Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.



O amigo desprezou-o, de forma agressiva e delirante, mais uma vez? Lógico e esperável. Que agora você esteja convencido de que não pode forçar intimidade com quem não tem estrutura psicológica e moral para estar na sua intimidade. Você pode ajudar à distância, sem precisar comer no mesmo prato com alguém. Quem recebe um amor que não compreende, acaba cuspindo no prato que come, como se diz no expressão popular. Não tendo condições de apreciar o valor do que recebe, age como o troglodita que, provando um prato de comida francesa, cuspiria como veneno impalatável a iguaria preciosa. Lembra isto também a passagem evangélica em que Jesus diz: “Não lanceis pérolas aos porcos, porque, após calcarem-nas na lama, lançar-se-ão contra vós.” Você acaba de perceber na prática esta tese do Cristo. O beneficiado, que deveria chorar de gratidão, surta de raiva, como se ele fosse o concedente cansado e não o concessionário ingrato dos benefícios. Os papéis se invertem e, por não admitir-se tão ingrato (porque não suportaria a culpa), comete, ironicamente, ingratidões progressivamente maiores, delirantes e totalmente injustificáveis.

Quanto à neurose dele, é facilmente decodificável: sem se dar conta disto, ele está acostumado a ser mal-tratado, e, assim, quando se viu super-valorizado, ligou seu sistema de defesa egóico a ataques, um irônico mecanismo auto-destrutivo que o leva a confirmar sua fantasia inconsciente de que todos são ameaçadores, principalmente aqueles que dão provas dramáticas do contrário. Por outro lado, como um don-juan consumado, invariavelmente trata bem apenas quando quer seduzir alguém, seja por interesse sexual ou profissional, mas, à medida que a pessoa fica próxima e a conquista se mostra realizada, passa a destratar, humilhar e tiranizar, assim como sempre fez com suas namoradas (as maduras se afastaram) e como faz com todas as pessoas que mais o amam, no seio da família mais próxima. Deste modo, repelindo as pessoas emocionalmente saudáveis e que de fato o amam, mas que não estão sujeitas a jogos de crueldade emocional, acaba ficando cercado apenas daquelas que, após terem se rendido à sua sanha de sedução-ataque, de fato são pessoas que o desprezam, ou são imaturas e ego-centradas como ele, ou que o tratam da mesma forma narcísica e perversa.

Apesar de muito querer bem, afaste-se sem a menor partícula de remorso. Você, inclusive, demorou, perto dele, muito mais tempo do que necessário para se convencer de que não havia condições de continuidade dos laços íntimos. Não se sinta responsável pela loucura alheia. Como sempre deu o seu melhor, por todos os ângulos de observação, você só tem darma. E ele, que em vez de se sentir agradecido, supunha-se salvador, e um salvador tirânico, terá que amargar agora sua realidade, até que amadureça o suficiente para valorizar o que menoscabou. Enquanto isto, você continuará cercado de amigos, progressivamente mais maduros e lúcidos, saudáveis e amorosos, já que, por lei de afinidades, amando sinceramente como você ama seus amigos, atrai outros tantos, com o tempo cada vez mais se afinando com seu padrão de onda mental, naturalmente repelindo, de reversa maneira, aqueles que não se coadunam com essa freqüência de vibração espiritual. Sua biografia pessoal tem mostrada a validade inconteste desta tese e já hoje se vê cercado por uma pequena plêiade de companheiros e cooperadores leais e sinceros.

É claro que ele vai lançar a culpa em você. Seria doloroso demais admitir que o mal estava nele, que ele foi incompetente para receber amor genuíno. Tão focado em si mesmo, nem se deu conta do quanto tudo você fazia pensando nele, passando por cima de suas próprias necessidades, espelhando em você o egoísmo delirante de que é escravo. Mas, tudo bem. A dor que ele vai sentir, ainda que amenizada pelos seus mecanismos de racionalização de culpa, mascarando-a de raiva, far-lhe-á refletir, ainda que precariamente, sobre o necessário a aprender para ser feliz e valorizar os próximos amigos no futuro. Mas, de sua parte, dê-se por feliz por ter sido libertado de seus tentáculos infantis, mas sombrios, e poder usufruir o amor e a luz de outros afetos, outros amores, outros amigos, outros caminhos de serviço, de realização e de felicidade.

(Texto recebido em 18 de agosto de 2005.)


(*) Após a conversa íntima que travo com Eugênia todos os dias, normalmente após o meu culto do Evangelho das 14 horas, pediu-me a doce e sábia mentora que recebesse Temístocles, a falar de relacionamentos e rupturas necessárias, da perspectiva pragmática, embora espiritual, de um mentor masculino. Algumas idéias já expressas neste site, outras novas. De qualquer forma, um novo arranjo, interessante e sábio, de conceitos aplicáveis ao dia-a-dia, nesta área tão delicada e complexa da existência humana.

(Nota do Médium)