Benjamin Teixeira de Aguiar – Uma jovem senhora que acaba de descobrir a filha adolescente grávida está muito abalada, sentindo-se traída, em função do tanto que investiu em amor, educação e oportunidades de estudo e lazer à menina que engravidou, a seu ver – muito corretamente –, fora de hora. Você teria algo a lhe dizer, como conforto ou esclarecimento, quanto aos motivos ou finalidades da situação vexatória?

Eugênia-Aspásia – Sem dúvida, são respeitáveis todas as especulações sombrias que tomam o coração materno, no que concerne ao perigo de perda de oportunidades de aprendizado que sua filhinha ora padece. Quando vemos um(a) jovem ser privado(a) de ensejos importantes de crescimento, doemo-nos, naturalmente – dor moral essa muito mais agravada, em se tratando de entes queridos.

Entretanto, importa considerar que, talvez, no caso em foco, aconteça o contrário do que se pode deduzir em primeiro exame. Isto é: podemos estar diante de uma graça e não de uma desgraça. Amiúde, para jovens excessivamente imersos nas perigosas ilusões da adolescência abastada, com acesso fácil a consumo e lazer, uma experiência traumática (mas benéfica em última análise, a longo prazo, por propiciar um processo de ruptura com vícios de difícil erradicação) pode constituir o derradeiro recurso de salvação a que seus orientadores espirituais precisam apelar.

A maternidade é sempre uma bênção – devemos nos recordar disso e fixar bem a ideia. O que a moça logrará conquistar, em termos de maturidade, ao se ver obrigada a assumir responsabilidades com um entezinho que lhe será confiado por Deus, é um presente, por ora, inaquilatável. De tal modo lhe favorecerá um verdadeiro salto quântico de transformação íntima, fazendo-a catapultar-se a um nível mais alto de consciência (e, por conseguinte, de avaliação da vida, dos próprios valores e sua respectiva escala de prioridades), que seria de perguntarmos: é este, realmente, um momento de lamentação, ou seria, em verdade, de celebração? Talvez devêssemos parabenizar a jovem e sofrida (quase) avó, por lhe ter sido providenciada, em tempo, medida socorrista com grande potencial de gerar efeitos positivos, profundos e duradouros na filhinha estroina. O sagrado ofício da maternidade, concedido à sua pupila adorada, pode-lhe fomentar um amadurecimento psicológico extraordinário, quiçá inatingível, sem longos anos de desilusões e sérios compromissos cármicos assumidos.

É perfeitamente compreensível também que se presuma não ser o pai da criança o homem ideal para a partilha de uma vida a dois, em vista da faixa etária de ambos, que em muito lhes dificulta a aptidão para uma escolha apropriada, isenta de emoções e paixões mais grosseiras. Contudo, não se deve misturar, em princípio, o instituto da maternidade-paternidade com o do matrimônio. Embora em circunstâncias ideais seja desejável que o surgimento dos rebentos aconteça num ambiente doméstico equilibrado, acolhedor e harmônico, maduro e sereno – forrado, portanto, com a presença de pais casados e bem casados –, entendamos que, em contingências humanas normais para a Terra dos dias de hoje, até mesmo os elementos problemáticos da relação conjugal dos pais da criança apresentam capítulos de estímulo à evolução para o espírito que renasce.

BTA – Mais algo a dizer à mãe-avó sofrida?

EA – Muito melhor ter uma filha grávida precocemente do que, por exemplo, viciada em drogas lícitas ou ilícitas; ou perdida no universo da futilidade típica dos que, mais endinheirados, trafegam pelo delicadíssimo período da adolescência; ou mesmo desencarnada antes da hora, pelas vias de um suicídio direto ou indireto – como poderia ocorrer, entre outras causas, por uma overdose de tóxicos. Em futuro não tão longínquo, poderá a mãe-avó aflita estar agradecendo, enfaticamente, pela excepcional iniciativa da Misericórdia Divina, em expedir artifício de corrigenda ao tesouro de seu coração (que lhe é a filhinha amada), não com um castigo, mas sim um prêmio: a dádiva de um dever moral, o sacerdócio da maternidade.

Eugênia-Aspásia (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
16 de agosto de 2007