Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Gostaria que você me interrogasse sobre o Espiritismo e a Nova Era.

Eugênia, o que você nos teria a dizer sobre esse cotejo ideológico?

Que a Nova Era é um campo de estudo por demais amplo e que o Espiritismo, de reversa maneira, é uma síntese extraordinária do mesmo campo temático. Enquanto a Nova Era constitui um movimento difuso, em que atividades díspares, desde movimentos ecológicos, passando por pesquisas de psicologia profunda até grupos de preservação de doutrinas orientais, são colocadas num mesmo balaio, incluindo toda a sorte de literatura barata de auto-ajuda, muito dela de qualidade duvidosa, dando espaço a toda ordem de interpretação equivocada sobre a importância que lhe subjaz, como semente de uma gigantesca revolução civilizacional, o Espiritismo, na condição de síntese espetacular, reúne, sob a égide do pensamento científico-racional, toda a colossal miscelânea de valores, idéias e informações atinentes ao assunto espiritual, distanciando-se de todo dogmatismo.

Certo. Que mais se deve pensar sobre isso?

O Espiritismo, de fato, como se o entende, no Brasil, como, de fato, uma doutrina, o kardecismo, o conjunto de idéias do ínclito codificador Allan Kardec, não se generalizará, no futuro da humanidade, como uma grande e única religião, mas constituirá uma excelente ferramenta, ou, ao menos, um excepcional modelo de integração de toda a massa de informações a respeito da alma humana e as complexas dimensões e domínios da realidade física, astral e espiritual.
A palavra espiritismo, inclusive, presta-se a resumir, sob sua alcunha, todas as denominações espiritualistas e todas as formas de credo que incluam: imortalismo, reencarnacionismo e mediunismo. Ou seja: quem crê na imortalidade da alma, na reencarnação e no contato com o mundo do espíritos pode ser dito espírita, ainda que não se denomine dessa forma. Dessarte, teríamos, sob essa denominação, duas categorias distintas: os espíritas estricto senso – os seguidores de Allan Kardec – e o espíritas latu senso – todos que aceitam a sobrevivência do ser à morte do corpo, sua evolução pelo trajeto palingenético, e, por fim, a existência da comunicabilidade inter-dimensional (fazendo alusão, em particular, ao intercâmbio entre vivos no plano físico e vivos fora dele).

Interessante. Que fazer em relação à existência dessas duas áreas gigantes de pensamento e comportamento?

Que não deve haver rigor excessivo na postulação das teses kardequianas. Esse não é o objetivo básico do Espiritismo, como dito pelo próprio Kardec. O Espiritismo existe para ser disseminado com ou sem as idéias de Allan Kardec, apesar do brilho ímpar de síntese do conspícuo codificador. A questão é que, para novas sínteses, e, por razões de quase século e meio já haver passado desde o seu surgimento e por preconceitos etno-cêntricos, uma série de barreiras podem ser erigidas, contra o pensamento do egrégio “fundador” do Espiritismo. Faço referência, principalmente, ao fato de que as nações anglo-fônicas, hoje não só dominantes, como sendo portadoras da cultura quase hegemônica dos dias que correm serem extremamente resistentes a tudo que não tenha sido criado dentro de seus rincões. Assim, o espírito crítico e racional deve ser disseminado, assim como a realidade inconteste do sobrevivencialismo, da evolução-reencarnação e, por fim, dos meios psíquicos de comunicação inter-domínios de uma realidade cosmológica multidimensional, sem uma preocupação rigorosa em se dar a esses novos apanhados o nome de espiritismo kardecista. O pensamento de Jesus, outrossim, que é a base da doutrina kardequiana, deve ser levado adiante, assim propiciando uma repaginação da exegese evangélica, conforme necessidades, conceitos e valores do homem e da mulher do Terceiro Milênio. Sendo a cultura ocidental (anglo-cêntrica, como dissemos), hegemônica hoje, e sendo ela fundamentalmente cristã, é de crucial importância que as idéias do Cristo sejam remodeladas para a cultura moderna, sem perda de seu conteúdo, ou, muito melhor dizendo: revelando seu verdadeiro e original conteúdo, conforme possibilidades interpretativas do ser humano mais lúcido dos tempos atuais, como nunca foi possível antes, em toda a longa história de dois mil anos de cristianismo.

Algo mais a dizer?

Que os prezados amigos brasileiros, que tiveram a bênção ímpar de ter acesso ao espiritismo, conforme sua visão kardecista, que não o desprezem, preterindo-o a outras seitas e interpretações limitadas, como aquelas que, muito embora revolucionárias em seus países de origem, não constituem nada de novo para os que seguem a cartilha universalista e científica de Kardec, tais como a Psicologia Transpessoal, os estudos de TCI (Transcomunicação Instrumental) e as análises de religião comparada que os redutos antropológicos fazem nas academias modernas. Que valorizem o imenso tesouro de verdades eternas que têm em suas mãos e, ao reverso de substituir tal pérola de sabedoria, por bijuterias do conhecimento esotérico, que tudo leiam e avaliem, mas com esse parâmetro superior de análise e saber, já que muito tempo ainda correrá até que o conhecimento esotérico-espiritualista do exterior alcance o nível de maturidade e de profundidade que atingiu o Espiritismo, em considerando o seu corpo completo de sistema filosófico, científico e religioso de pensamento.

(Diálogo travado em 6 de abril de 2004.)