Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

“A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe.” (Mateus, 2: 10-11)

Quando encontramos o caminho da verdade, a verdade pessoal que a cada um nos afeta, sentimos o coração repletar-se de alegria, uma alegria indescritível, mas que nos cala fundo, fazendo-nos sentir haver encontrado o propósito da vida.

Ao perceber esse caminho vocacional, não devemos tergiversar ao impulso de seguir o chamado de Deus e, seguindo a Luz da paz e da alegria que são sinais do Criador para nossas almas, adentremos a “casa” das edificações seguras, da realização do melhor: esse da vocação que sabemos traduzir a razão de estarmos vivos, de estarmos numa dada encarnação física. O nosso ideal pode ser menino como o Jesus-bebê, mas, se colocarmo-l’O nos braços de nosso devotamento, qual a Mãe Mística Maria, lograremos o êxito esperado de ver nosso Jesus-Menino-interior convertido em Cristo-Salvador.


Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não pudessem apresentar-lho, por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar, onde Jesus se achava e, por uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico. Jesus, vendo-lhe a fé, disse ao paralítico: ‘Filho, perdoados te são os pecados’.”

(Marcos, 2:3-5)

Se prestarmos atenção cuidadosa, notaremos que Jesus homenageia o paralítico, como se o esforço de ser conduzido até seus pés fosse seu e não de seus quatro amigos, que destelharam a casa e o depuseram aos pés do Cristo. Fica claro, assim, como já dissemos anteriormente, que se trata de um estudo simbólico que traduz todos os personagens como aspectos do mundo interior de cada indivíduo, e que os “quatro amigos”, em verdade, representam parte da própria psique do paralítico. Ele, assim, apesar da “multidão” de seus desejos, contradições, neuroses, carências e anseios, fez-se “subir” (transcendeu o caos interior) e chegou ao Cristo Interior.

Paralíticos somos todos nós, que carecemos de energia espiritual, para andar com as “próprias pernas”, nas veredas do espírito. Paralíticos somos todos nós, cada um em sua área específica de limitação ou carência, torpeza ou viciação. Paralíticos somos todos nós, quando nos dirigimos, almas de evolução precária, a Deus e os Astros-Reis espirituais, como o Cristo, que O representam para nós.

Na psicologia de profundidade, detecta-se, na quaternidade, o símbolo da completude. Quando descobrimos quartetos alegóricos, na interpretação dos sonhos ou de demais conteúdos da mente, como o resultado de transes imagéticos (*) ou mesmo mediúnicos, travamos contato, pelo estudo dos arquétipos, com a Força da Totalidade do Eu, o Centro, o Núcleo mais profundo de nossa própria individualidade, que, por isso mesmo, leva-nos a contactar mais diretamente as Potências Divinas, que com esse Eu-Interior se sintonizam.

A grande questão, assim, para transcendermos nossas limitações, e encontramos não só nosso Eu-Divino, mas ao próprio Criador ou Seus representantes, como Jesus, é descobrirmos o propósito central de nossas almas, a estrela a que fez alusão Mateus, e que estacou acima de Jesus-Menino.

O bebê e o paralítico são símbolos de nossa limitação espiritual, do quanto nosso Eu-Melhor é frágil e imperfeito. Mas, os Evangelhos, em nome do Mestre Jesus, alertam-nos sobre o que devemos fazer: cuidar de nosso ideal, com o zelo de Mãe, como asseverou Mateus, e ser decididos, como os “quatro amigos” do paralítico, na narração de Marcos, que superam obstáculos para ser resolutivos e atingir um objetivo maior. Feminilidade e masculinidade, maternidade e paternidade interiores, a velarem, em conjunto, pela consecução do objetivo magno da vida: a conexão com o Cristo Interior e com Deus que por Ele se manifesta.

(Texto recebido em 24 de março de 2004.)

(*) Eugênia faz alusão à “imaginação ativa”, técnica de contato sistemático com o inconsciente, da psicanálise jungiana, mas também, amplo sentido, a todos os conteúdos “idéicos” que saltam à consciência, como, por exemplo, os “lapsos lingüísticos” e “atos falhos” de um modo geral, da conceituação freudiana, que representam elementos que afloram espontanemente, do inconsciente para a mente de vigília.

(Nota do Médium)