Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

 

Você deve se fazer um dromedário, um camelo da fé. Mamífero com quatro estômagos, atravessa longos espaços de deserto, sem ingerir uma gotícula d’água sequer (porque pode ingerir até 120 litros de uma só vez), carregando, sobre o dorso, sem reclamar e com firmeza, imenso peso em bagagem. Mantenha viva a sua fé, sem a necessidade constante de abastecimento de provas, evidências e bênçãos em seu caminho, na jornada amiúde difícil do trajeto evolutivo, caravaneiro da eternidade que você é.

Cuidado com os abusos em exigir sinais, graças e abundância, a todo momento. Às vezes, os sinais viciam, as graças sufocam e a abundância perverte, não porque em si sejam perniciosos, mas pelas reações acomodatícias ou pretensiosas que podem vir a fomentar, em caracteres menos amadurecidos. Deus quer de você, para seu próprio bem, sobretudo, fortaleza e sabedoria – o que não poderá desenvolver, sem que transcorra períodos de carência, nesse ou naquele departamento de sua existência.

Aprenda a contentar-se com pouco, enquanto, paradoxalmente, vive o espírito da abundância, mesmo que não esteja imerso nela, externamente. O estado de espírito de abundância é uma regra imprescindível de saúde espiritual e maturidade psicológica. A escassez deve ser considerada a exceção à regra, não a norma. Viver o padrão da penúria e da carência é um equívoco muito grave, um desalinhamento com a riqueza infinita de tudo que promana do Criador, indicando que aqueles que se sentem miseráveis estão desconectados do Todo-Poderoso. A abundância existe, entretanto, como, basicamente, uma onda de possibilidades a ser desdobrada no sentido das necessidades evolutivas do indivíduo, e não como um veículo de atendimento de caprichos extravagantes e insaciáveis de uma personalidade infantil, ainda que adulta no corpo ou na inteligência. Assim, a fome afetiva, espiritual ou física podem surgir, como capítulos de aprendizado, alargando os horizontes da consciência e tornando-a mais lúcida, amorosa e forte, inclusive pelo próprio esforço a que é compelida, em satisfazer as premências que aparecem.

Acostume-se a essa ciclotimia da vida – denominada, na Antigüidade, de “roda da fortuna” –, sem se desesperar, nem mesmo aborrecer-se, quando suas expectativas não forem atendidas, no fluxo de eventos da existência. Mantenha a serenidade, acima de quaisquer circunstâncias, e o futuro sempre lhe desvelará novas dádivas de crescimento, paz e sabedoria, até mesmo quando tudo parecer conspirar contra sua alma. Paciência: a fé nunca mente, nunca trai, nunca deixa fenecer quem, sinceramente, se põe em seus braços, enquanto trabalha, infatigavelmente, em sua gleba de serviço. 

Seja você um dromedário da fé, e o deserto das mais amargas fases existenciais passará, como as areias do Saara, para despontar a riqueza luxuriante dos oásis da alegria, da paz, da prosperidade e do amor, ainda quando plenamente imerso no período reencarnatório.

 

(Texto recebido em 11 de julho de 2000. Revisão de Delano Mothé.)