Benjamin Teixeira,
em diálogo com o espírito
 Eugênia.

(Benjamin) – Querida Eugênia, em nossa palestra para hoje, escolhemos, sob inspiração de sua equipe, tema que confronta ego e transpessoalidade, em pares de fatores psicológicos semelhantes, na função imediata, mas muito diferentes nas motivações profundas, como: a segurança da arrogância presunçosa e a convicção da fé sincera e bem fundamentada. Teria algo a nos falar a respeito? Quero dizer: o que nós, seres humanos, podemos fazer, no sentido de desenvolver a autoconfiança, sem resvalarmos para os desatinos do ego e suas mil armadilhas disfarçadas, como muito bem exarado no ditado bíblico: “Vaidade, vaidade – tudo não passa de vaidade”.

(Eugênia) – Comecemos de trás para frente. A vaidade, como todos os epifenômenos decorrentes do centro de processamento mental-emocional que se costuma denominar de ego, no domínio físico de vida, não vai deixar de existir, de modo completo, enquanto se for humano. O medo, a culpa, a raiva, o desânimo, entre outros, são sistemas de reação que indicam o mecanismo de cognição-associação-e-criação da mente racional-linear-analítica-operacional-espaço-temporal. O que se pode fazer, em relação a tais constructos-efeitos do ego, é evitar focá-los e alimentá-los, com atenção e com entrega a seus reclamos poucos judiciosos, embora normalmente minuciosa e exaustivamente justificados – por atuação de outro forte apêndice do ego, considerado, inclusive, na Psicologia terrena, corretamente, como um seu “mecanismo de defesa”: a racionalização. Assim, deve-se dirigir a mente, a atenção, para os elementos correlatos a cada fator funcional do ego, só que do sistema superior em complexidade (de pensamento) e elevação moral (de sentimentos) da Supraconsciência. Por exemplo, para o indivíduo superar a vaidade ou a culpa, deve se concentrar na responsabilidade. Para sobrepujar o medo, deve focar sua mente em trabalho, disciplina e prudência. Para vencer o desânimo, deve elaborar suas pendências relacionadas a alinhamento de sua rotina com a vocação pessoal e com práticas espiritual-religiosas que lhe favoreçam a conexão com o Plano Superior de Vida e a Própria Divindade.

Outro aspecto importante a se considerar: estas mudanças devem ser esperadas de molde a se processarem paulatinamente e não de forma brusca, porque a modificação repentina é, em termos genéricos e práticos, impossível – inobstante possa ocorrer esporadicamente, mas não sob controle do ego, a determinar que aconteça esta transformação radical, quando e como queira, visto que se trata de resultado de um fenômeno incubado no inconsciente, de lá eclodindo, no ritmo e tempo que lhe são próprios (da mente inconsciente e todos os seus obscuros e complicadíssimos meandros), semelhante ao salto quântico, da física de partículas subatômicas, que eclode, por efeito de um acúmulo gradativo de energia, até que se dê, efetivamente, a mudança abrupta de órbita do elétron, no interior do átomo, ao se atingir o patamar de carga (elétrica) relacionada à órbita para onde este elétron se dirigirá, de modo não-espaço-temporal, “saltando” para lá. Se o indivíduo teimar em querer gerar uma modificação drástica, em curto espaço de tempo, ao alvedrio de seu ego, engendrará, em verdade, um recalque, uma repressão, supressão ou fragmentação de seu psiquismo, de sorte que o trecho de sua mente que houver sido amputado e banido da operacionalidade consciente (egóica) imerge no inconsciente, de lá vindo a retornar em configuração degenerada, assomando-se, em tempo futuro indeterminado – todavia, provavelmente nas circunstâncias menos apropriadas –, em forma de sublevação interna do sistema autônomo do inconsciente, contra a mente de vigília, a mente consciente, em suma: o ego.

(Diálogo travado em 11 de janeiro de 2009. Revisão de Delano Mothé.)