Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Existem três dimensões factuais, e não apenas uma, aquela que é domínio do fato científico: objetiva e, normalmente, material. Existem outras diemensões da realidade, tão concretas como aquela abordada pela ciência e, em muitos aspectos, mais “concretas”, se considerarmos, como concretude o grau de “certeza” e de “imutatilidade” de sua existência.

O fato científico é numericamente extenso. Há fatos científicos, ou material para se converter em fato científico praticamente ao infinito. Onde houver objeto de estudo para análises químicas, laboratoriais ou matemáticas, haverá fato científico a ser observado, analisado e arquivado como conhecimento adquirido.

As duas outras dimensões do fato, porém, não são objetivas, nem sequer materiais. Trata-se de áreas de subjetividade intrínseca e inevitável: o fato filosófico e o fato religioso, nesta ordem respectiva de progressão no nível de abstração, e de subjetividade, portanto, de seus conteúdos, tanto é que, para mentes menos argutas, o fato religioso soa risível, por sequer parecer factual.

A abstração, a capacidade de apreender o intangível, a aptidão para elaborar idéias, sem imediata correspondência com objetos concretos no mundo material, indica uma maior complexificação e desenvolvimento da consciência, bem como dos instrumentais de análise e de síntese da mente, a serviço da consciência. Todavia, no que concerne aos dois últimos domínios da realidade, há muito mais necessidade de percepção sintética ou intuitiva do que analítica, dada a abrangência, profundidade e complexidade de dados, implicações subliminares, assim como de intrincações, combinações e entrecruzamento de dados e diversos patamares paralelos de realidade. Quem quiser analisar o filosófico ou o religioso, ou seja: utilizar as ferramentas de pesquisa da ciência para perscrutar os domínios da filosofia e da religião está agindo tão estupidamente, como um microbiologista que resolvesse usar um microscópio para estudar as estrelas. E deduzir que os astros e toda a realidade macrocósmica estudada pela Astronomia e suas ciências correlatas não existem, porque não são passíveis de estudo por um microscópio é equivalente a dizer que as matérias de estudo da Filosofia e da Religião são fictícias, apenas porque não se submetem a retortas de laboratório ou tabelas estatísticas. As sumidades do mundo científico que empavonam-se para dizerem-se atéias ou descrentes de raciocínios pouco mais complexos do que cálculos matemáticos precisos não estão indicando inteligência excepcional, mas justamente o reverso: pobreza conceitual, e baixa capacidade de elaboração de idéias complexas.

Muito grosseiramente, apenas em caráter propedêutico, pela extensão do tema, reunimos, no âmbito do filosófico que aqui anunciamos, na acepção denotativa do vocábulo filosofia, em sua origem etimológica grega, (isto é: amor à sabedoria) alguns sub-domínios que, num estudo mais amplo, mereciam ser dissecados isoladamente: 1) fato filosófico propriamente dito, 2) fato cultural, 3) fato social, 4) fato artístico, 5) fato psicológico. Alguém de sã consciência poderia negar qualquer dessas dimensões da realidade, por não se enquadrarem nos modelos científicos vigentes de forma perfeita? Alguém duvidaria da existência da Economia, apenas porque não se pode tocá-la ou sujeitá-la a análises precisas, previsíveis e reproduzíveis com perfeição? Alguém vai discutir a existência do amor aos filhos e à família, do ideal da própria Ciência, do amor à pátria, a uma causa humanitária ou a existência bem perceptível, na experiência do ser humano, de todas as degenerescências da mente, das neuroses mais brandas, às psicopatias mais graves, que incluem assassinos seriais e tiranos genocidas terroristas? Será que aqueles que tentam reduzir toda a complexa realidade humana a meros fenômenos bioquímicos no cérebro não percebem a estultícia inominável que propõem e perpetram, assim como faria aquele que reduzisse o ser humano e toda a sua mirífica e inextricável capacidade de vivência emocional, mental, espiritual e até mesmo física, a órgãos vivissecados em laboratório? Não lembra essa atitude esquizóide e pateticamente arrogante da ciência moderna, o surto de Nero, ao mandar estripar a própria mãe, para ver de onde ele veio ao mundo? A arte, o folclore, as tradições culturais, a literatura, as artes plásticas, a arquitetura e o cinema, os sentimentos, as angústias, a sabedoria dos grandes sábios da humanidade, os grandes mestres axiais, luminares e construtores de civilização – tudo isso poderia ser reduzido a meros elementos de programação genética? Oh, sim: isso é tão possível e inteligente, como dizer que todas as melodias estupendas e magníficas criadas pelo gênio musical humano podem ser compreendidas, ao observarmos, fria e isola e tão-somente, as sete notas musicais. Somente alguém que se aproxime da idiotia de um demente grave aceitaria tese tão tola e bestial. E, lamentavelmente, a cultura hodierna prestigia a mediocridade e a imbecilidade como pináculos da inteligência humana. Não são os grandes gênios que dizem obtusidades dessa envergadura: são mentes egóicas e rasteiras, mas presunçosas o bastante para se verem como ases do que não entendem e arrogarem-se no direito não só de opinar, como concluir de modo cabal sobre o que foge à sua capacidade de cognição. Podem, aqui ou ali, serem doutores em áreas muito estritas do saber humano, mas não têm aptidão nenhuma para as grandes apreensões de conjunto, que não são acessíveis a qualquer mente vulgar.

Encerrando, por fim, esse ensaio perfunctório sobre as dimensões do fato, a realidade subjetiva da Filosofia “latu sensu”, como colocamos acima, mais restrita em termos numéricos que o campo de estudo da Ciência, adstringe-se ainda mais, quando mergulha no campo transcendente do numinoso, o religioso em sua mais elevada essência, resumindo-se, emblematicamente, numa única realidade: o Criador. Há mentes simplórias e mesquinhas que pretendem negar essa Realidade Suprema. Não argumentaremos nada contra, porque padecem de bom senso. Supor que algo exista sem uma origem, aventar que o universo complexo como é seja fruto do acaso, à base de sofismas primários da especulação científica, denota uma mente suficientemente imatura para que nos mereça atenção. Assim, faremos como o catedrático que não dá aulas a crianças em processo de alfabetização, mas espera que elas estejam suficientemente preparadas para lhe assimilar os raciocínios, vinte ou trinta anos mais tarde. Neste caso, devemos esperar os séculos ou os evos, ou dores bastante acerbas para romper a crosta de estupidez e arrogância desses anões da inteligência, encastelados em tronos bizarros de autoridade. Após isso, então, poderemos voltar a lhes falar do que não podem, por ora, sequer suspeitar existir…

(Texto recebido em 30 de maio de 2004.)

(*) Estava ao volante, no trânsito, à noite, quando, conversando à distância com a grande mentora espiritual Eugênia (quem quiser ter uma idéia do processo imagine um sistema psíquico de telefonia celular, ou um chip telefônico implantado no cérebro e terá uma noção do que falo), começou ela a me falar sobre domínios, categorias gigantescas do fato. Achei muito interessante, e perguntei se ela poderia trabalhar o tema coletivamente, por escrito, dada a complexidade do tema, e ela anuiu, gentilmente. O prezado internauta pode estranhar a atitude incisiva e abordagem seca da doce e amável mentora espiritual, mas devem lembrar que seres de grande envergadura evolutiva são mais complexos do que concebemos, vulgarmente, e, com toda certeza, a grande mestra desencarnada jamais se enquadraria no esteriótipo da “mãezinha boazinha”. Amor não significa melifluidade. Eugênia pode ser, em muitos momentos até: doce, mas não é, como se diz no vernáculo: “fresca”, nem “tola”. A grande inspiradora dos gênios da Grécia Antiga deixa entrever um pouco de sua grandeza nesse artigo rápido e despretensioso, mas profundo e lúcido o suficiente para abalar as estruturas de um “sábio” de nosso mundo acadêmico. A “dureza” de Eugênia, que chega ao ponto do sarcasmo em alguns momentos do texto, foi fomentada pela seriedade das implicações da temática, já que não têm sido poucos os milhões de vidas que têm sido amesquinhadas ou completamente perdidas pelos sofismas do materialismo. Neste momento, ela é o anjo-guerreiro, como o arquétipo do Arcanjo Gabriel inspira: protegendo, ferrenhamente, o patrimônio do espírito, dos corações, das almas, dos filhos de Deus, livrando-os da sanha assassina e diabólica da negação do ser… Seja bem-vinda, sempre, nossa sábia Eugênia. Que nos inspire a todos, sempre, mostrando-nos o caminho genuíno do saber e do viver sensatamente.

(Nota do Médium)