Benjamin Teixeira,
em diálogo com o
Espírito Eugênia.

(Benjamin Teixeira) – Eugênia, é você? quer conversar agora?

(Espírito Eugênia) – Sim.

(BT) – Você quer me dizer alguma coisa?

(EE) – Não. Quero que você me fale.

(BT) – Sim. Mas achei que você tinha algum propósito, chamando-me até aqui.

(EE) – Sem dúvida. Que dia é hoje?

(BT) – O da abertura dos portos brasileiros às nações amigas, em 1808.

(EE) – Sim. E o que você acha que isso poderia significar?

(BT) – Desculpe. Você me pede que o faça simbolicamente, espiritualmente?

(EE) – Sim, com um toque de pragmatismo.

(BT) – Abrirmo-nos a todas as influências, para nos enriquecermos com todas elas.

(EE) – “Abrirmo-nos a influências” creio não seja o melhor, porque insinua que não serão filtradas, antes de serem introduzidas no universo psíquico interior. Digamos: “abrirmo-nos a todas as fontes de informação”. Conferiremos, a posteriori, às informações havidas, eventualmente, o status de influência ou não, de acordo com nossa avaliação íntima, quanto qualidade do material recebido.

(BT) – Interessante.

(EE) – Algo mais acredita que esta data possa representar?

(BT) – Lembro-me de que, para a família real portuguesa, para toda a corte e principalmente para o povo português, que foi abandonado às traças e às tropas de Napoleão, constituiu uma tragédia para Portugal ter acontecido este traslado, em rota de fuga aos ataques do famigerado “Corso”, para uma terra de ninguém como o Brasil daqueles dias, e de que isso muito beneficiou nosso país, acelerando o processo político de independência, que aconteceu apenas 7 anos após a saída da realeza e aristocracia portuguesas da minúscula capital da Colônia, elevada à condição de “Vice-Reinado”, a cidade maravilhosa com seus então risíveis 50 mil habitantes. Hoje comentava com Wagner, por exemplo, sobre os ganhos havidos à época, com a presença da realeza de Portugal em terras tupiniquins, desde a fundação do “Banco do Brasil” e do “Jardim Botânico” à instituição da “Biblioteca Nacional” (se não me engano), entre outros…

(EE) – Ou seja…

(BT) – Sim… situações aparentemente desesperadoras podem se converter, sobremaneira quando geradas por “erros” de terceiros (como a postura desertora e covarde, irresponsável com seu povo, do rei português), em fomentadoras de grande progresso ou grande incentivo à nossa transformação íntima para melhor.

(EE) – Muito bem. Então, em vez de nos lamentar pelos equívocos em que outros incorrem na relação conosco, poderíamos nos sentir agradecidos, paradoxalmente – estou certa?

(BT) – Sim, se bem aproveitados os estímulos (deixando de vê-los como ataques), na reação construtiva de fortalecimento íntimo, e não de revide ou lamúria, no complexo de vítima que nos consome forças, aumentando problemas e subtraindo meios de solução.

(EE) – Exatamente. E você, que acha mesmo do assunto?

(BT) – Não sei o que pretende que eu diga, minha diva…

(EE) – Diga: “minha dama”, porque isso indicará que estou representando sua alma (na acepção da psicologia junguiana, “anima”), sua condutora ao processo de integração psicológica e aproximação do Self, de sua identificação com Ele, após o despertar de muitos aspectos em potencial do anjo interior na sua intimidade, que jazem, por ora, adormecidos.

(BT) – Mas o sentido não é o que importa? Quis dizer isso…

(EE) – Precisamos ter cuidado com as palavras. Chamar alguém de “deus” ou “deusa” nunca é bom. O inconsciente ouve palavras e assimila conceitos – tanto o de quem diz, como o de quem ouve. Há um “deus”, na interioridade de cada um, mas com valor para definir rumos a si mesmo e não para outrem. Por outro lado, há Deus transcendente, “externo”, o(a) Criador(a), que não pode ser Substituído(a) por outro(a) “deus”(a), em figuras humanas. Quem quer ser “deus” (ou seja: definidor) dos outros é o ego e não o Self – o ser nobre dentro de nós. Isto é, devemos preservar e honrar, na máxima medida ao nosso alcance, o respeito ao livre-arbítrio e discernimento, uns dos outros, sempre. Isso é uma regra constante a ser aplicada em nosso universo de sentimentos, ainda que, pela conduta externa, em função mesmo de responsabilidades com que nos envolvemos (e nos comprometemos), possamos até parecer não estar nesta sintonia. Professores, magistrados, pais (com seus filhos) sacerdotes são profissionais ou pessoas com funções sociais imprescindíveis ao bom funcionamento das comunidades humanas, que parecem ocupar o lugar de atuação divina na vida de seus semelhantes, e a Divina Providência o faz (propicia aconteça isso, quer que assim seja) propositalmente, para que as criaturas se desenvolvam, no esforço de servirem-se umas às outras. Mas tais atividades de elevadíssima responsabilidade devem ser exercidas com o máximo sentido de reverência e respeito, no constante padrão de estar cônscio(a), aquele(a) que as assume, de ser tão-só Espelho da Luz Divina, e não portador de uma “luz própria”, que é diabólica, quando implica que o indivíduo se considera com autoridade natural (e não por contingência de trabalho ou missão) para determinar, julgar ou fazer escolhas por seus irmãos em humanidade.

(Diálogo travado em 8 de janeiro de 2010).