Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.


Eugênia, você tem algo a nos dizer sobre o evento da morte do Papa João Paulo II?

Sim. Uma era se encerra, para a cristandade, e mesmo para toda a humanidade, e outra tem início. Tal assertiva pode parecer um exagero para alguns, mas, com uma rápida análise histórica, com a possível isenção de ânimos (tão comum como é tratar-se da temática de modo passional e portanto tendencioso), logo se verá o acerto de nossa opinião. Mais de 800 milhões de pessoas se dizem seguidoras do catolicismo, e, por outro lado, a civilização ocidental tem-se tornado progressivamente hegemônica, no plano das relações internacionais, levando consigo, em seu bojo, o poderio da Igreja Católica, ainda pujante. Por fim, não se pode menoscabar a influência política do estadista brilhante que foi o último papa, favorecendo o ecumenismo, com a aproximação entre as religiões e mesmo a confraternização entre povos inimigos, sem contar a decisiva participação no desmanche do antigo bloco comunista de países alinhados com a hoje extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Havíamos anunciado para breve o desencarne de ambos – dele e da grande médium Lúcia dos Santos – justamente porque estava isto fadado a acontecer para este primeiro semestre de 2005 (*). A espiritualidade da Terra, finalmente, sai do campo da angústia terrificante dos vaticínios sombrios, para uma era mais luminosa de paz e prosperidade, otimismo e concórdia universais, muito embora os aparentes avisos contraditórios a isto, principalmente nos atuais acontecimentos do Oriente Médio. Cabe considerarmos, todavia, que fenômenos históricos se dão em processos longos e laboriosos, que se espraiam no correr de decênios e séculos, com seus poderosos e ingentes vetores sociais, econômicos, políticos e culturais. Assim, trata-se de uma sinalização para o início da Nova Era e não, propriamente, o início, em plenipotência, desta Nova Era, em seus aspectos mais característicos de preponderância do bem e da paz por toda a parte.

Como devemos encarar estes dias?

Com a naturalidade de quem presencia processos inexoráveis, mas, concomitante e paradoxalmente, com o sentido de responsabilidade pessoal em relação ao coletivo, em função de favorecer, com iniciativas individuais e em grupo, os vetores de progresso e humanização ora vigentes nos subterrâneos do inconsciente coletivo.

Achei extraordinária coincidência o “sumo pontífice” da Igreja Católica haver deixado este mundo no dia que seria o natalício de Chico Xavier, comemorando 95 anos de existência, se estivesse entre nós. Há alguma significação implicada nesta ocorrência sincronística?

Sim. Se eventos prosaicos do cotidiano amiúde têm propósitos bem definidos, que não se diria da morte e nascimento de grandes modelos-referência da espiritualidade no planeta? O papa João Paulo II desencarna no dia de “nascimento” do grande canal do Espiritismo para o século XX, justamente numa clara indicação metafórica ao “nascimento” da tal Nova Era que acima anunciei.

Há profecias que indicam a subida ao trono do Vaticano, após o papa João Paulo II, de um “Petrus Secundus”, o Pedro II, que seria o último dos papas, que, por sinal também seria uma papa “negro”.

Como muito bem suas aspas indicaram, quanto ao grupo étnico do próximo papa, houve apenas alegoria simbólica, de que nos esquivamos estender comentários. O “negro” não alude à cor da pele. Por outro lado, o fato de chamar-se “Pedro” ou de ser o “último papa” são também “avisos” de natureza figurativa, a sugerir reflexões de estudiosos interessados em exegese profética de textos herméticos, sibilinos. Lamentavelmente, entretanto, não estou autorizada a detalhar minudências a respeito das possíveis significações e das garantidas previsões contidas nestes símbolos proféticos.

Estamos sofrendo uma crise na cristandade?

Indubitavelmente. Não é só a Igreja Católica que periclita, perdendo fiéis, por exemplo, às turras, no Brasil, para igrejas evangélicas. As próprias igrejas reformadas atravessam seus problemas graves, embora menos perceptíveis (porque não aparecem em levantamentos estatísticos), empobrecendo sua dogmática espiritual, em função de apelos subalternos para ganhos materiais imediatos. O materialismo, como cultura de consumismo e hedonismo, geminado a uma ciência míope e caolha, fixada no reducionismo materialista, triunfam e ganham adeptos em toda parte. E, entre as classes cultas, como, por exemplo, no Brasil, não fosse o espiritismo kardecista e as diversas visões espiritualistas modernas (mais fortes no exterior), o colapso da vida culta em relação à espiritualidade já teria acontecido, com perigos inauditos para a sobrevivência da humanidade no globo, já que as classes esclarecidas, com grande poder de influência e liderança das massas populares, estariam inclinando todo o grupo humano ao precipício da auto-extinção.

Vamos vencer? Digo: a espiritualidade, a fé, o bem vão vencer?

Certamente. Deus está por detrás de tudo. E contra Deus não há força que valha. Há uma permissão tácita da Divindade a que todo este turbilhão de adversidades à fé aconteça, mas apenas em respeito ao livre-arbítrio dos seres humanos, que precisam aprender com os próprios erros. Há grande cópia de missionárias encarnados, todavia, que estão sendo orquestrados, paulatinamente, em diversos setores da sociedade, mas, principalmente, no setor de produção cultural, para reverter este quadro angustioso na mente coletiva. Os filmes de maior sucesso, na atualidade, apenas para dar um exemplo pálido, têm dado sinais neste sentido, não é verdade?

Sim, creio que se possa ver isso em muitos filmes, enfocando fenômenos espirituais e paranormais, além de muitos outros, com excelentes lições de moral, fomentando a esperança e a crença no poder do bem e na dignidade humana, como nas já clássicas séries de “O Senhor dos Anéis” e “Guerra nas Estrelas”. Teria algo mais a nos dizer sobre tudo isto?

Que cada um observe a morte sucessiva de ícones religiosos sem a reposição deles, em medida equivalente, de pronto. Morreram, na década passada, Madre Tereza de Calcutá (referência internacional de fé) e Irmã Dulce (o equivalente no Brasil); e, nesta primeira década do século, apenas pela metade, partiram do mundo físico Chico Xavier, o apóstolo máximo do espiritismo mundial, e, num espaço de semanas, Lúcia dos Santos e o Papa João Paulo II, referências espirituais várias vezes mais influentes ainda. Outras personalidades carismáticas ocuparão, suavemente, no correr dos próximos vinte anos, o lugar de amor e devoção por parte do populacho, pela carência ainda premente e irresolúvel (por ora), de figuras humanas que representem as potestades espirituais. Entretanto, haverá um hiato psicológico substancial, uma espécie de vácuo de piso espiritual ou lacuna na alma mundial que, para muitos, soará terrificante, dando uma certa sensação de “vertigem espiritual coletiva”, como se todos estivessem “sem chão”. Tal se dará (e já está se dando), para que a humanidade amadureça em termos espirituais, e possa adquirir maioridade (auto-suficiência e autonomia) neste sentido, com menos dependência de figuras míticas vivas, como foram, claramente, todas as personalidades que citei acima. Com isto, no momento em que os novos “embaixadores do Alto” se fizerem mais visíveis às massas populares, já não terão que assumir uma responsabilidade tão ingente ante a fé do povo, o que é extremamente saudável, indicando substancial amadurecimento psicológico do “inconsciente coletivo”, como diria Jung. Tudo isto, assim, e principalmente este “hiato de referenciais”, foi criteriosamente planejado por Grandes Autoridades do Mundo Espiritual, interessadas em acelerar o processo de evolução da humanidade, em matéria de espiritualidade, assim catalisando o terreno da fé no coração das moles humanas, por meio da carência de ídolos, sempre indesejáveis, como afirmam todos os textos e líderes sérios da espiritualidade humana.

(Diálogo travado em 3 de abril de 2005.)

(*) Eugênia revelou que se daria, em breve, a morte de Lúcia dos Santos e do Papa, quatro dias antes da morte da vidente portuguesa que foi canal para o mundo das revelações de Fátima, do que tenho testemunha de todos os componentes de nossa reunião mediúnica fechada. Na ocasião, discorreu também a mentora espiritual sobre o significado subjacente a tal desencarne geminado dos dois ícones religiosos, o que, todavia, não me é permitido ainda trazer a público, informação esta que ficou reservada apenas àqueles participantes de nosso grupo fechado de interação com a outra dimensão de vida.

(Nota do Médium)