Benjamin Teixeira
pelo espírito
Roberto.


Você pensa que estamos distantes. Supondo-nos vagas “realidades” de um mundo longínquo e abstrato, não percebe a dimensão da contradição em que incorre. Não pode haver “vaga realidade”, tanto quanto seria absurdo dizer-se uma jovem “ligeiramente grávida”, conforme o chiste espirituoso e hilário da antiga canção popular brasileira.

Destarte, como Inteligências libertas do corpo físico, podemos sofrer uma série de problemas na comunicação com o mundo dos vivos na matéria, mas a falha nos instrumentos de captação não atesta a inexistência da comunicação, ou da tentativa de comunicação, e muito menos da realidade de um eventual comunicador.

Você se exaspera, por não poder tornar positivável a mensagem que lhe transmitimos, mas deve saber que médium não constitui telégrafo, nem é nossa intenção fazê-lo de. Muito menos é finalidade do intercâmbio mediúnico produzir espetáculos de precisão informativa, qual se estivéssemos numa oficina de eletrônica, acertando e testando circuitos integrados.

Por favor: acorde, amigo. Nossa missão é a moralização, a espiritualização, a plenificação do ser humano, e, sendo assim, não nos podemos dar a jogos de adivinhação, perdendo tempo e energias preciosas, que podem e devem ser canalizados para funções prioritárias e de grave relevância, como o despertar das consciências em nível mais alto de percepção e valores.

Da próxima vez, assim, que nos estiver abordando, qual se fôssemos baratas de laboratório a serem analisadas e dissecadas, não se surpreenda se lhe respondermos com um gélido silêncio. Além do quê, não pode aventar você responsabilidade e critério científico em pretender buscar evidências da existência de nossa dimensão. Seria o equivalente a alguém que, ao reverso de se matricular em um curso de Geografia, resolvesse-se por verificar, “in loco”, pessoalmente, todas as teorias básicas desta Ciência, como a de que a Terra tem uma forma aproximadamente esférica. Que tal alguém se lançar a uma viagem marítima de caravela, só para ter a experiência direta de Colombo, em vez de investir tempo no estudo de mapas, livros e vídeos produzidos a partir de dados coletados de órbita da Terra?

As documentações mediúnicas são numerosas, detalhadas, e não se restringem ao âmbito científico, perdendo-se em evos remotos da humanidade e constituindo produtos de manifestações de uma das potências da mente humana, como corroboram a Antropologia, o Estudo Comparado das Religiões e a Psicologia Transpessoal. E se estes recursos informacionais já existem, inclusive o conhecimento de que inspiração pode ocorrer, independentemente da extensão fenomenológica da sensibilidade extra-sensorial de um indivíduo, por que não se preocupar com o essencial, os magnos objetivos do processo, e não com meandros do mecanismo, completamente desimportantes? Não seria isso tão estúpido quanto abandonar o computador, para reinventar a escrita, a fim de obter “experiência pessoal”? Não seria mesmo tornar inúteis o esforço de gerações sucessivas e as conquistas acumuladas de toda a civilização? Não se recuse, sendo anão, a se colocar sobre os ombros dos gigantes de ontem, porque não só deixará de ver o que viram, como também estará invalidando o legado que os luminares de antanho deixaram para a humanidade.

Seja, por conseguinte, coerente e maduro, jamais tornando a nos procurar com questionamentos infantis e improfícuos. Seja responsável e cumpra o seu dever. Não cabe abandonar seu posto de serviço, apenas por não ser dotado de qualidades que, se não lhe foram ainda concedidas, não só talvez não sejam de seu merecimento, como, fundamentalmente, não lhe são necessárias, ou mesmo lhe poderiam ser prejudiciais, fazendo-o desviar atenção do basilar, do que realmente interessa fazer e a que importa dedicar sua vida.

Ouvir a consciência? Sim! Mas a questão é que nós representamos a voz da consciência, dos padrões arquetípicos mais profundos, incluindo aquele fundamental: o do “Eu Superior”, que canaliza, parcialmente, a divindade latente em cada criatura, para sua mente consciente. Somos justamente os catalisadores, os dinamizadores de processos muito complexos, que se fariam demasiadamente abstratos e lentos, quiçá inexeqüíveis, sem nossa direta influência e participação nos destinos e na evolução da mente humana. Deste modo, em vez de um punhado de conceitos eruditos, de uma teoria balofa e amiúde estéril, tem-se, na prática mediúnica, uma realidade viva e não virtual. Por que trocar a realidade pela imitação? “Self”, “anima”, “animus”, “duplo” existem e são chaves psíquicas de contato, pelas quais nos afinamos com o padrão de onda mental das criaturas humanas. Os arquétipos, em suas manifestações individuais, digamos, são elementos de ressonância, e entrando em sintonia com eles é que fazemos despertar a mente que se nos faz receptiva, com o que aceleramos o processo de integração da personalidade, em níveis cada vez mais profundos e abrangentes de complexidade e ordem.

Não nos questione a realidade. Somos, para vocês – humanos no corpo –, a Voz de Deus, porque foi Vontade d’Ele que a criatura ajudasse a criatura, para que todos participem de sua Criação. Pode parecer intelectualmente elegante dispensar a realidade do mundo dos espíritos e substituí-la pela sofisticada conceituação de arquétipos e padrões do inconsciente. A realidade, porém, não deixa de existir, por não a admitirmos ou não a querermos admitir. Por que trocar a vida pela morte do conceito? Por que não fazer a idéia seguir a vida, em vez da prostituição de procurar subverter a ordem das coisas e negar o fato para arquitetar ilusões? De nada adiantará colocar-se contra o Criador, tentando permutar a Sua Perfeita Genialidade pelos presunçosos e patéticos garranchos conceptivos da inteligência humana…

Vida ou morte? Ilusão ou fato? Coerência ou deturpação da consciência?

Por que trocar a vida e a maravilha da comunicação e da conexão intermundos pela tosca concepção do isolamento cósmico, qual se cada criatura flutuasse numa sopa filosofal de abstrações indefiníveis? Não seria isso um tolo e improdutivo niilismo? Para quê? Para nos envaidecermos de nossa capacidade de engendrar bobagens e complicar a vida dos semelhantes e a nossa própria? As teorias simples são as mais próximas ou prováveis de serem realidade. Há, inclusive, como fundamento principiológico da Ciência, o procurar-se sempre a explicação mais simples e universal possível para cada fenômeno. Toda complicação deve ser vista com suspeita, por provavelmente refletir inclinações ideológicas e questões do histórico pessoal em assuntos coletivos e intemporais, o que constitui, no mínimo, uma enorme leviandade.

Seja criterioso e imparcial. Claro que diversos fenômenos poderão ser explicados por meios alternativos, mas nenhum abarca toda a grandeza, espiritualidade, moralidade, consistência e coerência, racionalidade e mesmo lógica da teoria espírita.

Jean Charon, o físico francês deste século XX, tem razão, ao propor que até os elétrons portam rudimentos de consciência, tanto quanto tinha Tales de Mileto, em sua máxima milenar: “Todas as coisas estão cheias de deuses”. Há, porém, quem prefira ver morte e mecânica em tudo, na era do dinamismo e da fotônica. Vêem nada na consciência, como se algo ou alguém pudesse afirmar a própria inexistência. Como um ser pensante usa o pensamento para dizer que a fonte deste pensamento não existe? Há algum cabimento nisso? E, em sendo ilógico, como pôr impedimentos materiais, como tempo e espaço, e corolários deles, como morte e distância, para estabelecer limites ao que não é material?

O tempo, porém, dirá a cada um desses doutores da baboseira o quanto falam estultícias, e como o descrédito cairá sobre seus nomes e suas idéias, inexoravelmente, porque, como diz o aforismo popular: “Contra fatos, não há argumentos”. E, se tratamos de algo que está além do fato e da percepção do fato, da consciência que “vê” o fato e pode mesmo criar o fato, que diríamos?

Riamos e relaxemos. Quem está contra o que está além de tudo, está apenas contra si.

(Texto recebido em 25 de maio de 1998. Revisão de Delano Mothé, em 17 de setembro de 2007.)

(*) Tinha apenas 27 anos quando recebi esta mensagem, através da psicografia. No meu entender, havê-la escrito com esta idade – em considerando toda a delicadeza e complexidade das implicações deduzíveis nas entrelinhas, bem como a amplitude da abordagem – parece, por si só, uma prova de que o artigo realmente proveio de um Plano Superior de Inteligência.
Uma “pérola” mediúnica do esgotado “Retratos do Amor”, que publiquei em 1998 e que não consta do acervo de mensagens deste site. De autoria do espírito Roberto – vemo-lo em seu aspecto mais filosófico e culto, digamos assim –, a mensagem, com algumas poucas correções gramaticais propostas pelo nosso revisor, Delano Mothé, conserva, porém, seu estilo e brilho originais, com o conteúdo rutilante e profundo que, sem dúvida, merece-nos estudos.
(Nota do Médium)