Benjamin Teixeira
por espíritos
incógnitos.

Alguém me pede para perguntar o que fazer para continuar trabalhando, já que não pode parar, mesmo doente e cansado.

Que se tranqüilize quanto à necessidade de se dar uma trégua. Quando um cavalo de corrida não está bem, é posto para descansar, a fim de que, renovadas as forças, possa retornar revigorado ao serviço, recobrando a excelência. A prática leva à perfeição, mas o abuso de uma função leva ao colapso da mesma. Períodos de repouso e atividade devem-se alternar, a fim de que não haja prejuízo da capacidade, e sim seu desenvolvimento. Numa academia de musculação, se um jovem se excede nos esforços, pode chegar a perder tecido muscular ou, em medida menor, reduzir o ganho de massa corpórea. É no ponto de equilíbrio que reside a excelência, como sempre.

Apesar de a pessoa estar aos farrapos, realmente estressada e enfermiça, e na iminência de começar outra longa trajetória de atividades, não podemos considerar que devemos ser determinados quando em situação crítica?

Determinados, sim, teimosos não. Alguém que não pára de dar, como se diz no vernáculo, “murro em ponta de faca”, não está sendo heróico – está sendo estúpido. Parar quando uma tática não funciona, raciocinar em busca de caminhos novos e planejar nova abordagem do problema é o caminho da verdadeira determinação, que, para sê-la, deve estar associada a princípios de bom senso, de racionalidade. Ou seja: quem não pára para usufruir, pára para redimir. Quem não suspende atividades para o lazer e o repouso imprescindíveis, vai parar com o colapso das funções do organismo, na doença, na dor, no estresse, do total esgotamento de forças físicas, emocionais e mentais. A parada que poderia ser produtiva e criativa, faz-se dolorosa e improfícua, gerando ainda maior mal estar, além dos inevitáveis e freqüentemente irreversíveis danos feitos à preciosa máquina orgânica, o instrumento de trabalho essencial e a residência à qual está atado, durante o curso de toda essa existência física.

Mas e quanto a pessoa sente que sua consciência, dramaticamente, pede-lhe que continue no posto de serviço?

Se ficar constatado não se tratar de um processo de fuga (o vício do trabalho que oculta outros problemas, o famoso, como chamam os americanos: “workaholism”), nem um mecanismo neurótico de compensação de culpa ou um conceito equivocado do sentido de dever e moral, deve-se, nesses casos, optar-se sempre pela intuição do melhor. A consciência, com a voz da paz, do sentimento de dever cumprido, a voz de Deus para a criatura, nunca mente, nunca se engana. Trata-se de um paradoxo, sabemos, dizermos isso agora, ante o que expomos acima, mas as coisas do plano absoluto sempre assim se manifestam no mundo das relatividades. Nessas circunstâncias, de reclamo imperioso da consciência, acontece, ao reverso de atitude suicida, sacrifício espiritual, meritório, sobremaneira se o esforço for feito em função do bem comum, ou de outras pessoas.

(Diálogo travado em 7 de novembro de 2002.)