconteceram, não é mesmo? As poucas pessoas que tiveram rápidos lampejos do que falávamos, riam com desdém… mas o fato é que chegamos aqui, e vamos além, não é mesmo? Tanto você nos seus projetos com a música, quanto eu, nos meus ideais religiosos. Quem diria?

Assistimos e ouvimos juntos a Barbra Streisand, admiramos também juntos Chico Xavier, e ambos devotamos nossas vidas a remar contra a maré do status quo, não para ser do contra, mas quebrando conceitos e paradigmas, para sermos o que éramos, para não violentarmos a nós mesmos, em nome de convenções ou conveniências sociais. Hoje, podemos nos dizer vitoriosos: o mundo não corrompeu nossas almas de jovens idealistas. Assistimos hoje ao triste espetáculo de muitos de nossos colegas e contemporâneos de infância e adolescência perderem o brilho e o viço, acomodando-se a vidas de escravidão a esquemas e premências materiais, tornando-se amargos e vazios. Nós, porém, graças a Deus e à ajuda que nos prestamos um ao outro, durante esse tempo, conseguimos chegar aqui, relativamente incólumes, não é verdade?

Agora, cabe-nos dizer ao mundo: existe o amor! Nós nos amamos! Nós já conhecemos, em muitos aspectos, algumas das delícias do céu, em nossa relação de completa confiança, admiração, respeito um pelo outro, pela partilha dos sentimentos mais caros, das crenças mais profundas, das verdades mais duras.

Hoje, embora menos freqüentemente, nos encontramos para dividir nossos universos espirituais… nossos édens de ideal e sonho… nossos purgatórios de dor e decepção, amargura e frustração.

Somente lhe posso agradecer pelo tanto que é, que foi, que indubitavelmente será, espíritos eternos e perfectíveis que somos, nos melhorando cada vez mais, e, por conseqüência, podendo nos tornar progressivamente melhores amigos. Peço também, do imo do coração, desculpas pelas vezes em que não fui o amigo ideal, nem o irmão que você precisava, nem o espírito afim de que carecia. Afinal… somos humanos, não é? Mas peço-lhe desculpas, mesmo assim: tudo poderia ter sido melhor. E sei que, apesar de nos últimos quinze anos não termos tido o tempo que gostaríamos para nós, por estarmos mais alienados e iludidos pelos tóxicos da ansiedade de nossa sociedade, temos o hoje para reparar o tempo perdido; e o amanhã, para ganhar a eternidade…

Para você, meu preito de gratidão e carinho eternos, porque se hoje acredito no ser humano, grande parcela disso devo a você, por ter encontrado em seu coração, o calor humano da amizade e da dignidade, no momento em que mais duvidava da bondade e decência na Humanidade.
E, ainda hoje, continua sendo você o modelo de retidão, integridade e lealdade pelo qual gostaria que todos pautassem suas vidas, como uma trilha para o paraíso e para a verdadeira felicidade.

Você, irmã do corpo e do espírito, amiga de hoje e de longas datas… desta e de outras vidas… minha homenagem e meu amor… para sempre…

Seu irmão, gêmeo espiritual,
em dívida eterna para o anjo bom que você é, e que se dispôs a descer e estar do meu lado, para me ajudar na dura travessia desta vida…

O amigo de sempre… para sempre…

Benjamin.