Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.


Eugênia, um amigo me perguntou o que você acha da hipnose. Poderia nos dar algumas opiniões a respeito?

Espíritas devem seguir as recomendações da Ciência, como sabe. E a hipnose vem sendo progressivamente reabilitada pela comunidade psicológica. Seus efeitos são inequivocamente positivos, para casos específicos como a cura de fobias e a superação de vícios. Entretanto, não deve ser compreendida como método isolado de cura, a fim de que não haja aprisionamento aos efeitos, esquecendo-se do remontar-se às causas. Portanto, a hipnose deve sempre surgir consociada a técnicas psicoterápicas que removam, processem ou transmutem as causas profundas, a fim de que o terapeuta, meramente hipnólogo, não funcione como um ministrador de paliativos, mascarando sintomas, quiçá com agravamento das problemáticas profundas, que estarão ocultadas e desenvolvendo-se livremente, sem os freios psicológicos da dor psíquica.

Deve ser usada de modo geral?

Dependendo do temperamento, da personalidade, das características próprias do indivíduo, uma técnica psicoterápica pode ser efetiva, ineficiente ou mesmo prejudicial. Cada caso é um caso, portanto. Psicanálise para alguns casos, psicodrama para outros, regressão de memória para outros ainda, aconselhamento espiritual para outros psicotipos. Miscelâneas metodológicas podem ser feitas, outrossim, para serem aplicadas a cada atendido, considerando-se seu perfil psicológico singular.

Meu amigo pediu para se submeter à auto-hipnose, sob assistência de você ou de seus amigos, a fim de que, após realizado o primeiro transe, profundo e efetivo, possa ele estar aberto a repetir tranqüilamente o procedimento “a posteriori”.

Falei que cada personalidade tem peculiaridades que a tornam mais ou menos acessível a determinada abordagem terapêutica. Um bom hipnotizador pode ser dotado de personalidade inadequada à condição de hipnotizado, tanto quanto um cardiologista pode ter excelente máquina cardíaca, apesar de grosseira a analogia, em considerando que o ser hipnotizável não indica qualquer distúrbio psicológico, muitas vezes, pelo contrário, constituindo sinal de excelentes aptidões psíquicas e mesmo mediúnicas. Toda pessoa, em tese, é hipnotizável, assim como podemos submeter qualquer indivíduo à psicanálise clássica ou a uma técnica new-age de psicoterapia alternativa. Entretanto, não convém fazer transfusão de sangue tipo AB, em quem tem tipo sangüíneo O+: causaríamos a morte do paciente. Da mesma sorte, certas terapias, como certas religiões, como certas culturas, podem ser tanto tóxicas, venenosas e letais, como construtivas, criativas e transcendentes, de acordo com as idiossincrasias de cada indivíduo. Cada caso é um caso – repito; não podemos fazer generalizações em área tão complexa e subjetiva como a psique humana, sempre singular, variando não só de indivíduo para indivíduo “ad infinitum”, como do próprio indivíduo em relação a si mesmo, considerado em circunstâncias e épocas diferentes de sua biografia, desta ou de outras existências. Creio que para o temperamento de nosso jovem amigo questionador e com forte função masculina na mente, técnicas de mentalização e visualização sejam mais eficazes do que o comando sobre si. Ele é avesso a comandos, mesmo de si próprio. É um aficionado em liberdade, o que quer dizer que não está disposto a compreender, mesmo inconscientemente, algo como obrigatório, mesmo que seja para o seu próprio bem-estar. Visualizar ambientes agradáveis, mentalizar frases positivas (o que não deixa de ser brando comando auto-hipnótico), e, por fim, a análise e digestão de conteúdos inconscientes, que aflorarão suave e espontaneamente, neste estado de relaxamento profundo, isso sim, pode ser excelente tática de transformação, crescimento e mesmo de auto-domínio para ele. Meditar é preciso. Auto-dominar-se, nem sempre, já que, muitas vezes, os critérios de auto-domínio desconsideram faixas inteiras da própria psique, que jazem na margem inferior da inconsciência, aguardando serem observadas e assimiladas, para que alimentem as reflexões que desembocarão em critérios de auto-domínio mais apropriados (*1). Podemos ajudá-lo em todo esse processo, para que ele descubra seu próprio sistema de ativação e catálise de processos psíquicos, inclusive a catarse, por ele tão desejada, marcando hora para fazer sua meditação, e sendo disciplinado na obediência a esta prática. Amigos do plano superior de vida estarão com ele neste momento, esteja certo disto, nem que seja seu próprio guia espiritual, à distância, conduzindo-lhe alguns fluxos mentais fermentadores do progresso espiritual, da integração e complexificação psicológica. (*2)

Mais algo a dizer?

Não, satisfeita por ora.

(Diálogo travado em 5 de agosto de 2005.)

(*1) Por exemplo: muita gente supõe correto exercitar o “auto-domínio”, no sentido de castrar a sexualidade e demais instintos do corpo para espiritualizar-se, o que constitui terrível engano, gerando degradações psicológicas e mesmo morais indesejáveis, em vez de propriamente fomentar a própria ascese. Assim como no binômio sexualidade x espiritualidade, sérios e equivalentes equívocos costumam se dar no que concerne a outras duplas de conceitos, como agressividade x assertividade ou obediência x consciência. Grande discernimento e sabedoria são imprescindíveis no estudo de tais delicadíssimas e complexas temáticas, para que não degringolemos reflexões sãs para deploráveis inferências. Santidade inclui sanidade. Transcendência engloba imanência.

(*2) Toda pessoa que se interesse sinceramente em realizar práticas espirituais, como orar ou meditar, em estabelecendo horários fixos, conta com a assistência de amigos espirituais de maior expressão evolutiva, que se planejam visitá-los ou mesmo conduzi-los, em suas disciplinas espirituais, catalisando-lhes os processos de “iluminação”.

(Notas do Médium)