Benjamin Teixeira de Aguiar
pelo Espírito Eugênia-Aspásia.

Cheguei à casa de minha pupila, quase uma choupana, no interior do Brasil. Nos braços, a criança que seria genitor, em futuro distante, de um “protégé” meu e companheiro de trabalho.

Estávamos na primeira metade do século XX, com a segunda grande guerra em seus primeiros desdobramentos, mas nutríamos muita esperança e convicção de que aquele projeto encarnatório porvindouro, vinculado ao filho do bebê recém-nato, seria ridente para todos nós, ao propiciar uma realização de vários amigos de nosso Plano de ação, a benefício de milhões de criaturas.

O marido de minha tutelada, avô desse missionário do século XXI, lamentavelmente alcoólatra, encontrava-se fora do lar, e a jovem senhora que ainda não adentrara a casa dos 30 anos, contrita, orava para a “Virgem” Santíssima, suplicando proteção para si e seu rebento, relegados a abandono, tarde da noite, em meio a terrenos baldios. Toquei-lhe a fronte, ternamente… oramos juntas.

Poucos instantes depois, Bernardo, o amigo que reencarnaria como filho daquele ser frágil no colo materno, fez-se presente, cumprimentou-me afetuosamente, como também aos demais colaboradores que me secundavam na assistência, e, fitando fundo os olhos daquela tão sincera devota de Maria Sacratíssima, declarou-lhe, comovido, pelo sem-fio do pensamento, audível, porém, para nós outros:

– Chamá-la-ei de “vovó”… em futuro por ora distante… Passarão mais de três décadas, para que me abrace e me ouça assim chamá-la… Trouxe-lhe um presente: minha promessa de proteção, até que esse menino se torne um homem e possa se defender por si próprio.

Confortada, sem saber o motivo, a “madona dolorosa” sentiu lágrimas quentes verterem-se de seus olhos, enquanto depositava, tranquila, o bebezinho próximo a si, adormecendo ao seu lado, pacificada, sentindo-se segura, apesar da cortante solidão do lar vazio.

Um lustro mais tarde, encontramos o bebê convertido num menininho a protestar intensamente contra a aplicação de necessária injeção medicamentosa. Tocando-lhe os plexos coronário e frontal, com a mão espalmada sobre a cabecinha do pequerrucho, Bernardo distendeu a percepção visual-mediúnica do garoto, e eis que este, vendo-o, tranquilizou-se, sustendo o choro, sem razão aparente para os circunstantes encarnados, que observavam o menino mirar o “vazio”, embora não lograssem captar as palavras de nosso amigo, que dizia, em tom mântrico:

– Acalme-se, “papai”… Você não é tão chorão assim (risos). Eu estou aqui… Enquanto você não me tiver como seu filho, daqui a algum tempo, serei seu pai, seu protetor espiritual, como o sou, há tantos séculos…

Pouco após a virada do milênio, reencarnado Bernardo e estando seu genitor beirando a terceira idade, minha protegida encontrava-se na iminência de deixar o corpo de matéria densa, perto de completar 90 anos. Àquela altura, Bernardo já realizava um trabalho de orientação espiritual para todo o país, por meios de comunicação de massa. Aprochegando-se do leito de morte da anciã venerável, sussurrou-lhe aos ouvidos:

– Vovó, tranquilize-se… Lembra-se de que lhe pedi celebrarmos seus cem anos?…

Comovida e um tanto assustada, respondeu a velhinha, quase afônica, no desfalecimento profundo das forças, mas inteiramente lúcida:

– Meu filho… não são nove dias… são noventa anos!…

– Descanse, vovó, poupe fôlego e forças…

Foi a última vez que se encontraram, antes do decesso carnal da progenitora paterna. Passados 13 anos de seu falecimento e cientificada do quanto recebeu de auxílio de Bernardo, durante a infância de seus filhos (não só do primogênito), ela é quem, episodicamente, dele se aproxima e por ele faz o que lhe está ao alcance, dentro de suas condições espirituais.

A mulher que conheceu seu protetor espiritual encarnado, quando beirava os sessenta janeiros no aparelho biológico, sempre guardou afeto e respeito especiais pelo neto, que lhe era inequivocamente o “preferido”, sem atinar para os liames profundos que lhes uniam os corações e espíritos imortais…

Familiares biológicos pelo espaço de três décadas, eram, antes desse interlúdio de tempo, familiares do espírito e, por isso, continuam sendo íntimos amigos e irmãos, eternidade afora… Neto da reencarnação passada, filha d’outros evos… protegida de mim e de Bernardo, desde a Era pré-cristã…

(Texto psicografado em New Milford, Connecticut, EUA, aos 26 de novembro de 2014.)