Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eustáquio.

Desventurado, contemplas, aturdido, o céu de tuas esperanças despedaçadas.
Olhas, sorumbático e amaro, as expressões do infinito, e ficas ainda mais soturno, ao cogitar do que te permitiste perder.

Não sejas, porém, assim tão dramático. A vida é renovação em flor. Contempla o grelo frágil que se converte em vergônteas singelas e por fim em frondosa copa a encobrir os céus…

Observa, outrossim, a mimosa semente depositada no útero feminil, que se transfunde, em poucos anos, em adulto lúcido e firme, a decidir, realizar e transformar o mundo.

Relembra, ‘inda mais, dos invernos rigorosos, em países fustigados pelo horror de invernias intensas, e notarás que, à época da neve, a natureza, plangente, chora uma morte espetacular, para renascer logo mais, no luxuriante “show” da primavera.

Rememora, também, a lagarta disforme e aprisionada, no imo da crisálida, padecendo dores atrozes, metamorfoseando, entrementes, sua forma viscosa e inábil em fabulosa e ágil borboleta.

Por fim, não te esqueças da noite, que todo dia chega, ao fim de cada período solar, apenas para encerrar-se horas mais tarde, em nova vitória do Astro-Rei.

Tudo passa, amigo. Basta que mantenhas em mente a fé em Deus. Faze tudo que deves de tua parte e segue tranqüilo, em esforço continuado mas sereno, pela concretização do melhor, e, tem certeza disso: tudo sempre se resolverá, da melhor forma, quanto antes, porque Deus e os Fluxos sagrados da Vida que O representam estarão tecendo os fios sutis da solução e da transcendência, nos subterrâneos misteriosos do destino…

Hoje, és desilusão, semente, embrião e lagarta. Amanhã, despontarás, glorioso, como êxtase, fronde larga, homem pleno e a borboleta-anjo em que todos nos converteremos, cedo ou tarde… mas para sempre…

(Texto recebido em 13 de março de 2003.)