Benjamin Teixeira
po
r espíritos incógnitos.

Interrogue-nos sobre tristeza.

O que nos poderiam dizer sobre tristeza?

Que é ausência de alegria. Por mais óbvio que isso possa parecer, trata-se do ponto fundamental. Ninguém fica triste: perde a alegria. A tristeza não é alguma coisa: é a ausência de outra. Ninguém é tomado pela tristeza, como se costuma dizer, mas esvaziado na alegria. Assim, não se deve lutar contra ela, que não existe, mas desenvolver o que falta. E não há alegria sem atendimento aos reclamos mais profundos da alma, da vocação, do ideal, do contato com Deus, da fé, da confiança no futuro, no ser humano e em si mesmo. Quem perde esses referenciais perde a alegria e a motivação para viver. Em vez de dar trela ao mal, procure-se ignorá-lo e aplicar-se em fazer o bem, como orar mais e fazer o bem do próximo, ocupar-se em atividades úteis e descansar com os entes queridos, familiares ou não.

O que sugerem para quem esteja numa crise dessa natureza?

Que procure se realinhar com o núcleo profundo de si. Há muitas formas de se fazer isso, mas uma essencial: ouvir-se. Quem não ouve os sinais que o mundo interior emite – insatisfação, angústia, vazio – e não os tenta traduzir para, em seguida, suprir as necessidades indicadas, vive entre um tormento e outro, entre um drama e uma tragédia, entre uma surpresa negativa e outra.

Ouvir-se não é justamente a habilidade difícil e complexa, que as pessoas não conseguem dominar?

Não. É tão simples que não percebem a obviedade. A criança chora por tudo, porque não reprime nenhum sentimento. O adulto, porém, cala, minimiza, suprime, projeta ou racionaliza as emoções mais banais. Fazer caírem as máscaras da conveniência social, dos programas culturais de desempenho e identidade, é essencial para que se conheça plenamente a si mesmo. Pode-se até preservarem-se as máscaras para o mundo exterior, se isso for julgado necessário ou mesmo indispensável, mas jamais se deve mentir para si mesmo. E mentir para si mesmo é uma das mais difíceis tentações a serem vencidas, porque protege o ego das verdades duras de insignificância pessoal e de impotência, ante os fatores ingentes e acachapantemente numerosos que cercam o indivíduo em sua pobre existência.

Isso não pode soar muito abstrato para quem lê?

Veja justamente pelo outro lado. É óbvio demais, por isso parece confuso ou profundo. Não se complique o simples. Todo mundo sabe se sente dor ou não no estômago. Todo mundo, da mesma forma, deve saber onde dói em sua alma. Dizer que não se tem condições de identificar as próprias dores psíquicas é tão absurdo como alguém dizer que não sabe se é o pé que dói ou a mão. Sutilezas de propriocepção como detectar a dor entre um molar e um pré-molar são mais raras, tanto quanto não é fácil distinguir uma reminiscência de outras vidas de um trauma da infância da atual existência física. Mas quadros essenciais de necessidade psicológica, como saber se está ou não feliz na própria vida afetiva e onde reside a satisfação ou o desconforto, são tão elementares que pretextar ignorância ou incapacidade para fazer essa leitura interior é simplesmente de uma estultícia incompreensível – o que bem atesta uma forte indução cultural no sentido de negar-se o inegável, de fugir-se ao onipresente: a própria alma, o próprio coração, o próprio ser.

Mais alguma sugestão?

A pessoa viciada na era presente de facilidades exageradas, quer respostas fáceis e prontas, como se fosse comprar um analgésico na drogaria da esquina, ou como se fizesse uma compra pela internet. Conhecer-se demanda tempo e trabalho, estudo e reflexão contínuos. Ninguém adquire saber sem fadiga nos estudos, nem excelência sem longo esforço de auto-aprimoramento no exercício de uma função. Então, que ninguém imagine que, no capítulo fundamental do ser: o auto-conhecimento, faça-se alguma coisa sem imenso e demorado trabalho.

Mais algo a dizerem sobre o assunto?

Não.

(Diálogo travado em 1 de julho de 2002.)