Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.

Onde estão as lindas mocinhas de cabelo montado da virada do século XIX para o XX que sorriam triunfantes para os retratistas da época, como ninfas imortais? E aquelas vedetes do cinema mudo americano, que esfuziavam tanta energia, que parecia que nunca deixariam a adolescência? E as divas dos primeiros filmes falados da História, que já viviam, naquele tempo, como se pertencessem ao Olimpo, eternizadas no formol das telas? E aqueles jovens que desafiavam tudo e todos, donos do mundo e da vida, sobre motos e com jaquetas pretas dos rebeldes anos 50? Quanto a estes alguns ainda estão vivos, passados dos 60 anos uns, dos 70 de idade outros, encarando a vida da perspectiva da finitude do corpo, mudados, alguns amargurados. Mas, quanto às anteriores… Todas convertidas em pó e em registros amarelados de História…

Se não houver vida após a morte, nada há que valha a pena, porque o que parece ser agora… não é que não será amanhã: já não é agora. O corpo se desfaz um pouco todos os dias, morrendo devagarinho, como nos revela a Medicina, e por mais que se intente deter o processo de degenerescência celular, mais cedo ou mais tarde, seu corpo se assemelhará à carne estragada do almoço da véspera.

Alguém pode conceber que o amor, as criações mais elevadas da arte e as concepções mais avançadas da filosofia, as descobertas extraordinárias da ciência e toda a civilização humana sejam mero epifenômeno de trocas bioquímicas e elétricas no interior do cérebro? Quem seria tão pouco inteligente para admitir uma idéia tola como esta?

Pense melhor, amigo, e coloque sua vida em função desse novo prisma porque, quando menos você esperar, o seu corpo, que você cuida com desvelo, na academia de musculação, e em que põe, diariamente, cremes caríssimos anti-rugas, estará apodrecendo, da mesma forma que carne velha em açougue; assim como sua conta bancária e seu patrimônio longamente amealhados passarão, totalmente, para outras mãos, sem qualquer consulta a sua pessoa; e até mesmo seus títulos e o nome que houver feito, com trabalho laborioso de toda uma vida, caso tenha muita sorte, estarão registrados, como notinha de roda-pé em algum livrinho de história…

É isso que você quer? É isso que você é? Tão pouco?
A vida, é claro, não pode se resumir às vaidades vãs e bagatelas risíveis da condição material. Há algo além disso e somente isso faz sentido e somente por isso vale a pena lutar, porque somente isso também pode trazer verdadeira felicidade ao ser humano.

Conquiste os valores do espírito. Desenvolva sua inteligência, seus juízos de valor. Adquira sabedoria e virtude. Seja bom e viva os seus relacionamentos interpessoais, com a máxima intensidade que puder. Somente isso ficará… para sempre… O resto… será perdido, na poeira do tempo… como um nada que será… como um nada que já é…

(Texto recebido em 1º de fevereiro de 2003.)