Sadomasoquismo, assexualidade, homossexualidade, homofobia, androginia, desejo e castração sexual, integração psicológica

(Benjamin Teixeira de Aguiar) – Adorável Eugênia, em nossa palestra de hoje, trataremos do assunto “descobrir, viver e desenvolver o masculino, de modo produtivo e em sintonia com o bem”, não importando o gênero ou a orientação sexual de quem se empenhe nesse processo. Você nos poderia dizer algo a respeito?

(Eugênia-Aspásia) – Sim. Embora haja o risco de nossas proposições parecerem preconceituosas ou arbitrárias, é-nos indispensável estabelecer, ao menos em caráter didático, uma certa especialização de aptidões psicológicas, dispondo-as em categorias de funções psíquicas, sob a ótica da polarização psicossexual. O desagrado inicial que essa perspectiva dicotômica eventualmente cause em alguns(umas) pode ser diluído com as três premissas que se seguem:

1) buscamos uma abordagem propedêutica,
2) analisamos a humanidade terrena em sua atual condição evolutiva, que muito distingue as inclinações psicológicas dos dois gêneros, e
3) atendemos ao que nosso público, mais preparado e maduro, deseja ouvir.

Ademais, cabe lembrar que, após o desenlace do aparelho biológico, a alma pode mudar de sexo ou simplesmente perder sua identidade sexual, apresentando uma conformação andrógina – fenômeno bastante comum no Plano Sublime de vida, em cujas faixas de consciência os indicativos anatomofisiológicos da sexualidade desaparecem gradativamente, até a completa extinção.

Logo, o fato de atribuir virtudes a um sexo não é demérito ou mérito para ninguém, porque todos(as) fomos ou seremos mulheres e homens – em verdade, todos “estamos”, e não “somos”, mulheres ou homens.

Em considerando essas ressalvas, podemos asseverar, sem receio de incorrer em faltas adicionais, que o universo masculino, no âmbito psicológico, é constituído basicamente de:

1) atividade,
2) assertividade,
3) agressividade,
4) foco,
5) firmeza,
6) objetividade,
7) externalidade,
8) pragmatismo,
9) racionalidade,
10) lealdade.

(BTA) – Wow! Fantástico, Eugênia! Alguns desses atributos, porém, parecem inclusos em outros, não? Por exemplo: firmeza e agressividade.

(EA) – Engana-se, amigo. Firmeza antepõe-se a flexibilidade. Pode-se ser muito agressivo(a), sem firmeza; e extremamente firme, sem nenhuma agressividade.

(BTA) – Muito interessante! Sim, sim… é verdade! Conheço mulheres altamente flexíveis e tremendamente agressivas. A flexibilidade seria um traço mais típico da feminilidade, correto? Você desejaria enunciar as características femininas que se antepõem aos elementos masculinos acima enumerados?

(EA) – Sim, flexibilidade seria um apanágio feminino. Deixemos, entretanto, para a preleção pública da próxima semana, a análise do polo oposto, o feminil, que na realidade – reforçando o esclarecimento já exarado – pertence à humanidade inteira. Trataremos não da mulher propriamente, mas da feminilidade: o lado feminino que existe tanto em homens quanto em mulheres, assim como o masculino habita igualmente o psiquismo de toda a espécie humana.

(BTA) – Que maravilha! Obrigado, Eugênia! Bem… desculpe haver interrompido. Você ia prosseguir, não?

(EA) – Sim. Primeiro, tais qualidades precisam ser descobertas. Se não são imediatamente detectadas, compete ao indivíduo despertar em seu arcabouço psicológico, mesmo que em grau elementar, as habilidades de que se sinta carecente, já que essas lacunas podem comprometer severamente sua eficiência, sua operacionalidade e até sua saúde integral.

Atente-se para o que dissemos: “despertar”. Ainda que a pessoa mui sinceramente conclua não portar qualquer propensão à qualidade em foco – como a própria firmeza que mencionamos –, essa constatação se assenta em uma delusão emocional, que precisa ser ignorada e refutada com a convicção filosófico-espiritual de que o ser humano é completo em si mesmo, conquanto muitos dos aspectos que o componham mentalmente possam estar em nível embrionário, imersos e difusos no que a psicologia denomina genericamente de “inconsciente”.

(BTA) – Despertar… Como?

(EA) – Simplesmente agindo como se já detivesse aquela virtude: a princípio, em situações seguras, que exijam muito pouco da aptidão específica; a posteriori, em circunstâncias mais ousadas, que treinem, robusteçam e consolidem o talento em gérmen.

(BTA) – Hum… Muito bom. E desenvolver… creio que vá falar sobre isso… Estou antecipando demais seus passos? Iria mesmo discorrer acerca desse ponto agora?

(EA) – Sim. O segundo ponto, de fato, é o do desenvolvimento, que ocorre tão só – escusem-me o pragmatismo e foco viris aqui em curso – pelo exercício.

(BTA) – (risos) Você é ótima, Eugênia!… Vou me conter em outras perguntas que espocaram em meu cérebro, embora você já as conheça… porque acredito que deseje passar para o terceiro tópico, muito importante: o da aplicação construtiva e das finalidades espirituais das faculdades masculinas, não é isso?

(EA) – Antecipo-lhe a resposta às indagações que preferiu não verbalizar. Meu psiquismo descansa num estado de androginia perfeita, para os padrões evolutivos da Terra dos dias correntes. Ou seja, tenho em equilíbrio absoluto – repito: para os parâmetros da civilização terrícola de hoje – as qualidades simbolicamente relacionadas à masculinidade e à feminilidade, a despeito de ostentar uma constituição perispirítica feminil à psicovidência dos(as) amigos(as) que me captam a personalidade.

Muito me apraz envergar a imagem de Aspásia de Mileto1, por ter sido uma reencarnação que me engrandeceu enormemente na condição de mulher. Com gratidão e zelo, identifico-me com o gênero feminino, e esta minha escolha pessoal é reforçada sobremaneira pela necessidade coletiva de valorizarmos a feminilidade no globo terrestre, em que cumpro a responsabilidade de líder de multidões, na dimensão física e extrafísica de existência.

A liderança lúcida que preciso exercer, nesta posição, tem sido milenarmente vinculada ao sexo masculino, o que não representa uma verdade, em exame profundo. Assim, com todas as capacidades que normalmente se associam à masculinidade, eis-me aqui, mulher, plenamente mulher, sem precisar ser homem para dominá-las, como também não precisei sê-lo para tê-las desenvolvido em passado remoto. E a integração desses predicados em nada desmerece, invalida ou neutraliza os atributos e potenciais que me caracterizam o ser feminino totalmente maduro, para o presente estágio evolutivo da humanidade no orbe.

(BTA) – “Plenamente” mulher… O que você quis dizer com isso?

(EA) – (risos) Agora é a minha vez de rir. Sei de sua preocupação em revelar que sou assexuada há mais de mil anos, no que concerne às minhas descidas ao proscênio material de vida, mas me permita declarar: cuidado preconceituoso de sua parte.

(BTA) – Pensei no preconceito de certos(as) leitores(as). Não poderiam eles(as), por um tabu bobo, sem importância alguma, se bloquear ao benefício que aufeririam de sua sabedoria ímpar?

(EA) – É exatamente essa a justificativa que se costuma utilizar quando se fala em racismo ou homofobia na intimidade. “Não tenho nada contra gays ou contra negros(as). Inclusive, tenho amigos(as) que são gays e negros(as). Mas jamais permitiria que um(a) filho(a) meu(minha) se inclinasse à homossexualidade ou se casasse com um(a) ‘negrinho(a)’… pelo bem dele(a), é claro, para que não sofra preconceito…” O que você me diz de alguém que assim articule sua opinião sobre essas formas de discriminação?

(BTA) – Hipócrita, em não se julgar homofóbico(a) e racista. Reconheço, muito sinceramente, meus laivos de discriminação em relação à sexualidade. Todavia, com respaldo em pareceres de estudiosos(as) de religião e espiritualidade de todas as culturas e épocas, entendo que o ser, à medida que evolui, transcende as manifestações do desejo carnal, sublimando sua afetividade, na direção do coração e do amor universal.

(EA) – Sim, esse ideal se concretizará quando não existirem mais corpos humanos, que têm base fisiológica animal. Nada há de torpe ou primitivo nas funções animais do sexo. São apenas animais. O que é animal, desde que gerenciado pelas diretrizes espirituais do intelecto e do sentimento, pode ser perfeitamente moral, justo, bom e mesmo desejável, para o aprimoramento e a sublimação da criatura.

Conforme elucidam a psicologia, a psicanálise e a psiquiatria do próprio domínio de matéria densa, a castração é que constitui o problema essencial ou, como melhor podemos asseverar, a principal origem dos males que infestam o campo da sexualidade, em consórcio com outra geratriz correlata, situada no extremo oposto do espectro dos distúrbios sexuais: a liberação irresponsável de impulsos.

Por isso, meu filho, grandes seres de luz, ao reencarnarem, apresentam desejo sexual, com a mesma naturalidade com que sentem fome, sede ou sono. São funções do organismo, que inclusive podem se revestir de profunda sacralidade, em magníficas expressões da alma. A carícia materna, por exemplo, é um toque físico que amiúde se faz mensageiro do sentimento divinal de desvelo absoluto, a ponto do autossacrifício pelo rebento. O beijo entre os(as) amantes é um toque físico igualmente. Qual será a diferença entre o(a) bebê lactente que suga o mamilo materno – por sinal, um órgão sexual também – e o(a) amante afetuoso(a) que acaricia os seios da amada, em termos de permuta de ternura e doação de amor?

(BTA) – Ai, meu Deus!… Que “nervoso” me dá ouvi-la falando e escrevendo dessa maneira, escancaradamente transparente… Ai, meus(minhas) leitores(as)!… (risos)

(EA) – Vão adorar. Os(as) que nos procuram precisam exatamente do que oferecemos. As religiões e os discursos sobre espiritualidade, de um modo geral, andam em grave descompasso com os valores da modernidade e com os avanços científicos da atualidade, degringolando em adulterações lamentáveis da vivência da fé, como as diversas ordens de crendice popular, de misticismo barato, de sectarismo e fanatismo anacrônicos. Com isso, muitos(as) discípulos(as) da verdade afastam-se do inapreciável patrimônio de conquistas e realizações espirituais autênticas, lastreadas em milênios de atividade e acúmulo de conhecimento de respeitabilíssimas tradições do Oriente e do Ocidente.

Qualquer pessoa sensata, independentemente de definição religiosa ou contexto sociocultural, tem consciência do acerto das ideias que aqui expendemos, compreendendo com facilidade que o amor sexual, intrinsecamente, é tão puro quanto o materno, a começar da obviedade ululante de que só existem mães porque antes houve a cópula sexual que as gerou.

A proibição tácita de até mesmo se tocar no assunto indica um morbo psicológico a ser extirpado da mente coletiva, uma vez que adoece milhões de indivíduos, degenerando-lhes as manifestações afetivas, originalmente saudáveis, em maltrato partilhado, consentido ou compulsório – o sadomasoquismo, muito comum no planeta, tragicamente retrata o que pretendemos dizer.

(BTA) – Então, não é preconceito afirmar que o sadomasoquismo é uma patologia do comportamento sexual?

(EA) – Não, meu filho. Não se trata de preconceito e sim de uma questão de princípio. Amor é amor, e não dor. Pode-se doer de tanto amar, como muito bem sabem os(as) que sentem no peito o aperto da saudade, mas não propositalmente impingir dor, por amar, qualquer que seja a modalidade de tortura.

Ao nos referirmos a sadomasoquismo, no entanto, aludimos não apenas ao distúrbio da conduta sexual, que infecta a cultura moderna, mas também a uma série de manobras inconscientes (muitas vezes conscientes) de manipulação de culpa, de opressão pela ameaça de abandono, de ataque à autoestima alheia, entre outras que se infligem aos mais caros afetos d’alma, incluindo filhos(as), pais(mães) e cônjuges, seja por atitudes prosaicas do dia a dia, como as generalizadas picuinhas domésticas, seja por lances mais ousados e graves, quais os movimentos de interferência sobre a carreira, a vida relacional ou a vocação espiritual de entes queridos. Onde comparece o poder, o amor se ausenta – um conceito fabulosamente acertado que o egrégio colega em psicologia Carl G. Jung legou à humanidade.

(BTA) – Homens ou temperamentos mais masculinos têm uma forte inclinação nesse sentido, de abuso do poder, não é?

(EA) – Sim, forte. A agressividade, o foco, a externalidade, a assertividade, o pragmatismo, como todos os demais itens que elencamos de início, favorecem o ímpeto por conquistar, dominar, oprimir o(a) outro(a). Mas não se deve descurar das formas dissimuladas de uso indevido do poder, largamente empregadas por mães possessivas e mulheres sedutoras, que, através de seu animus perverso – isto é, de sua faceta masculina degradada –, castram e controlam seus objetos de afeto, não raro à base de falsidade e perfídia, quando se deixam possuir também pelos aspectos negativos da própria feminilidade.

(BTA) – Como aplicar no bem, então, os predicados de nossa masculinidade?

(EA) – Sendo varonilmente lacônica, novamente: aplicando-os no bem (risos). Toda criatura sabe quando está utilizando apropriadamente uma tendência psicológica ou um talento intelecto-moral que porte.

Aplicá-los no bem significa canalizá-los prioritariamente para o bem comum, que é o bem genuinamente. Aplicar tendo em vista os ditames do amor, pois somente o amor nos redime, nos plenifica e nos propicia a transcendência. Aplicar para além do ego e seus caprichos, levando-se em conta que a função ego é praticamente idêntica ao animus, o componente masculino da psique, conforme muito bem especulou também o preclaro Jung. Por isso, homens ou perfis mais masculinos são, necessariamente, mais egoicos, como se pode verificar facilmente no cotidiano.

(BTA) – Deus lhe pague, Eugênia.

(EA) – Paguem-nos o esforço pedagógico, aplicando em suas vidas os conceitos que transmitimos de nossa Esfera de Consciência. Essa é a razão por que nos comunicamos. Nosso Colégio de almas irmãs regozija-se em observar o progresso dos(as) pupilos(as) que fazem bom aproveitamento de nossas orientações, investindo-as em sua evolução e felicidade…

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Eugênia-Aspásia (Espírito)
1º de fevereiro de 2009

1. Uma das reencarnações da orientadora espiritual. Vide Últimos 45 séculos da história evolutiva do Espírito Eugênia-Aspásia (diálogo mediúnico)”.
(Nota da equipe editorial)