Benjamin Teixeira de Aguiar,
em diálogo com o Espírito Eugênia-Aspásia.

(Benjamin Teixeira de Aguiar) – Adorada Eugênia, Chico Xavier costumava se assumir como um espírito cheio de defeitos, o mesmo acontecendo normalmente a almas santas da hagiografia católica. Essa lucidez autocrítica era, indiscutivelmente, um sinal de maturidade psicológica e espiritual, bem mais avançadas que as encontradiças no ramerrão da massa ignara e insensível. Entretanto, quanto mais esses seres especiais se apresentavam falíveis, mais lhes eram imputados erros inomináveis, como se constituíssem caracteres deformados, em situações que degringolavam, frequentemente, para perseguições medonhas, quase inacreditáveis. Você poderia lançar alguma luz sobre esse fenômeno tão recorrente na história das mulheres e homens santos do planeta?

(Espírito Eugênia-Aspásia) – Sem dúvida que posso, sob inspiração Maior, tentar oferecer alguma elucidação. O cerne da questão está no ego humano. O ego é um sistema de defesa que não se sente confortável em admitir algo superior a si. Logo, procura encontrar falhas em tudo que se lhe afigura mais desenvolvido, a fim de não sentir o seu valor próprio diminuído.

No que tange, em particular, ao nível médio de evolução humana na Terra de hoje (valendo, ainda mais, este raciocínio para eras prístinas), há uma tendência a que o indivíduo considere as falhas em si mesmo como processos compensatórios naturais, interpretando, por exemplo, o orgulho à conta de amor-próprio, o ciúme na condição de zelo e perspicácia, a ambição como desejo de progresso etc. Quando essas criaturas dominadas pela faixa egoica de consciência (ainda que sejam sumamente inteligentes, no âmbito lógico-racional) ouvem alguém dizer-se prenhe de imperfeições, imediatamente supõem que os deslizes e falhas dessa alma em processo de santificação devem ser bem mais feios do que o declarado, já que tais observadores apressados costumam, consciente e/ou inconscientemente, supervalorizar as próprias qualidades e minimizar as deficiências que portam. Imaginam, então, cenários patéticos de falsidade e engodo, compreendendo a virtude do ser que lhes está à frente, no carreiro evolucional, à guisa de um simulacro de moralidade, forjado no intuito de obter respeito, admiração e até submissão de terceiros ao talante de caprichos pessoais inconfessáveis.

Com esse padrão truncado de interpretação instalado na mente, como uma das formas mais hediondas de preconceito, essas psiques incautas vulnerabilizam-se a toda ordem de assédio espiritual de agentes do mal, interessados em destruir o projeto evolutivo da personalidade que lhes é foco da sanha de ataque gratuito. Destarte, obsessores desencarnados potencializam-lhes a fantasia sobre-excitada, conduzindo-as a baixadas progressivas de injustiça, ingratidão e, amiúde, calúnia e processos vergonhosos de acusações dissimuladas, lançadas contras as nobres almas que desceram ao domínio físico de existência no planeta para acelerar o amadurecimento de seus irmãos mais novos em humanidade.

Nem de longe poderiam imaginar os detratores de Chico Xavier, por exemplo, que o médium genial, mirando-se no exemplo de mártires e figuras venerandas do Cristianismo primordial, estaria, em verdade, se cobrando um patamar mais alto de martírio pessoal, pelo bem comum, de devotamento ainda maior à Causa que abraçara desde a juventude, com total sacrifício de si mesmo – a de difundir os princípios de imortalidade da alma e de comunicação com o Mundo Espiritual, confortando e esclarecendo milhões de encarnados e desencarnados, no correr de décadas sucessivas. Nada, portanto, tendo a ver com os jogos vis de disputas intestinas de poder, prestígio e posse, eivados de inveja, ódio e ímpetos de vingança, entre manobras de crassa política religiosa e social, além de outras posturas abjetas que, lamentavelmente, ainda são comuns no orbe terreno – exatamente o que os adversários da Luz pensavam sobre os seres de escol que lhes eram alvo da malícia enlouquecida. Desassisados, deveriam respeitar e reverenciar o progresso bem mais adiantado desses espíritos envelhecidos na ascese evolutiva, para que então pudessem se beneficiar com sua presença, seus exemplos e ensinamentos.

No entanto, os inimigos do bem querem apenas ver, como pano de fundo das atitudes heroicas das almas santas, suas próprias impressões de vaidade e competição reptiliana, pelo poder, pela riqueza, pelo status, porque, simplesmente, não conseguem conceber ninguém movido, realmente, de modo predominante, por impulsos altruísticos e de sincero e profundo idealismo.

Ai daqueles(as), porém, que caírem nesse grave desvio de rota evolucional, porquanto terão que pagar alto preço pelo bem que poderiam favorecer a si próprios(as) e a outras pessoas, em efeito dominó, sem contar o peso cármico do mal propagado, por trabalharem contra um representante do Plano Sublime de Vida. No capítulo 3° do Evangelho de Marcos, temos uma pálida ideia da extensão desse equívoco seriíssimo, para a ótica das Alturas Celestiais, conforme os dizeres de Nosso Senhor Jesus, lá exarados: “uma blasfêmia sem perdão”.

(BTA) – Mais algo a dizer sobre a temática, Eugênia?

(EEA) – Cada um procure verificar a que grupo evolutivo pertence. Em seguida, busque se encaixar à sua “equipe existencial”, comprometendo-se com a função que lhe cabe desempenhar na orquestração de trabalhos a serem desdobrados. Em serviço, que todos ajam com respeito inclusive às limitações de seus “colegas de evolução”, colaborando, em vez de atacar, sobretudo no que se refere ao trato com as lideranças encarnadas desses aglomerados de todos os departamentos da ação e do saber humanos. Ninguém faz nada só, nem mesmo as almas santas e os gênios excelsos. Basta que nos lembremos de Jesus, buscando doze homens simples para auxiliá-l’O a resgatar o mundo inteiro das trevas da ignorância e do desamor. Todo ente encarnado tem uma tarefa a cumprir, numa obra pelo bem comum, que quase sempre transcende em muito suas condições pessoais de realização.

Devemos, assim, buscar a nau em que devemos trafegar, nos bravios mares da existência carnal, e, reconhecendo o(a) capitão(ã) do navio, comprometermo-nos com o serviço a que devemos nos dedicar, sob a batuta desse(a) chefe(a) existencial provisório(a). Decerto, tanto a atividade quanto eventualmente a própria embarcação mística e seu(sua) condutor(a) encarnado(a) podem ser modificados(as), no transcurso de uma vida. A questão é que, comumente, processos de deserção se dão camuflados de mudanças audazes de destino, assim como, de reversa maneira, paralisias indesculpáveis acontecem, entre aqueles(as) que precisariam atracar em determinado porto para tomar outra nave, mas se esquivam ao esforço de melhoria pessoal, por medo do desconhecido e das novas responsabilidades que lhe são correlatas.

(BTA) – E como identificar tais “embarcações” ou missões, quanto também seus(suas) “capitães(ãs)” ou líderes, Eugênia?

(EEA) – Todos(as) que o quiserem sinceramente, ouvindo a voz do coração, de sua consciência, intuem facilmente a que foram chamados(as). Não há outra fórmula a apresentar que não seja a escuta criteriosa da própria intuição e dos reclamos da vocação – que muito diferem das vozes mesquinhas do superego, do moralismo social e culturalmente imposto, das defesas egoicas e dos impulsos de poder e destaque pessoais.

(Diálogo entabulado por psicografia, em 9 de agosto de 2013.)