Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.


Gostaria que você me fizesse perguntas a respeito desta terrível crise que a nação atravessa, relacionada à moralidade.

Sim, Eugênia. Que teria a dizer sobre tudo isto?

Que, de fato, a corrupção é um dos indícios de inferioridade moral de um povo. E que a tendência à promiscuidade em todos os sentidos está incrustada na alma nacional, em todos os níveis. O estudante que “cola”, em sala de alma, e se sente esperto por isso – prática generalizada no país. O pai que se diverte com a astúcia sexual do filho, ludibriando moças bem intencionadas, aprisionando-lhes os corações, em troca de sensações baratas. A mãe que diz à filha que troque o parceiro do coração pelo partido endinheirado ou “promissor”. Tudo isto indica uma falência moral da sociedade em todos os sentidos. A crise sugere, gravemente, que todos façam uma vasculha moral em si próprios, à cata de elementos de sintonia com a alma do país, já que ninguém pertence a um povo, sem ter motivos evolutivos para tanto.

Não significa dizer que todos sejamos indecentes…

Longe disto. Almas de escol estão reencarnadas entre vocês, em todos os departamentos da sociedade, justamente para renovar esse estado de coisas. Mas, ainda para aqueles que já forem nobres, o contato ou o confronto com a indecência tem o efeito de reforçar a própria dignidade, pela ratificação a que o indivíduo é levado a fazer, para se precatar das seduções e facilidades prometidas pelo “caminho mais fácil” do mal.

Você colocou entre aspas…

Porque se trata de uma promessa falsa. O ditado “o crime não compensa” é mais verdadeiro do que as mentes astutas dos criminosos gostaria de admitir. Cedo ou tarde, e, normalmente tanto cedo, como muito mais quando mais tarde, o incauto que se permitiu enveredar pelas sendas do mal paga altíssimo preço por sua escolha infeliz. Estar contra as Forças Constitutivas do Universo é sempre péssimo negócio, principalmente se o desventurado não tiver a bênção da consciência sensível (sinal de evolução moral), para ficar “pesada”, com “culpa”, alertando-o de que está em descompassado com as Potências que sustentam a Vida. O efeito reverso sempre chega, um dia. Pior, se demorar. Quem tem a consciência “pesada”, corrige-se em tempo de não sofrer o pior. Quem não… sofre o que precisa, de modo mais duro e traumático, a fim de que desenvolva um pouco de sensibilidade, à custa da própria dor… em medidas tão maiores quanto maior sua resistência ao bem.

Teria algo mais a nos dizer sobre isto?

Que, da base ao topo, todos reflitamos nas atitudes e iniciativas “inocentes”, daquelas que costumam ser acompanhadas da epígrafe: “todo mundo faz”, e, de casa, a começar por nossos filhos e, principalmente, de nós mesmos, sejamos inflexíveis no que concernir à moralidade, à honestidade, a princípios. Sim, há preconceitos que se travestem de dignidade. Sim, há conservadorismo e misoginia que se fazem passar por decência, dificultando a rota do progresso. Mas não pode haver harmonia, equilíbrio e paz, sem disciplina interior, decoro na conduta e lisura nas relações interpessoais.

Complexo para o homem e a mulher comuns.

Sim e não. Há muita permissividade nos dias de hoje, e isso implica dizer que há mais impunidade, e, com isto, um convite enfático da vida a que se aja por consciência e não por obediência à práxis social ou a convenções. É uma circunstância-desafio a que cada um se lance ao mais alto padrão de consciência que possa atingir. Quando você diz que é mais complexo hoje, dado o relativismo moral e o excesso de debate sobre o que é ou não certo ou errado, confundindo o discernimento de todos, mais um motivo para que cada um se atente para a voz da própria consciência e busque, assim, referenciais interiores, mais do que regras externas, o que, portanto, favorece o amadurecimento das criaturas.

Você citou a questão da impunidade. Fala-se sobre sua eliminação, hoje muito presente no Brasil, dada a precariedade de nosso sistema judicial; e também especula-se muito, como provável causa profunda de toda esta crise, em torno da fraqueza das instituições nacionais – problemas estes que, resolvidos, elidiriam o turbilhão que atravessamos.

Está-se vendo a superestrutura, sem considerar-se a estrutura – permitam fazer uso de uma nomenclatura da sociologia, só que com significado totalmente diverso. A cultura, os costumes, as leis, e a forma como pessoas e instituições interagem são resultado do grau de amadurecimento psicológico e moral de um povo. Obviamente, não estamos desmerecendo o esforço que deve ser empreendido, no campo das iniciativas públicas, legais, políticas e mesmo burocráticas, para que se faça uma devassa e uma melhoria em todos os processos sociais. Todavia, sem remontarmos à causa profunda da questão, estaremos apenas fazendo uso de paliativos, curando os efeitos, e, ironicamente, dando oportunidade a recidivas progressivamente piores do mal ignorado, no plano subterrâneo dos eventos amiúde observados na superfície, já que estarão tendo ensejo de alastrarem-se, aprofundarem-se e consolidarem-se. Robespiere já disse, sabiamente, há mais de dois séculos: “Cada povo tem o governo que merece”. Melhoremos o povo, e teremos instituições mais sólidas, uma sociedade mais democrática, um ambiente mais harmônico e justo.

Então, caímos no campo da educação, apontada, por muitos estudiosos, como elemento etiológico de base, para as problemáticas amargas que vivemos.

Mas não podemos nos ater à educação, em sua acepção restrita de instrução acadêmica. Alimentar o cérebro sem orientar o coração, ou, em linguagem mais técnica: enriquecer a inteligência racional, sem desenvolver a inteligência emocional e moral do povo é decretar um genocídio. Povo culto sem princípios morais, desesperado e cercado de injustiças, em crise econômica cronificada… Este cenário nos lembra a Alemanha nazista, nos paroxismos de surto coletivo de megalomania bélica, nos anos 30 do século passado. É evidente que não estamos equiparando de modo absoluto o Brasil de hoje, à nação de Goethe, nos tempos áureos do Füher. Não só diferenças sistêmicas vastas nos diferenciam, como falta, a nosso povo, índole à violência, como a Europa denota há milênios. Mas quero apenas chamar atenção para o crasso erro em que incorrem aqueles que supõem que seja possível criar uma sociedade justa e igualitária, sem princípios morais. Se estes princípios se fazem ausentes, sem violência endossada socialmente, como é o caso da Europa “civilizada” dos dias que correm, a força destrutiva se introverte, e devasta os tecidos da sociedade, como ocorre nas ultra “desenvolvidas” nações europeias, com índices de uso de drogas, dissolução familiar e distúrbios psiquiátricos que aterroriza governos e analistas comprometidos. E não pode haver moralidade sem espiritualidade, sem religião, sem a cogitação da existência do Criador e sem a busca de práticas de interação com Ele. E, nisto, o espiritismo, por sua linguagem lógica e moderna, é uma bênção difícil ainda de ser apreciada em toda sua dimensão salvacionista para os dias que correm, urgindo levá-lo a todos os rincões do mundo.

Mais algo deseja dizer?

Não, em linhas gerais, era isto que pretendia dizer a respeito do momento nacional.

(Diálogo travado em 19 de junho de 2005)

(*) Ao os mentores espirituais terem pedido para publicar mensagens no fim de semana passado, supus havermos voltado ao sistema de publicação em dias não-úteis da semana. Tratou-se de situação extraordinária. Segue aqui a mensagem para esta segunda-feira, 20 de junho.

(Nota do Médium)