Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.



Eugênia, é correto manterem-se pessoas em organizações, por causa de laços de afinidade que se tenham entretecido com elas?

Seria o mesmo que dizer que o mais importante são as questões humanas, preterindo-se as divinas. Quando a Divina Providência determina a cassação de oportunidades no plano físico de alguém, por exemplo, pelos caminhos da morte física, não pede satisfações a quem quer que seja para fazê-lo. Simplesmente ordena-o, em função de necessidades evolutivas específicas dos envolvidos. Rupturas, demissões, enfermidades, divórcios, mortes físicas acontecem como meios de renovação da atmosfera existencial e consciencial, da paisagem de aprendizados, em vista ao crescimento do espírito eterno que é cada criatura envolvida nos dramas observados. Os relacionamentos afetivos são sempre respeitáveis e podem ser mantidos, em contatos extra-trabalho. Não se deve é fazer uso de máquinas coletivas, que têm propósitos pré-delineados para o bem comum, que não são propriedade de ninguém, para atender aos reclamos pessoais de quem quer que seja. Imaginemos como avaliaríamos o presidente de uma grande empresa preservando amigos em cargos de comando, sem considerar a questão da competência para as funções correlacionadas a estes cargos; ou de um governante eleito pelo povo que enche o seu secretariado e/ou sua assessoria de parentes biológicos. Como interpretaríamos a conduta destes homens de poder (leia-se: responsabilidade)? Exatamente: como tendo falhado em suas elevadas responsabilidades, agindo de forma anti-ética quase criminosa; diríamos mais, ou tão-somente: teriam sido incoerentes com os propósitos de sua posição, misturando questões pessoais com o interesse coletivo, que deve sempre prevalecer. Organizações existem para prestar serviços específicos, para crescer, fazendo crescer seus componentes, mas apenas se estiverem alinhados com seu eixo fundamental. Não estando, são os elementos individuais que têm que ser apartados, e não a engrenagem toda a ser prejudicada, em função dos interesses particulares, pois que, em última análise, todos perderão, inclusive os que pareciam estar sendo beneficiados, como o tecido cancerígeno, que carcome o organismo, para, por fim, morrer junto com ele. O desligamento de alguns dos associados a organizações e a ligação de outros devem ser entendidos como procedimentos de rotina administrativa. Empresas eficientes demitem e admitem funcionários com agilidade e lógica, conforme os trâmites das necessidades do corpo coletivo e seu funcionamento saudável. Levar para o lado pessoal eventos como estes é demonstrar alto grau de imaturidade ou, quiçá de más intenções; talvez alguém interessado em se escorar em pessoas ou em instituições, para se poupar do esforço de se esforçar e se aprimorar. Gente interessada em receber benefícios do Estado, por meio de relações importantes, normalmente quer acobertar sua incompetência e sua motivação de vampirizar, preguiçosamente, o erário público. O mundo da iniciativa privada demonstra a validade deste princípio, de modo mais claro: que vençam os mais capazes, que subam os que prestam melhores serviços e resultados, e, com isto, todos se esforçam para dar o melhor de si, e todos ganham com isto. Que haja proteção dos mais fracos, mas não conivência com o vício, a preguiça e arrogância de quem quer se impor a todo custo, sem ter aptidão sequer à funcionalidade de certas atividades, quanto mais à liderança.

E que dizer dos que se põem como vítimas em tais situações, e ainda falam mal de ex-chefes e organizações de que participaram?

Há um princípio elementar e universal na avaliação de candidatos, em entrevistas para ocupação de vagas no mercado de trabalho: quem fala mal dos antigos empregos, chefes e colegas não é digno de confiança; é visto imediatamente como mau caráter; e os responsáveis por fazer a triagem de candidatos são instruídos a descartar tais tipos sumariamente. Vitimizar-se é sempre a postura psicológica da criança, do hipócrita ou do iníquo. Portanto, deve ser combatida severamente, principalmente em meios que se digam religiosos ou espirituais. Quem se coloca como “pobre coitado injustiçado” costuma ser tirânico em seus relacionamentos interpessoais, tentando manipular, através da culpa e do jogo do “disse-não-me-disse”.

Recentemente, você determinou o desligamento de dois diretores do Projeto Salto Quântico e empossou novos dez, em posições estratégicas. Que teria a dizer?

Não fazemos uso de nossa organização para agradar pessoas ou atender-lhes aos caprichos e a desejos pessoais, principalmente quando há distorção da linha-mestra de nossas idéias e postulações, pelo que somos responsáveis diretamente. Assim, muito agradecida pela participação, por vários anos, de nossos amigos, inspirei diretamente um a tomar a iniciativa de desligar-se, e pedi a um outro, expressamente, por via mediúnica, que se desvinculasse dos cargos que ocupava. Isto deve ser entendido com tanta naturalidade como o dirigente de uma universidade que remanejasse o quadro de professores da instituição, conforme necessidades específicas da grade curricular, ou mesmo de incompatibilidades de alguns elementos com o campo político e filosófico da instituição. São pessoas de caráter ilibado, que merecem nossa confiança e respeito. Mas, em nova fase do projeto, estamos convocando pessoas novas, para novos departamentos de serviço, com aptidões mais apropriadas, a assumirem postos de liderança pré-estipulados para elas, antes mesmo da atual reencarnação. Se elas vão cumprir ou não apropriada e completamente o papel que lhes delegamos, o tempo dirá, e, caso não ajam a contento, naturalmente serão também desligadas e substituídas por outras. Este conceito não é novo. Tal declaração aparentemente dura (realista e honesta, na verdade) foi dita para o próprio Kardec, o ínclito codificador da Doutrina Espírita, quando lhe foi informado, por via mediúnica, que se ele não desejasse assumir a tarefa ou não agisse de acordo com os elevados misteres que lhe estavam sendo confiados, outro seria posto em seu lugar, já que o que importava era a obra coletiva, e não as questiúnculas de personalidades isoladas. No que concerne aos dois amigos desligados, não houve propriamente falha no cumprimento do serviço, mas apenas inadequação para o novo período de atividades e responsabilidades expandidas do projeto. Precisávamos, assim, de indivíduos mais afinados com a veia-mestra ideológica do projeto, a fim de que o alicerce do edifício que planejamos erigir seja suficientemente sólido e firme.

Mais algo a dizer sobre isto?

Não, satisfeita.

Obrigado, Eugênia. De fato, sentimo-nos em magnífica fase de criatividade e crescimento do projeto em todos os sentidos.

Mantenhamo-nos vigilantes no proceder, e focados na meta a alcançar, orando e trabalhando sem desânimo ou vacilações.

(Diálogo travado em 9 de agosto de 2005.)