Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Quero que você me interrogue sobre a morte do jogador de Futebol.

Dois futebolistas morreram em campo, recentemente, não é?

Sim. Isso reforça um conteúdo simbólico subjacente, não?

Sim, e o que teria a dizer sobre isso?

As celebridades representam, em certa medida, no plano simbológico, a alma das coletividades. Os jogadores de futebol, em particular, concentrando a atenção e a empatia de dezenas de milhões de brasileiros, muito bem constituem retratos místicos da condição nacional.

E o que há de errado nos brasileiros?

A coincidência de dois jogadores morrerem em campo, em curto espaço de tempo, e ambos vitimados por problemas cardiopáticos, denuncia que o “coração brasileiro” está “estressado”. Em outras palavras: o brasileiro tem o vício de ser excessivamente emocional e pouco dado a raciocínios lógicos, ao bom senso, ao uso da razão, em suma. Enquanto grupos coletivos, como o europeu, pecam pelo excesso do uso da razão, a ponto de se desumanizarem (a história das Duas Grandes Guerras bem o atesta), os grupos latinos, e o brasileiro em particular, têm falhado no sentido contrário, confiando-se demasiadamente aos arroubos da paixão.

Interessante você colocar: “confiando-se ‘demasiadamente’ aos arroubos da paixão”. Em algum momento é válido confiar-se a ímpetos passionais?

Não se trata propriamente de ser bom ou não – é um fato social e psicológico, e como fato, é neutro e deve ser considerado em sua existência, para que se possa, então, tomar providências sobre ele, “a posteriori”. É um traço cultural e psicológico brasileiro o ser passional. É uma realidade e não pode ser negada. Não adianta propormos a negação da alma nacional, porque o que se é, se é. Pode-se burilar, administrar tendências, corrigir excessos, mas ninguém reprime, sem custos tremendos, a natureza de indivíduos e coletividades.

Mas isso não contradiz nossa visão espírita evolucionista, de que o homem pode domar a própria natureza?

Notou o termo que usou? “Domar”. Não se pode castrar, e sim domesticar uma certa natureza. A evolução, sim, pode tudo. Mas a questão é o espaço de tempo em que isso se pode dar. Certas tendências e aptidões psíquicas são estruturais, e, assim sendo, demandam séculos, senão milênios para serem alteradas substancialmente. Não podem ser modificadas a golpes de marretada (leia-se, por meio da “força de vontade”, o conceito tão mal-entendido e que tanto frustra boas intenções, mas boas intenções burras). Antes de se ter “força de vontade” é preciso ter bom senso, para não se cobrar de indivíduos e grupos o que é inviável para eles. Por mais que um grupo de crianças se empenhe, não agirá como um colegiado de adultos. Por mais que acadêmicos de matemática se esforcem, nunca agirão como uma assembléia de artistas circenses.

O Brasil seria o grupo dos artistas circenses, metaforicamente, quanto a Europa Ocidental poderia estar representada nos catedráticos de matemática…

Não sei se podemos ser assim tão taxativos. A alma brasileira é muito complexa e seus potenciais não podem ser desprezados, inclusive para se destacar, como vem acontecendo progressivamente, no âmbito das contribuições tecno-científicas para a humanidade. Mas, para o que nos interessa estudar aqui, poderíamos, como hipótese de trabalho provisória, concordar com você.

Como seria viver equilibradamente o espírito passional, já que este seria o caminho mais pragmático para a gerência do espírito nacional, digamos assim, conforme esta sua linha de raciocínio?

Por meio das paixões sérias, nobres, como a do mundo artístico, religioso e cultural. Muito embora os desportos nos mereçam todo o respeito, como meio eficaz de canalizar impulsos agressivos e fomentar o espírito de grupo e de cooperação, há uma fixação exagerada da alma nacional neste aspecto particular de suas propensões de “personalidade”. Os brasileiros devem refinar sua predisposição aos sentimentos, à emoção, à intuição. Subir das descargas elétricas fulminantes do futebol – lembre-se apenas do grito de “Gool” de milhões de brasileiros alucinados, à beira de colapsos cárdio-vasculares graves, e compreender-se-á o que quero dizer. Ou seja: menos euforia e mais profundidade. Obviamente não estamos condenando os momentos de alegria, de entusiasmo e de festa, tão peculiares ao brasileiro. Mas somente isso, com desprezo a atividades mais elaboradas da psique, indica imaturidade e pobreza não só espiritual como também intelectual.

Obrigado. Deseja mais algo declarar-nos sobre este assunto?

Não.

(Diálogo travado em 9 de janeiro de 2005.)

(*) Observação:

A pedido da Espiritualidade Amiga, teremos mais uma semana de recesso na publicação de psicografias inéditas neste site. Será uma oportunidade, conforme nos disse Eugênia, de fixarmos o conteúdo de algumas composições de conteúdo mais significativo, que foram aqui trazidas a lume, no transcurso do ano que passou. Na próxima semana, se Deus nos permitir, estaremos de volta ao trabalho de publicação de novos artigos de co-autoria com os orientadores alojados na outra dimensão de vida, sobremaneira a doce e sábia Eugênia.
Que os prezados amigos internautas usufruam largamente das excelentes pérolas de sabedoria, com que todos fomos presenteados em 2005, pelos bons amigos espirituais, e que estarão sendo aqui expostas, mais uma vez.
Confiando todos à Espiritualidade Superior e Fraterna,
Seu amigo e irmão em Cristo,

Benjamin Teixeira,
Aracaju, 9 de janeiro de 2006.