Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, teria algo a nos dizer sobre o casamento?

Instituição das mais importantes, para a manutenção do equilíbrio emocional, psicológico e espiritual, de indivíduos e coletividades. Somente através do matrimônio bem constituído podem as famílias estruturarem-se com firmeza e profundidade, durabilidade e satisfação para todos que as compõem. Boas famílias, famílias equilibradas são resultado, necessariamente, de casamentos de alta qualidade, muito embora, nem sempre, um casamento equilibrado possa garantir que a família virá a ser ajustada, já que os espíritos que aportam no conjunto doméstico, na condição de filhos do casal, podem ser problemáticos.

O que você acha, Eugênia, que está faltando, nos casamentos de hoje, para que haja mais felicidade?

Primeiro, uma crença maior na instituição do matrimônio – anda desacreditada, tendo sofrido numerosos ataques no correr do século XX. Segundo, que haja mais afinidade de alma. Que haja compatibilidade de valores, de ideais, de metas de vida, de visão religiosa, de perspectivas morais. E, por fim, que haja mais amor, compreensão, e desejo sincero de fazer o outro feliz, sem esperar que o outro retribua ou tome a iniciativa de fazer o bem, muito embora se tenha o direito de, não acontecendo nenhuma forma de compensação, reclamar moderadamente, já que o casamento é uma sociedade e não um campo, propriamente, de exercício de amor incondicional, como é o caso da maternidade ou da paternidade.

Eugênia, as pessoas hoje acham normal a traição. Você diria o quê, a respeito disso?

Que se trata de um perigoso retrocesso à selvageria do mundo animal. Os casamentos devem ser abertos. O esposo ou esposa que se veja em crise afetiva, tem o direito de comunicar uma suspensão provisória do compromisso de fidelidade, ainda que de modo sigiloso, apenas entre os dois, como segredo de alcova, e avisar que estará fazendo experimentações com outras pessoas, ou com alguém em particular que se veja como um novo grande amor, para que, depois, possa-se avaliar, com maiores dados, qual rumo tomar com relação à união dos dois: se deverá ser extinta ou mantida, de acordo com as descobertas feitas na fase experimental. Mas nunca a sexualidade extra-conjugal deveria ser considerada uma norma, ou uma licença natural. Isso revela natureza exageradamente instintiva, além de constituir um desrespeito ao cônjuge, uma séria deslealdade, ou seja: uma falha de caráter, um abalo que se faz na confiança que o parceiro pode depositar no que se confia a tal ordem de deslize.

Eugênia, e com relação ao casamento entre homossexuais?

Tão natural como aquele que acontece entre heterossexuais. É de uma incoerência ímpar uma sociedade que se diz democrática não instituir, legalmente, a possibilidade de duas pessoas do mesmo sexo estabelecerem uma união esponsalícia. Trata-se, inclusive, de uma falha grave do Direito. A Ciência já tem dito que a homossexualidade não constitui doença, nem desvio de caráter, sequer mesmo distúrbio de personalidade. As religiões, como segmento mais conservador das sociedades, devem desenvolver um sentido maior de humildade, ante o progresso da cultura dos povos, a fim de que não cometa sérias injustiças em nome de Deus, como a História bem relata ter acontecido em inúmeras ocasiões. Não se deve esquecer que o princípio de evolução norteia a natureza e as comunidades humanas, como determinação divina, e é assim que muitas coisas antes tida como heréticas hoje são consideradas santas, como, inclusive, a fé cristã, que já foi abominada não só entre elites religiosas judaicas, como entre religiosos e políticos da Antiga Roma. No que diz respeito ao assunto preconceito, no que tange ao casamento, tanto a união entre homossexuais, como o divórcio devem ser considerados assuntos pacíficos, como indiscutivelmente justos e necessários.

Que bom que tocou na questão do divórcio, que atine diretamente ao casamento. O que teria a dizer?

Há abusos, sem dúvidas, principalmente entre os mais jovens, que se casam extemporaneamente, quando se quer se conhecem bem, quanto menos conhecendo com quem se unem em matrimônio. Mas, indubitavelmente, mesmo no caso dos que se casam levianamente, a possibilidade do divórcio é santa oportunidade de correção de rota, para que não se preserve um erro da juventude para sempre. Há situações em que se torna insustentável um relacionamento, por motivos diversos, inclusive por descaminho de um dos cônjuges, por evolução maior de um dos dois, por alterações de valores, circunstâncias ou mesmo de temperamento de um ou dos dois componentes do casal, no transcorrer dos anos. Pessoas com um mínimo de maturidade não discutem a necessidade inarredável de existir a possibilidade do divórcio nas sociedades humanas. Casamento é união de forças, e não prisão perpétua. Que dure para sempre, mas por decisão consciente de ambos partícipes do consórcio, pela felicidade e desejo de continuarem partilhando suas vidas um com o outro, e não por obrigação às convenções sociais. Caso se descubra que a união, em vez de somar, subtrai, infernizando a vida não só do casal, como de filhos, sejam crianças ou não, por todos vale a pena um afastamento civilizado, ao reverso de uma degradação progressiva, rumo à infelicidade crescente de todos os envolvidos, direta ou indiretamente, na relação dos dois.

Mais algo a dizer sobre o assunto?

Não; por hoje, somente isso.

(Diálogo travado em 7 de maio de 2003.)