Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, uma senhora nos consultou, a respeito do seu casamento, em crise novamente, ou numa crise mais ampla, que nunca termina. Tem pensado em se divorciar, mas também refletido na possibilidade do perdão. Há algo que você gostaria de dizer a ela?

Sem dúvida. Natural o escrúpulo da ilustre companheira encarnada, no sentido de não nos incomodar com petitório de ordem particular. Todavia, a despeito de todos os rigores metodológicos, filosóficos e morais que nos filtram as comunicações mediúnicas, em função de não intervirmos no livre-arbítrio dos pupilos por quem somos responsáveis, podemos, amiúde, tracejar alguns esboços de reflexão, suscetíveis de estimular, na amiga destinatária, conclusões que, entretanto, lhe estarão afetas, em caráter de exclusiva e intransferível responsabilidade pessoal.

A infidelidade conjugal de seu esposo é, de fato, crônica e, em tese ou em princípio, para uma perspectiva de curto prazo, incurável, considerando-se a profunda cristalização do hábito indesejável. As evidências em torno desta constatação já lhe são sobejas demais, para que se possa proteger na prerrogativa da dúvida. Entrementes, parece-nos, como foi aventado, em contato com o companheiro médium, extremamente claro portar seu consorte personalidade e caráter de excelente qualidade, inobstante a compulsão praticamente irrefreável às experiências extraconjugais.

Sabemos que, para muitos dos que nos lêem estas colocações, pareceremos compactuar com o vício ou com a conduta delinqüente. Contudo, não nos é possível considerar um parâmetro realista de leitura do ser humano, que não inclua suas contradições, fraquezas e limitações. No campo específico do sexo, então, os homens de cultura neolatina tendem a desenvolver e fixar, na rocha inamovível das estruturas da psique, a inclinação deplorável a vivências fortuitas, totalmente destituídas de sentimento e compromisso, como se retornassem, provisória e episodicamente, à condição da selva, regendo-se, nestas ocasiões de decadência moral, tão-só, pelos impulsos bestiais da cópula, pura e simples.

Nossa primeira sugestão à companheira, que nos honrou com a confiança da consulta, é que proceda ao esforço do perdão, como se fosse indulgente com um deficiente físico, de qualquer natureza. Se o seu marido houvesse sofrido um acidente, que o incapacitasse ao ato sexual, de modo convencional, e o prendesse ao leito ou a uma cadeira de rodas, nunca a amiga cogitaria de separação. A inclinação para a ruptura surge, todavia, porque a irmã acredita estar sendo dilapidada na própria respeitabilidade e enganada e injustiçada na área mais cara de sua dignidade. Permitimo-nos, com todo respeito às suas opiniões pessoais, discordar disso, já que sua dignidade, nem a de ninguém, está sujeita à conduta ou valores de terceiros, ainda os mais próximos e estimados. Só seria lançada num fosso de envilecimento, se você mesma se houvesse precipitado no charco da decadência moral. E ocorre exatamente o reverso: o abrilhantamento de seu espírito, por indução dolorosa da contingência infeliz. Um martírio involuntário, na secreta câmara do próprio coração, sem espetáculo ruidoso que lhe atraísse a compaixão e a solidariedade de seus companheiros de destino, dos familiares mais amados aos conhecidos menos próximos.

Destarte, alvitramos, uma vez mais, a vivência do perdão, não como conivência com o que acontece, mas na conta de louvabilíssimo padrão de flexibilidade psicológica e adaptação espiritual a desagradáveis injunções cármicas e morais vividas. Deve considerar a hipótese de a Divina Providência a estar julgando capacitada a um nível maior de compreensão da Vida, de modo que, assim, oferece-lhe desafio mais complexo, difícil e profundo, contando com sua aptidão para absorver o impacto e conteúdo da experiência amarga e vencer, galhardamente, ante o repto evolutivo que lhe foi lançado, assimilando-lhe todas as lições de paciência, esperança, indulgência, amor e transcendência, que lhe vêm no bojo. Se não houvesse trabalho de expansão da consciência, seu casamento jazeria não só embotado, mas sem a chancela do Poder Divino, que quer motivar Suas criaturas, a todo momento, rumo a níveis mais elevados de percepção e autopercepção.

Claro que jamais lhe será defesa a alternativa do divórcio. Entretanto, a querida amiga deve considerar, com muita cautela, se realmente é isso que a existência, em nome de Deus, impetra-lhe, em termos de crescimento e aprofundamento de suas virtudes e de sua lucidez. Verifique, com muito critério, se a postura reativa não tem mesmo uma conotação vingativa, de retaliação (que parte do ego), em vez de representar uma decisão de libertação moral (que seria, esta sim, oriunda de seu Eu Espiritual). E, por fim, se ainda lhe subsistirem dúvidas, no discernimento de qual seria a procedência do impulso, para as duas hipóteses aventadas, ponha a questão em processo de incubação, de molde a que, trafegando e retemperando-se, nos corredores profundos da alma, em estado de prece e vigilância, possa a hesitação se desdobrar, com segurança e serenidade, numa decisão da alma eterna e não da personalidade transitória.

Não se trata esta proposição, de modo algum, de uma proposta ao sacrifício do interesse e bem-estar pessoais, e sim, muito pelo contrário, de uma consideração plena da satisfação profunda, da alegria mais duradoura e imperturbável que o indivíduo pode usufruir, no transcurso mesmo de sua existência física, levando-o a alforriar-se do poder de influência de terceiros sobre seu estado de espírito, protegendo-se, com barricadas intransponíveis, o núcleo de felicidade do ser.

O perdão não deve ser considerado uma experiência pontual e culminante, em determinadas cristas de crise, nas ondas de eventos da vida, e sim um padrão permanente de plasticidade e adaptabilidade às inúmeras deficiências com que sempre se estará deparando, não somente nos irmãos em humanidade, mas em si próprio igualmente.

Em caráter de facilitação pragmática da libertação da mágoa, propomos não toque mais no assunto com o cônjuge amado, nem delibere mais vasculhas em sua vida íntima, para que não seja confrontada com descobertas desagradáveis, que mais dificultem a sua sobrevivência, neste delicado estado de equilíbrio e paz, em que seu casamento está, por ora, estruturado.

Por outro lado, a vivência da plena indulgência capacitar-lhe-á a um salto fabuloso no patamar de consciência, favorecendo-lhe a conexão com freqüências mais elevadas de percepção, sentimento, sabedoria e serenidade. Numa vida com menos dificuldades, tanto no plano financeiro, quanto no maternal (seus filhos, normalmente, não lhe causam dores de cabeça), no físico (saúde orgânica) e no espiritual (disciplinada que é em suas atividades e cultos religiosos), haveria de padecer a amiga uma ordem de problemática em seus caminhos, o que, no entanto, não constitui castigo ou injustiça, como se poderia afigurar, numa avaliação mais superficial, e sim uma concessão de responsabilidade e um estímulo à ascese, já que estamos na Terra, encarnados ou desencarnados, para evoluir, em todos os sentidos, mas, principalmente, no capítulo do coração – o exato campo onde a companheira é mais testada.

Afastar-se de uma prova, por julgá-la injusta, pode, todavia, por lei evolutiva da vida, atrair-lhe outra, que a compense no âmbito funcional de combustível à evolução. Só que uma provação diferenciada pode não apenas lhe ser mais difícil de administrar, como mais dolorosa de suportar, com o acréscimo de responsabilidades fomentado pela fuga à expiação originalmente programada, antes da atual reencarnação.

Irmã em Cristo,
Eugênia.
Aracaju, 15 de maio de 2008.


Convite:

BRUXAS, MÃES SINISTRAS E GUERRA DOS SEXOS.

Guerra dos sexos; o feminino diabólico e o masculino violento; maternidade sinistra e paternidade monstruosa; a tentação paranormal, nas bruxas, e a do poder, nos governantes. Por fim, a Glória Divina, em Sua Plenitude de Graça e Cura. Estes serão alguns dos temas tratados, com impressionantes ilustrações, na palestra deste domingo, 18 de maio, às 19h30. Não se esqueça de chegar mais cedo, para se purificar energeticamente, com o passe (entre 18h50 e 19h20). Venha se colocar sob a proteção do espírito Eugênia e sua plêiade de Amigos do Mundo Espiritual, que se comunicam, ao final do evento. Local: salão de festas Mega Espaço, Rua Nossa Senhora das Dores, 588. Valor do ingresso: R$10,00 (dez reais). Mais informações pelo telefone: (079) 3041-4405.