por Benjamin Teixeira.

Conduzido por Eugênia, mentalmente, a região de refazimento espiritual, estávamos confabulando com uma mãe desencarnada, enviando mensagem para uma filha já na terceira idade, ainda no plano físico, quando uma entidade de alta envergadura evolutiva, aparentando um homem adulto jovem, de barba negra alinhada e tez muito alva, em combinação perfeita com a túnica igualmente alvinitente que o encobria, surgiu no cenário bucólico em que estávamos, sob a sombra de árvores centenárias, provocando mesuras de reverência em quase todos os presentes. Tomando da palavra, transmitiu, telepaticamente (na verdade nem sequer abriu a boca), a mensagem que se segue:

Eu vim para que todos tenham vida – disse o Mestre. Viver incompletamente, portanto, é demonstrar não seguir corretamente os ensinos do Cristo.

Superemos preconceitos que nos tolhem a maneira de ser. Os modelos pré-concebidos de comportamento provêm do que homens no passado pensaram, julgaram, viveram. Cabe-nos, agora, oferecer o contributo pessoal à mente coletiva (chamada, no mundo material, de inconsciente coletivo), interagindo com ela, dando-lhe vida, renovando-a, ou estaremos fossilizando conceitos e nos cristalizando neles, quando a função da psique é dinamizar o inanimado, e não paralisar o que é vivo.

Todo estado psicológico depressivo ou toda iniciativa ou comportamento que a ele conduza não corresponde ao fluxo da Vontade de Deus.

Muita gente bem intencionada castra a alma, no intuito de se espiritualizar. Todo impulso mutilador, todavia, é frontalmente contrário aos ímpetos de vida do espírito, destarte comprometendo-lhe os processos de expansão e transcendência.

Em vez de se preocupar em ser correto, deve-se buscar estar em sintonia com o Fluxo da energia da vida, que pede integridade, completitude e paz.

Erasto.

Terminada a comunicação do grande mentor, Eugênia me levou a uma região de padrão vibratório similar, fazendo-me atravessar algumas belas planícies verdes. Um homem de meia idade, calvo, ligeiramente obeso, chorava, baixinho, com a testa apoiada sobre o cotovelo flexionado, apoiado sobre uma mesa rústica de madeira.

– Por que fui tão preguiçoso? Por que não fiz o que sabia ser essencial? Por que sempre adiei o inadiável? Por que sempre deixei para depois a realização de meu ideal?…

Aproximando-se dele, Eugênia acarinhou-lhe maternalmente a nuca, e ponderou:

– Isso vai passar… Não se preocupe. Outras oportunidades de realização virão…

Sem levantar a cabeça e nem sequer mudar o tom de voz, respondeu, ato contínuo, a entidade em profundo estado depressivo:

– Mas eu desperdicei as oportunidades do passado!… De que vão adiantar novas oportunidades agora? Uma enorme quantidade de pessoas sofreu por conseqüência direta de minha omissão… e isso não tem volta…

Afastando-se do ambiente, trazendo-me consigo, Eugênia, então, olhando-me firme no fundo dos olhos, disse:

– Há tragédias na existência humana, mas uma, dentre elas, é irreparável: a perda do tempo. Diga ao máximo número possível de pessoas que tudo pode ser perdido e recuperado, menos o tempo… que, uma vez perdido, não volta nunca mais…

Curioso notar, prezado amigo, cara amiga do Salto Quântico, que não se tratava de região astral de sofrimento acerbo ou de uma entidade perversa, desonesta e nem mesmo fútil. Mas um perfeito representante do que chamaríamos por aqui de homem de bem, e que, na verdade, negligenciara sua consciência em campos que só a ele competia lavrar. É um grave alerta para todos nós, porque esse tipo de sofrimento, considerado um dos maiores que podem existir no plano extra-físico de vida, a psicose pós-mortem, é estado terrível de candentes remorsos pelo desperdício de existências e ensejos preciosos de crescimento pessoal e realização pelo bem coletivo.

Claro que tudo pode ser compensado à frente, ressarcindo-nos por antigos equívocos. Todavia, o rastro de dor que tivermos deixado empós nossa passagem, por negligência ou atitudes indevidas, ainda que mais tarde sanemos, não se apagará jamais de nossas memórias espirituais.

Que tenhamos o máximo cuidado com a hora que passa: ela é única, em toda a eternidade…

Benjamin Teixeira
Aracaju, 29 de janeiro de 2001.