Benjamin Teixeira
pelo
Espírito Eugênia.

Trabalho Tripalium[Instrumento de tortura, mas também ferramenta utilizada na agricultura da Roma Antiga, o “tripalium” (formado de “três paus”) deu origem – conforme estudiosos afirmam – ao verbete em Português “trabalho” e sua forma verbal “trabalhar”. Isso revela o quanto temos de impregnações emocionais negativas em torno do conceito e como precisamos reformá-lo, consoante a Autora Espiritual sugere, apontando para a ideia do “ócio criativo”, proposta pelo sociólogo do trabalho, o italiano Domenico De Masi – foto abaixo.]

Prossigamos fazendo o nosso melhor, todos os dias. O trabalho é nossa enxerga de redenção (*), nossa ferramenta para a lapidação da própria glória! Devotando-nos ao trabalho, tudo lograremos conseguir, em nome de Deus, a nosso e a benefício de nossos irmãos em humanidade. Não o trabalho mecânico tão-só, não a tarefa monótona, desempenhada sem pensar e sentir, e sim: o empenho profissional lúcido, a pragmática do labor nos momentos de lazer, no campo indicado pela própria vocação – então, teremos instrumentais suficientes para lapidar nossas almas e conduzir nossos destinos, na medida em que isso se faz possível, o que, basicamente, não significa mudar, mas plenificar a sina que nos cabe, concretizar nosso projeto de vida, estejamos dentro ou fora de corpos físicos.

Se nos colocamos, com disposição, na “roda da fortuna” da aplicação justa ao melhor, o que mais não poderemos fazer? A roda da fortuna é “a roda da fortuna da melhor realização em alinhamento com Deus e consigo mesmo”. Logo, inclui as práticas da oração, da meditação, do planejamento. Não nos é cabível qualquer ordem de relaxamento também no quesito intelecto-moral. Preguiça de fundo psicológico, de não fazer esforço por planificar tarefas e estudar estratégias de eficácia e eficiência, está inclusa no feixe de males que consideramos “ervas daninhas a serem extirpadas”.

Começou-se a ter a clara noção, na hodierna cultura do domínio material de vida de nosso planeta, de que não trabalhar é tão vicioso e letal quanto ingerir substâncias tóxicas ou venenosas ao organismo. Os dados coletados por grandes seguradoras são bastante reveladores: o alto índice de mortalidade nos dois anos subsequentes à “conquista” da aposentadoria, entre aqueles que não se aplicam a outras atividades que lhes propiciem a autorrealização, evidencia que o ser humano foi projetado para ser útil, para produzir e se tornar instrumento de Deus, a serviço do bem comum, de seu semelhante, de si mesmo.

Liberte-se, amigo(a), de qualquer ilusão de “menor esforço”. Não se permita hipnotizar pela sanha sedutora das facilidades, da era da internet, do computador, dos eletrônicos, do controle remoto. Esta é uma época de abundância, mas também de aplicação multidimensional a novos âmbitos de ação e, por conseguinte, de utilidade ao bem geral. E isso não é mau: é excelente! A máquina não veio liberar o ser humano do trabalho, e sim dispensá-lo de serviços braçais, não-inteligentes e desumanos, para que possa se dedicar à produção de cultura, arte, solidariedade, misticismo, política, religião – atividades relacionadas a julgamento, criatividade e especulação filosófica.

Trabalho Domenico De Masi

[Domenico DeMasi (1938 – ), o autor de “O Ócio Criativo”. Ele trabalha mais de 12 horas por dia e dorme apenas 4, mas é pai de uma das mais revolucionárias e práticas ideias sobre o trabalho na atualidade, que envolve a relativização da agenda profissional, em função do prazer e do aprendizado que se obtém através dele. Paradoxal a princípio, genial e didático logo se começa a estudá-lo, De Masi é muito citado pelo Espírito Eugênia, pela originalidade e inteligência de que se reveste, bem traduzindo conceitos do Plano Sublime para o domínio físico de vida em nosso globo, ele próprio um mestre da Espiritualidade Superior reencarnado para ensinar as multidões a contextualizar melhor o que seja o trabalho em suas vidas.]

O Propósito da era das máquinas “inteligentes” – conforme delegação e autorização Divinas – jamais seria nos fazer resvalar para uma civilização de ócio. Isso constituiria a sentença de morte de nossa espécie sobre o orbe. O conceito recém-celebrizado de “ócio criativo”, como caminho único para a excelência profissional, é, igualmente, sintomático desta nova fase civilizacional que se inicia: só usufruirá de recursos para destacar-se em sua área de especialidade o profissional que se sentir ocupado em trabalhar, aprender e se divertir simultaneamente, porque logrará estar aplicado, com a energia de quem se sente apaixonado e não conta o passar das horas, enquanto os concorrentes não-vocacionados jamais conseguirão atingir o mesmo teto de horas-trabalho-com-rendimento-ótimo, ou então cairão esgotados, com a saúde arruinada.

Trabalho, trabalho, trabalho! Esta pode ser vista como a nossa grande meta, no que concerne a disciplina diária, a método de realização e transformação de nossas vidas, como uma tapeçaria em constante confecção, porquanto, seja o trabalho das preces e da meditação, que nos conectam a Deus e Seus Representantes; seja o labor do intelecto, que nos impele a procurar nos atualizar, absorver sabedoria e aplicar-nos a pensar corretamente; seja ainda a labuta emocional-física, que nos favorece a interação social e a aplicação do tempo a funções justas, no seio dos esquemas da cultura em vigor de organização do mercado de trabalho em que estamos inseridos, será sempre no trabalho, e não no descanso excessivo ou no descaso irresponsável, que encontraremos meios para a consecução do extraordinário, e para a sensação íntima, intraduzível, intransferível e inapreciável de intuirmos estar fazendo o melhor ao nosso alcance, cumprindo, destarte, plenamente, a missão que nos foi designada pela Divina Providência.


(Texto recebido em 10 de agosto de 2009. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Eugênia utiliza um termo que significa cama rústica e pouco confortável, indicando como devemos entender o trabalho. Pode ser a mais ascética e mais nobre forma de descansar – conforme reza o ditado popular do Nordeste: “Descansar carregando pedras”. Por outro lado, prosseguindo na escolha vocabular primorosa da parte da Autora Espiritual, o que de melhor nos pode redimir de culpas ou faltas pelo mal de antanho senão a prática sistemática do bem hoje… e para sempre?

(Nota do Médium)