Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Confundida, por muitos, com a busca da felicidade, a perseguição das almas gêmeas é motivo de angústia e mesmo desespero para milhões de criaturas, em toda parte do planeta.

Lamentavelmente, porém, as almas irmãs de nossa alma não costumam estar em corpos esculturais e jovens, encimados por lindos e cintilantes olhos azuis. Amiúde, o professor parrudo e a vovozinha semi-decrepta podem ser visitas de anjo em nossas vidas, amiúde desprezadas, por não estarem vestidas de corpos apolíneos e venusianos. As almas gêmeas de nossa alma são aquelas que mais sintonizam com nossos ideais, nosso modo de ser, de interpretar o mundo e, principalmente, aquelas que possuem especial capacidade de catalisar os potenciais adormecidos em nossa psique. Portanto, nem sempre estão entre as pessoas que nos atraem fisicamente, mas invariavelmente entre os que nos tocam o coração.

Obviamente que existem as relações afetivas extraordinárias, e que todos têm o direito de buscar romantismo e mesmo paixão para suas vidas sexuais, mas que não se perca de vista o essencial, ou essa mesma ventura afetiva será inviabilizada.

Primeiro, porque só atraímos o que somos ou o que precisamos experienciar. Se uma pessoa, portanto, estiver desalinhada de seu centro, se estiver desajustada ou descompensada, vai arrastar, em sua direção, uma personalidade igualmente problemática, para duros embates de amadurecimento recíproco.

Por outro lado, se alguém busca compensações na vida afetiva para frustrações na área profissional ou espiritual, criará expectativas exageradas para a harmonia e ventura conjugais, favorecendo a sua destruição. Vida afetiva não só nunca é perfeita, como traz, fatalmente, seus conflitos e desafios próprios, também eles promotores de crescimento, mas tão ou mais desgastantes que os profissionais ou religiosos.

Por fim, para que você realmente encontre a pessoa mais próxima do ideal para as atuais necessidades e tendências evolutivas, ou, em outras palavras, aquela que, por se encaixar apropriadamente à completude de sua natureza, faça você feliz, considere alguns tópicos:

1. A pessoa deve ser sua amiga. O cônjuge deve ser seu maior ou um de seus maiores amigos, ou, é lógico, não pode ser seu parceiro mais importante na vida.
2. Valores, objetivos de vida, interesses culturais, políticos e religiosos devem ser similares ou, no mínimo, compatíveis.
3. Personalidade e defeitos do outro, maneirismos e manias devem ser toleráveis para você, tanto quanto os seus para ele.
4. Deve haver respeito, confiança e admiração mútuos.
5. Por fim, deve haver o item de atração sexual, e de satisfação em se estar fisicamente perto do outro. Há pessoas, por exemplo, que se atraem, mas sentem, ao mesmo tempo, asco do parceiro – isso é extremamente negativo, indicando conflitos inconscientes profundos, alguns inconciliáveis.

Para concluir e facilitar sua busca e o desenvolvimento constante de sua relação afetiva, entenda que ela é um processo contínuo de auto-aprimoramento e de aprendizado, que não se deve esperar muito do outro nem de si mesmo, que se deve ter prazer em fazer o outro feliz, para que se possa ser feliz por conseqüência, sem medir, jamais, quem faz mais ou menos, porque, inclusive, normalmente, é muito melhor dar do que receber e cobrar não só não aumenta o que se recebe, como se bloqueia ainda mais o pouco que se recebia.

Por fim, o amor é fundamental, mas não se esqueça que a vivência afetivo-sexual é apenas um aspecto da experiência do amor e que há outros tantos a serem vividos, para uma vida emocional rica e completa, como a relação com amigos, familiares, companheiros de ideal político ou religioso e colegas de trabalho. Mesmo porque, quando não se tem um leque de relações interpessoais extenso,costuma-se sobrecarregar de pressões, cobranças e expectativas o relacionamento a dois, diminuindo as probabilidades de sucesso na empreitada amorosa.

A vida afetivo-sexual, caro amigo, prezada amiga, é das mais enriquecedoras vivências que se pode ter na existência humana. É nela que os embates do poder, do ego, do desejo e da posse são levados às raias do limite, assim como o afeto, a partilha e a entrega, chegam às suas expressões máximas. Portanto, não conte só com prazeres, em experiência tão complexa, e assim se introduza nesse capítulo da vida, com espírito de aventura e de aprendizado, para que, inclusive, dentro do possível, seja realmente feliz.

(Texto recebido em 2 de agosto de 2002.)