Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.


O sujeito infantil e presunçoso atacou-o pelas costas. Por isso mesmo, atacou-o pelas costas. Não aceita a sua superioridade de conhecimento e de inteligência e pressente que não pode enfrentá-lo (intuição de sua incapacidade relativa, não reconhecida), então, prefere aviltar o caráter, em proteção narcisista de sua auto-imagem deturpada e assalta-lhe o moral, agindo por detrás, como um larápio.

Não dê importância ao que não tem. Defenda-se, se possível, para não dar espaço a desconfortos emocionais nem badernas relacionais que inviabilizem o seu trabalho, mas, quanto possível, releve, para não desviar a atenção do que lhe cabe fazer na vida, com essas questiúnculas insignificantes.

Muita gente torna assunto de estado maior as mais tolas pendangas do dia-a-dia: não têm estofo para grandes responsabilidades; não portam estrutura psicológica que suporte as pressões e conflitos ingentes que posições de destaque e comando apresentam. Exercite sua capacidade de tolerar situações de tensão. Poder sair e sair da própria zona de conforto, com freqüência e naturalidade, é uma prerrogativa para quem quer realmente se superar. Manter-se no campo do habitual e do cômodo significa não progredir. Sem temeridade e respeitando os próprios limites, mas manter uma conduta de ousadia e combatividade é imprescindível para se chegar à excelência.

Entretanto, a sua aflição com algo que reconhece tolice pode apresentar um pano de fundo mais complexo e substancial. A vaidade excessiva, a irritabilidade exagerada, a futilidade no enfoque inadequado das situações, a necessidade de mais prece e vigilância – tudo pode estar nos subterrâneos da mente estressada, que leva tudo a sério demais e que não consegue relaxar. Portanto, observe se não está também trabalhando demais e se comportando com muito rigor, tanto quanto avaliando os outros na mesma medida. Não convém levar a vida na ponta da faca, ou com quatro pedras na mão, como se diz no vernáculo nordestino. Relaxe e siga. Defenda-se com equilíbrio e sensatez, e, se possível, em meio a uma brincadeira de tom mais duro, a fim de que se atinja o objetivo, sem ferir tanto o interlocutor, quanto a si mesmo com o desgaste de um confronto, nem incomodando os eventuais assistentes do momento.

Não minimize, nem subestime adversários. Não pode dar azo a que a má vontade alheia comprometa a obra de Deus que se realiza por intermédio de suas mãos. Procure agir com racionalidade, mas faça tudo com moderação. Ser descontraído em instantes amaros é a excelência em matéria de autocontrole e controle das situações. Procure atingir ou se aproximar, o máximo que puder, desse ideal.

Quanto ao mais, não se culpe por ter se melindrado e estar ofendido. Você é um ser humano. Nos meios de estudo de espiritualidade, as pessoas se culpam excessivamente por quaisquer pequenas falhas de personalidade que ainda detenham. Não é assim que se progride. O arcabouço emocional não corresponde, quase nunca, ao nível de entendimento e conhecimento do indivíduo. Assim, pequenas incongruências necessariamente serão notadas, quando não enormes contradições entre o que já se sabe e o que se consegue fazer. Isso faz parte de sua natureza humana, ambígua, transitória, em processo de construção. Cuide da vaidade nesses momentos, para que a presunção não lhe faça crer poder, por meio do perfeccionismo que é sutilmente desenvolvido, alcançar páramos de espiritualidade que não condizem com seu atual plano evolutivo. Ninguém pode galgar a angelitude, sem, primeiramente, ter experimentado a humanidade em plenitude. Um garoto aplicado pode saltar algumas séries escolares, mas não poderá saltar todo o ginásio e científico, passando diretamente do primário à universidade, ainda que seja um prodígio. Respeite seu nível evolutivo, aceite suas limitações – inclusive para que possa transcendê-las. Quem não percebe seus pontos fracos, não pode fortalecê-los, nem se protege dos deslizes que eles podem propiciar que se cometa, por permanecerem na escuridão, na clandestinidade da inconsciência.

Em suma, procure ser tranqüilo e racional em todas as circunstâncias da vida, principalmente naquelas em que isso for mais difícil de ser vivenciado. Desafio maior, maior potencial de crescimento. É aí que reside a lição e é onde a calma e o bom senso mais serão valiosos, para que se resolvam as pendências e atritos em jogo. E, para tanto, conheça-se um pouco mais, a fim de que a falta de auto-conhecimento e, por conseqüência, de domínio sobre si não lhe crie dificuldades em se conter justamente quando isso mais se faz preciso.

(Texto recebido em 4 de janeiro de 2001.)