Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

 

Despreocupe-se um pouco do caráter “científico” de suas elucubrações. Experimente expandir sua mente. A vida é o que é, e está deitada num plano de complexidade inextricável ao nível cognitivo da psique humana. Assim, denegar o que está fora do próprio espectro de percepção e compreensão constitui um ato de extrema presunção e muita obtusidade. Os fenômenos da Natureza não podem ser submetidos, de modo absoluto, a esquemas arbitrários de interpretação e controle, como o ego-racional humano tanto se apraz em fazer. Preservar e desenvolver uma ótica existencialista para a observação e avaliação de todas as ocorrências da vida é de supina importância, porque desveste o observador de seus pressupostos de verdade, liberta-o de preconceitos e paradigmas inadequados para a leitura de acontecimentos novos, eis que baseados em fórmulas conceptuais construídas a partir de circunstâncias passadas e diferentes. Mister se faz elaborar e assestar, na observação do panorama da realidade em torno de si, uma perspectiva fenomenológica que não se preocupe com taxionomia de eventos, e sim com o fato de sua ocorrência em si.

Detêm indiscutível valor o exame aprofundado, a dissecação e classificação de um objeto de estudo, que levem não só à análise de causas, mas também à intuição de significados e propósitos. Etiologia e teleologia, como binômios inseparáveis do entendimento profundo a respeito de qualquer coisa, todavia, não esgotam a vasculha perceptiva desta mesma coisa. Imprescindível, para que se logre engendrar ilações mais completas e corretas, a mobilização das ferramentas da contemplação, da experimentação direta do tal domínio da realidade, porquanto favorecem a absorção e a incorporação, nos arcabouços da alma, de elementos novos à consciência, ao espírito que a experiencia. 

Um evento é o que é. Não é preciso que comprovemos a existência de algo que existe – ele, tão-só, existe: perfaz um axioma. Os estudos ulteriores quanto às propriedades e qualidades do processo, foco de nossa atenção, constituem outra dimensão de cogitações, que será secundária se os resultados colimados nesse esforço intelectual já estão sendo atingidos – aqueles, de ordem construtiva, pragmática e evolutiva, que se obtêm por intermédio do tal processo: um mais alto patamar de felicidade, lucidez, segurança e paz interior.

Recorde-se sempre do Algo Maior e Incognoscível, por detrás das vestes conceituais, pessoais – sejam de idiossincrasias mediúnicas e psicológicas, sejam de inclinações ideológicas e filosóficas. A realidade abstrata, por trás de uma “concretização” dela mesma, em termos de constructos conceptuais ou mesmo de artefatos lingüísticos, é o que realmente importa. O ser em si, e não as divagações sobre ele. A materialização do fenômeno em traje conceitual ou mesmo verbal empobrece-o, castra-o e, amiúde, desconecta o indivíduo exatamente do a que pretende remeter: o fenômeno em si mesmo (permitam-nos reforçar, didaticamente).

Associe sua fé ao fenômeno religioso ou espiritual que escolheu, como mote de suas reflexões de ordem escatológica, e saiba que, apesar de não lhe ser factível tornar tão seguro um conjunto de convicções, métodos e princípios relígio-filosóficos, é sempre possível e mesmo consiste num dever humano, para quem deseje alcançar a plenitude, o criar, manter e desenvolver um canal psíquico de comunicação com a subjacência inefável de Tudo, seja pela oração, pela meditação, seja por práticas místicas avançadas ou mesmo aquel’outras de ordem mediúnica. Não se pode negligenciar o recurso cultural ou pessoal de intercâmbio com a Esfera do Numinoso: Esta é essencial à realização plena do ser humano, como as próprias estruturas neurofisiológicas do cérebro o revelam, e como as evidências catalogadas por psicólogos, historiadores e antropólogos atestam, inequivocamente. Portanto, persista na sua utilização sistemática, de molde a criar uma conexão, uma comunhão com o Divino, fazendo, por conseguinte, espocar e desdobrar um serviço relacionado a tal sistema de fé.

Há uma inescapável inconsistência no pretender tornar concreto ou lógico o que, por inerência, é subjetivo e transcendente: o conteúdo das intuições, de intercâmbios psíquicos, de interfusões espirituais. As epifanias do transpessoal, as manifestações do eterno, no campo da realidade material, configuram um liame paradoxal e prenhe de ambigüidades intrincadas, já que implicam uma “descida”, aos proscênios da expressão factual-física, de Algo que pertence a uma esfera ontológica inteiramente distinta do domínio existencial do relativo, do egóico, do material, do espaço-temporal.

 

(Texto recebido em 22 de julho de 2008. Revisão de Delano Mothé.)