Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia?

Estou aqui. Faça-me perguntas.

Sobre quê?

Sobre o tédio.

O que acha importante dizer sobre ele?

Que há duas hipóteses plausíveis etiológicas básicas para a formação do tédio. Uma: a fuga ao dever da consciência. Quem se desvia do fluxo da própria alma pode se sentir de tal modo desmotivado que, não conhecendo corretamente os impulsos da alma, supõe tratar-se isso de tédio, que, em verdade, nada tem a ver com desânimo (literalmente: “falta de alma”), mas sim um desconforto circunstancial da psique, portanto relacionado a um certo concerto de eventos que desagrada a estrutura psicológica do indivíduo, não constituindo, necessariamente, um desalinhamento com o núcleo do ser. Segundo, o tédio pode ser decorrente de ataques dos mais variados de expressões energéticas e mentais negativas provenientes do interior ou do exterior do indivíduo, e, no que tange ao exterior, partindo de agentes encarnados ou desencarnados. Nestes casos, trata-se de um teste à persistência. Uma oportunidade de exercitar a determinação.

Existiria, afora essas duas causas principais, alguma outra razão para a formação do fastio?

Sim. A atual civilização de consumo está extremamente voltada para fatores hedonistas. Quem vive o pico do prazer necessariamente terá que se submeter às baixadas da sensação, e, obviamente, uma série de repercussões psicológicas acompanham tais oscilações para baixo da psique. Assim, as coletividades de hoje estão, em certa medida, infantilizadas. Querem viver numa eterna montanha-russa emocional e isso é evidentemente impraticável. O mundo não é um parque de diversões, como supõem essas criaturas, mas uma escola-oficina, como têm dito nossos amigos espirituais, desde o início da codificação espírita. O mundo adulto compreende como natural a falta de estímulo e de excitação íntima em certos momentos, sem que isso abale o cumprimento de deveres e responsabilidades assumidos. Isso porque a mente adulta é auto-motivada, extraindo, de princípios internos, de valores e metas íntimos, determinação e disposição a disciplinar-se, em função de um ideal maior que a sensação ou o desejo do momento. Esse elemento, inclusive: o poder de adiar gratificações, é um dos itens capitais que definem hoje “inteligência emocional”.

Como distinguir os tipos de tédio, conforme a ordem de causa – isso seria importante?

Importante o indivíduo saber se está incluso nessa massa de crianças emocionais da atualidade, para que, então, tome providências para se auto-educar, disciplinar-se e, assim, criar um alicerce para uma vida efetivamente adulta. E, depois, que cheque se tem consciência de seus propósitos maiores de vida, para segui-los, impreterivelmente.

De fato, Eugênia, há pessoas que lêem a falta de ânimo de um instante, como um sinal de que não devem seguir adiante, em determinado projeto ou numa atividade imediata em que estejam ocupadas, como se houvesse acontecido uma quebra do fluxo, da sintonia com as forças da Vida.

Amiúde, isso de fato acontece. E é por isso que o indivíduo deve se conhecer em profundidade, para que possa fazer distinções sutis quanto essenciais como essa, com segurança.

Que sugere para as pessoas vencerem o tédio?

Conhecer-se mais e, por conseqüência, motivar-se nos momentos certos, quanto descoroçoar-se a fazer o que não se deve fazer.

Mais algo a dizer sobre o assunto?

Não, por ora. Satisfeita.

(Diálogo travado em 13 de abril de 2004.)