pelo espírito Eugênia.

Faça-me perguntas sobre a amizade.

Tudo bem. O que gostaria de nos falar a respeito?

A amizade é o referencial supremo de relacionamento interpessoal perfeito. Nas demais formas de intercâmbio relacional, existem expressões de subordinação, com níveis variados de manipulação consciente ou inconsciente dos itens: posse, poder e desejo, em particular falando daquelas que existem entre cônjuges ou amantes. Ainda quando cogitamos o amor de pais para filhos e vice-versa, notaremos, desde a manifestação de unilateralidade incondicional, num extremo do espectro, ao de exclusividade grosseira, num outro extremo, qual se tratássemos de um orgulho ou um egoísmo projetados. Uma mãe, por exemplo, que ame desmedidamente seu filho, faz isto por um comando genético do corpo, ou como uma manifestação de superioridade moral sobre ele, porque nem sequer aguarda que haja retribuição, para dar sempre, sem qualquer esperança de compensação. Já o arquétipo fraterno, que se corporifica muito bem entre amigos, como entre irmãos afinados, bem revela o tipo de horizontalidade equilibrada, de parceria entre iguais, que retrata, com fidedignidade, a igualdade fundamental que existe e deveria ser materializada entre todas as criaturas, já que a subordinação de todas elas só deve acontecer em relação a Deus.

Mas não existe uma rigorosa organização hierárquica no plano superior de consciência, muito embora baseada apenas no mérito intelecto-moral e não em posições usurpadas pelo uso da força ou da astúcia?

Sim, mas, ainda neste particular, estaremos vendo a soberania divina extrojetada e representada na figura dos superiores hierárquicos. Assim, não se está, nas relações em que subsistem traços de subordinação, vivenciando uma experiência de ligação entre criaturas, mas se fazendo um exercício da reverência e da humildade que se deve ter em relação a Deus. Obedece-se a uma Autoridade Angelical, não por ela ser fundamentalmente superior, já que é apenas mais evoluída e tão criatura de Deus como nós, mas por ela muito melhor representar os desígnios do Todo-Poderoso.

Eugênia, polemizando um pouco: o arquétipo fraterno, bem representado no símbolo do gêmeo tenebroso, pode ser altamente negativo, malévolo. O que isto teria a ver com a idealidade que você sugere neste arquétipo?

Muito bem lembrado. Não podemos assimilar todo o conteúdo de um arquétipo, sem considerar e processar sua ambiguidade. Sem dúvida alguma, o arquétipo fraterno não só inclui a figura do “maior inimigo”, mas amiúde está representado mais nela do que na do “melhor amigo”. Dificilmente alguém vai dormir pensando no melhor amigo e no quanto é feliz por conhecê-lo e ter-lhe a presença na própria vida. Mas é extremamente comum o relato de pessoas que perdem noites sucessivas e até anos de suas existências, quando não chegam mesmo a ser conduzidas ao óbito, pela animosidade e ódio que nutrem por uma personalidade específica. As vertigens emocionais provocadas por tal pessoa, a importância a ela vinculada, bem qualificam o quanto o indivíduo visto como “inimigo” espelha questões íntimas capitais para o que se diz prejudicado ou injustiçado. Não por acaso, Nosso Senhor Jesus sugeriu-nos amar os nossos inimigos e fazer bem e orar pelos que nos perseguem e caluniam, dando uma ideia do processo de “integração” da “sombra psicológica”, que acontece através da imagem deles no interior de nossas estruturas psicológicas. Destarte, na pessoa dos que detestamos ou por quem nutrimos repulsa, vemos projetadas facetas de nosso próprio psiquismo que “não merecem” ou não gozam de cidadania na fatia consciente de nossas mentes. À medida que aprendemos a apreciar e compreender os lados positivos e os motivos profundos que levam alguém que não simpatizamos a ser quem é e como é, estamos curando as mais profundas feridas e solucionando as mais complexas questões de nossas almas.

Mais algo a dizer?

Jesus, nosso modelo moral maior, apresentou-Se como nosso irmão mais velho, sugerindo que todos fôssemos Um com Ele, assim como Ele era Uno com o “Pai”, o Ser Supremo do Universo. Asseverou, outrossim, que quem desejasse ser o maior no Reino dos Céus fosse o primeiro a servir, o primeiro a dar de si. Creio que não seja preciso dizer mais nada sobre a temática após esta Sua fala sublime.

(Diálogo mediúnico travado com o médium Benjamin Teixeira, em 22 de março de 2006. Revisão de Delano Mothé.)