Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.


Eugênia, uma jovem, no início da casa de 20 anos, procurou-me com um drama que, ao que me parece, tem se tornado cada vez mais comum. Diz que quando, na área do trabalho, as “coisas” estão indo bem e a ponto de darem certo, zás!… tudo se esboroa!, ou, como se diz no popular: “dá tudo p’ra trás”. Ouço esta ordem de lamentação tanto em relação à vida profissional, quanto à afetiva. Há, por fim, os que dizem sentir problemática símile, no que concerne à vida espiritual. Que teria a dizer a ela – e a todos que se sintonizam com sua aflição?

Que cada um incurso em experiências de bloqueio aparente dos fluxos da abundância e da prosperidade verifique quais possíveis causas para tanto. Não me refiro aqui somente às causas, num nível humano de cogitações e de análise, o que a razão e o bom senso possam alcançar, mas que se estenda a reflexão para o plano moral e espiritual.

Por exemplo, alguém dado à arrogância, supondo-se digno de prerrogativas, de privilégios sobre demais pessoas, pode ser sucessivamente “punido” em suas expectativas de sucesso, a fim de que desenvolva um espírito de reverência diante de Deus e de respeito fraterno, em regímen de igualdade, em relação aos irmãos em humanidade. Há quem diga ser humilde em relação ao Criador, mas que olha com desprezo e desdém para gente que, amiúde, é até superior a ela, em termos morais (e evolutivos). As circunstâncias da vida, assim, podem estar sugerindo, de modo mais enfático, quase coercitivo, que esta pessoa reflita sobre seus pontos de vista, suas crenças sobre quem é e sobre o que “merece” receber da vida, etc. Se, todavia, ela descambar para o complexo de vítima, para a revolta, para a indisciplina dos sentimentos, reforça os aspectos negativos de si mesma, ao reverso de curá-los – que era o fim da vivência amarga.

A perplexidade em relação ao momento ruim, a não-aceitação do fracasso, em certa medida, já podem indicar que a pessoa se julga superior a outras, pois que os insucessos poderiam acontecer com terceiros, mas não com ela. Num mundo onde bilhões de pessoas passam fome diariamente, ter dificuldade para arranjar uma oportunidade de trabalho e mantê-la é a norma e não a exceção.

Por outro lado, a análise superficial de motivos pode conduzir a pessoa a conclusões equivocadas. É comum, por exemplo, que profissionais competentes, no plano técnico, intelectual, sejam sofrivelmente desenvolvidos em habilidades relacionais, hoje já compreendidas como indiscutivelmente necessárias. A precariedade de “inteligência emocional”, para usar os termos modernos, pode e é, com muita freqüência, o motivo de retumbantes derrocadas profissionais. A pessoa com baixa capacidade relacional, pouco simpática, que exala uma aura de ameaça para outros colegas de profissão, para superiores e subalternos na hierarquia do ambiente de trabalho, quando preterida, costuma se sentir injustiçada, sem prestar atenção nos seus visíveis (para os outros) pontos fracos, o que lhe seria muito útil.

Por outro lado, há a considerar a idade. Se até profissionais na maturidade podem sofrer reveses, como demissões, perda de cargos de chefia, falência (para os empresários), que se diria de uma jovem no início de carreira? Um dos aspectos mais importantes no aprimoramento das aptidões profissionais é justamente a resiliência a derrotas na carreira. Atualmente, grandes organizações internacionais, de tal modo têm consciência disto, que avaliam a qualidade de possíveis contratados, por meio da análise de suas fichas de fracasso, ao lado da ficha de talentos e realizações. Se uma jovem antes do trinta anos sente-se “destruída” por um revés profissional, deve se apressar em gerar e dilatar resistência a este gênero de ocorrência, que tornará a acontecer em seus caminhos – não se tratando isto de uma visão negativista da vida, mas, tão-somente, de uma percepção realista da existência, que é tecida de desilusões, rupturas e recomeços, assim favorecendo crescimento mais célere das criaturas de Deus. E se começa a supor que o Supremo Senhor ou Seus representantes têm algo a lhe dizer com isto, deve ter cuidado, para não se sentir “vítima de Deus”, o último disparate do orgulho, a buscar culpados fora de si, em vez de se responsabilizar pela queda sofrida e procurar aprender com ela.

Este é um universo de significado, de propósito, de finalidades. Tudo acontece com um fim útil, ou Deus não existiria e não seria perfeita inteligência e bondade, como perfeito e infinito é em todos os Seus atributos. Portanto, cabe ao indivíduo, primeiramente, ter paciência com o momento, respirar fundo e seguir, ainda que não consiga extrair, de pronto, as lições da experiência (o que acontece com freqüência), porque, muitas vezes, a razão maior da ocorrência nefasta pode ser, até mesmo, proteger a criatura de uma vivência desagradável, reservando-lhe uma melhor, logo adiante – o que, obviamente, só poderá saber ela mais tarde.

Que esta jovem se concentre em se aproximar mais de Deus e de seus semelhantes, de modo humilde para com o Primeiro, de modo fraterno e aberto, para com os segundos; que faça as reflexões apropriadas, nos capítulos de meditação que sugerimos acima; e que, por fim, tenha paciência e aguarde. Os jovens de hoje, mais do que os das gerações pregressas, são horrivelmente ansiosos e imediatistas, dadas as incitações terríveis à velocidade da cultura eletrônica da internet e do consumismo voraz e cruel, concluindo facilmente que, se algo não acontece instantaneamente, está perdido para sempre. Perderam, em muito, o senso de “horizonte temporal”, que lhes propicia a capacidade de planejamento de vida, uma das características fundamentais da condição humana. Não têm hoje a consciência de que certas conquistas, para serem feitas; e certos patamares de êxito, para serem galgados, demandam tempo… muito tempo, contados em anos (e não em meses ou semanas) de esforço, disciplina, persistência, paciência.

Eugênia, gostaria de retomar apenas um dos pontos ventilados por você. A questão da “arrogância punida”. É sabido que o mundo está cheio de arrogantes bem-sucedidos que, ao menos no capítulo específico que tratamos: o sucesso profissional, vão muito bem, obrigado. Que nos diria sobre isto?

Estes sequer atingiram o nível de poderem suportar a reprimenda. Já no caso de Inteligências mais amadurecidas, moral e espiritualmente, “não suportam ser arrogantes” – digamos assim. Obviamente que isto se processa em nível inconsciente, como, principalmente, os processos auto-sabotadores ou a atração mística de situações de boicote ao êxito. Assim, melhor ser alguém que tem consciência bastante para se exigir progresso, do que estar no nível do psicotipo que, por assim dizer: “agüenta-se” mau e fútil, porque, então, atrairá experiências muito mais amargas, no futuro, dado o carma que acumula sobre si e as necessidades mais dramáticas de dor, a fim de que quebre a ostra da própria insensibilidade. Não raro, os próprios orientadores espirituais da pessoa – e não propriamente forças da sua superconsciência – providenciam tais expedientes do “fracasso”, com o fito de conduzirem seu pupilo a cogitações mais sérias e mais elevadas, em torno da vida e suas finalidades subidas. E fazem isto respaldados em criteriosos estudos sobre a personalidade do objeto de seus cuidados, já que contam com a probabilidade de bom aproveitamento da provação, para seu crescimento espiritual. De acordo com sua reação, porém, podem retirar o socorro “às avessas” e deixar que o discípulo incauto tome o rumo do precipício, em respeito ao seu livre-arbítrio, no que poderá se enquadrar esta pessoa naquela categoria dos “arrogantes bem-sucedidos”, programando, involuntariamente, desgraças futuras para seu destino, nesta ou em outras vidas, ou, quiçá: nesta e n’outras vidas, dependendo do grau de resistência em assimilar a lição evolutiva subjacente à expiação.

Mais algo a dizer sobre o assunto?

Não.

(Diálogo travado em 27 de março de 2005.)