Benjamin de Aguiar,
em diálogo com o
Espírito Irmão Chico.

(Benjamin de Aguiar) – Olá, irmão Chico! Como vai? Fiquei hiperfeliz quando soube de sua vinda hoje, a honrar-nos com uma conversação fraterna.

(Irmão Chico) – Não vejo motivo para tanta alegria (risos). Um espírito com tão pouca experiência como eu não pode ser esperado com toda esta expectativa. Quanto à sua pergunta, vou bem, com muito trabalho, graças a Deus, na infinita messe do Senhor. E você?

(BdA) – Tenho justamente me preocupado com a distribuição do tempo, para melhor cumprir minhas tarefas.

(IC) – Isso é importante. Na vida, a maior honra que nos é propiciada é servir ao Bem Maior, sem descanso. Que bom que labute por apenas alternar atividades no bem, sem cessá-las, porém.

(BdA) – Sua reencarnação está distante no tempo – digo: a próxima?

(IC) – Sim, está muito longe de ocorrer. Mas, neste Lado da Existência, não me faltam atribuições. Deveria ter ficado mais um tempinho encarnado, aproveitando as enfermidades da velhice (risos). Ali, como no claustro materno – conforme certa feita registrou nosso caro Irmão Manuel –, são das poucas oportunidades que temos de descansar, efetivamente, querendo dizer: de estarmos desincumbidos de grandes responsabilidades.

(BdA) – Qual o propósito que o trouxe aqui? Pasma-me a ideia de conversar com o Senhor.

(Com um sorriso meio “sem graça”, tentando ser doce e firme ao mesmo tempo, respondeu:)

(IC) – Não vejo motivo nenhum para estupefação. E, se puder me fazer um favor, mantenha o uso do “você”… Vim apenas confirmar esta importância da existência material, para todos que nos vierem ler. É muito comum, entre os que estão cientes da vida depois do túmulo, ante o desgosto com as condições difíceis das relações sociais na crosta terrena (que apresenta espíritos em grande disparidade evolutiva convivendo uns com os outros), surjam fantasias menos edificantes de retorno precoce a nosso Plano de Ação, sobremaneira entre aqueles que realmente já se afinam com o diapasão do Mestre – eu mesmo padeci destas inclinações menos aconselháveis, e meus biógrafos, felizmente, fizeram a gentileza especial de registrar tal fraqueza de meu espírito revel. É que, quando nos comprometemos, verdadeiramente, com o Bem, sofremos, ao estarmos presos ao vaso de carne, solicitações e pressões por todos os lados, para o desvio de nossa trajetória rumo à Luz Divina.

(BdA) – Ficamos todos – falando em nome já dos amigos que nos lerão – muito agradecidos com este incentivo. Mais algo a dizer?

(Irmão Chico) – Sim. As Instituições representantes do Alto – conforme tive oportunidade de psicografar de nossos amoráveis benfeitores espirituais, quando na condição de médium encarnado – são planejadas como responsabilidade de muitos; todavia, no mergulho para o casulo orgânico, apenas um percentual mínimo mantém os compromissos assumidos, vez que grandes moles de desertores vivem um lamentável eclipse da lucidez de suas consciências, correndo, espavoridas, dos esforços que deveriam empreender na Causa com que se empenharam antes de renascer no domínio carnal, com justificativas doiradas, mas ilusórias, como o zelo com a parentela biológica (que, em tempo, dá-lhes “o troco” por tão lastimável desvão de rota) ou premências da profissão e da vida acadêmica, que, igualmente, em ocasião oportuna, demonstrarão seu vazio, amiúde quando as melhores oportunidades da existência no ergástulo físico já passaram.

Projetos brilhantes de realização superior, com isso, desbaratam-se no âmbito material de Vida, por conta desta deserção generalizada que se verifica, não raro, na maioria dos agrupamentos sérios, com lastros morais nas Esferas da Luz. Este companheiro acolhe-se à sovinice, e não faz as doações financeiras que se lhe esperavam; aquele confia-se ao regime do menor esforço, e nega o trabalho digno, no serviço voluntário aos sofredores; aquel’outro rende-se à preguiça em estudar, para que aprimore suas funções de esclarecer e confortar com acerto; outros há, ainda, que se entregam à indisciplina de não orar e vigiar quanto deveriam, desgovernando sua existência como um todo, embora se sintam vitimados e injustiçados, na fuga espetacular em que se desbragam, imprevidentes, com consequências imprevisíveis, para a atual reencarnação que desfrutam, e mais ainda para o que virá adiante.

(BdA) – Muito sérias ponderações, venerável Irmão Chico. Mais algo em que nos orientar?

(Mais sério, desta vez:)

(IC) – Apenas “irmão”, por obséquio. Veneráveis somente Nosso Mestre e Senhor Jesus e Sua Mãe, Mãe de todos nós, Maria Santíssima, bem como – tal qual foi por você revelado – o Arcanjo Gabriel, a Voz do Pai, que falava pelo Meigo Rabi da Galileia e até hoje palpita nas Páginas Eternas de Seu Evangelho redentor. Creio que tenha encerrado minha fala, e que os apontamentos que alinhavei, a pedido de Nossos Maiores, sejam por demais significativos para que exijam adições.

(BdA) – Oh, sim! Sim! É porque ouvi-l’O é sempre uma honra…

(IC) – Porque este pronome “o” no maiúsculo? Isso me desestimula a voltar!… – fazendo a caretinha mimosa de repreensão.

(BdA) – Perdoe-me, Chico. Sua sincera humildade é proverbial. É uma honra inestimável ouvi-lo.

(IC) – Muito mais relevante ouvirmos a voz da própria consciência, de modo cioso, todos os dias, a toda hora, sem desperdício dos minutos, aplicando-os na prática do Bem.

(BdA) – Sem dúvida. Obrigado por suas instruções. Seja sempre bem-vindo à nossa Casa.

(IC) – Instruções de que fui mero canal, como o era, quando encarnado. De mim, nada tenho a oferecer.

(BdA) – Não importa. Você é um filtro confiável.

(IC) – Agradecido por isso: esforçar-me-ei por me tornar melhor – é um incentivo que o irmão em ideal cristão me oferece.

(BdA) – Já estamos satisfeitos com o nível de confiabilidade que sentimos em você.

(IC) – Mas eu não (risos). A consciência é minha (risos).

(BdA) – (risos) Claro! Obrigado novamente.

(IC) – Agradeço igualmente a honra da escuta atenciosa e respeitosa. Que nossos Mestres do Plano Excelso o cubram de bênçãos e a todos os que colaboram com a Causa parcial do Cristo confiada às suas mãos, como maior responsável – mas não único, conforme já assinalado acima…

(BdA) – Agradecido por mim e por todos eles…

(E o Irmão Chico se foi… em meio a luz imensa e amável sorriso, acolitado por inúmeros auxiliares e aprendizes que o acompanhavam.)

(Diálogo travado em 17 de outubro de 2011.)