Benjamin Teixeira
por
espíritos incógnitos.

Querem abordar algum tema específico?

Podemos falar mais uma vez sobre intuição.

O que nos poderiam dizer a respeito?

Que se deve fazer uma distinção entre intuição e algo mais genérico, do qual a intuição faz parte, que se chama, vulgarmente, de “a voz do coração”. A intuição é a voz da verdade, enquanto o coração é a voz da totalidade no indivíduo, que inclui elementos indesejáveis que precisam ser administrados e educados e não propriamente seguidos.

Como fazer distinção entre uma e outra coisa?

Auto-conhecimento. A intuição é algo que percebe friamente as coisas, sem propriamente um julgamento de valor. A intuição apreende, não avalia. Já o coração é dado a emotividades e impulsos nem sempre racionais. A intuição pode ser transracional, mas nunca é irracional. Claro que o sentimento e a ética estão inclusos na intuição, mas quando se fala em coração, amiúde faz-se referência também a paixão e desejo, interesse pessoal e subalterno, que nunca estão envolvidos na intuição, que é um processo superior de pensamento.

De fato. Isso acontece com freqüência. E o que vocês sugeririam para essas pessoas que padecem da hipertrofia do coração?

Que valorizem mais os sentimentos e menos as emoções. No campo da moralidade, existe um sofisma muito comum que é tentar dignificar interesses mesquinhos com um pseudo-amor que acontece na periferia da personalidade, emoções baratas que são tidas à conta de sentimentos profundos.

Para algumas pessoas essa distinção é simplesmente impossível. Para quem os entende é fácil apreender o que dizem, mas para quem não adquiriu plenamente essa lição da vida, vocês estão falando grego antigo. O que poderiam dizer a essas irmãs menos amadurecidas, as que mais precisam compreendê-los, para distinguir sentimentos de emoções, de forma prática?

Que ouçam corretamente o que lhes propõe uma certa experiência interior. Se empolga, arrasta, mas não transforma, não exige sacrifício, não conduz a compromissos, não gera responsabilidade, não se trata de sentimento, mas de emoção. Emoção é uma excitação da mente. Sentimento é um impulso de compromisso da alma, é um arrastamento do ideal, é um espírito de propósito, é uma expressão do divino no ser humano. A emoção pode ser, inclusive, malévola.

Fantástico.
Têm algo mais a dizer?

Sim. Que emoções viciam como drogas, não só no sentido literal da palavra, com a química cerebral, como também no sentido profundo, psíquico, ao criar certos condicionamentos psicológicos destrutivos. Já os sentimentos não viciam, não escravizam como as emoções, mas, muito pelo contrário: libertam, dignificam e conduzem a comportamentos edificantes, construtivos, salutares, amorosos.

Algo mais a dizer?

Sim. Lembrar que animais sentem rudimentos de emoções, como ciúme, inveja e desejo de posse, como certas alimárias domésticas, ao passo que somente seres humanos possuem sentimentos, porque somente o ser humano detém discernimento, percepção ético-moral das coisas, lucidez espiritual para intuir significados, relacionamentos profundos entre seres e acontecimentos, e a vontade do Criador em cada departamento e sutileza da existência.

Ótimo. Esclarecimentos excelentes. Querem nos ensinar mais alguma coisa sobre o tema hoje?

Não, satisfeitos. Apenas dizer que emoções alegram momentaneamente, mas somente os sentimentos levam à felicidade duradoura. Assim, o coração, “latu sensu”, pode enganar; a intuição, todavia, nunca mente.

(Diálogo travado em 21 de junho de 2002.)