Benjamin Teixeira
por
espíritos incógnitos

Queridos amigos espirituais: há algum tema que desejem abordar?

Sim, o perdão.

O que gostariam de dizer sobre?

Primeiro, que perdoar não significa compactuar com o erro, muito menos gostar da pessoa que fez o mal. Segundo, que o perdão é um presente que se dá a si mesmo. Quem perdoa tira um peso de cima de si. Diversas patologias orgânicas surgem a partir da falta de perdão, como o câncer e os problemas reumatológicos, assim como os cardíacos, sendo que esses últimos mais relacionados ao excesso de raiva e ódio e os primeiros à mágoa cristalizada. E quando se fala do organismo, toca-se a parte mais superficial do problema. Existem dimensões muito mais profundas, emocionais, espirituais da ausência do perdão que podem gerar verdadeiros infernos na vida do indivíduo, como a incapacidade de se abrir, de confiar, de se vulnerabilizar nos relacionamentos interpessoais, de amar, de relaxar, de ser feliz.

O que sugere para que o perdão se torne algo mais fácil para o indivíduo?

Que ele pense nas conseqüências, de como custa caro não perdoar; que, no melhor das hipóteses, está-se castigando o outro em si mesmo, que se está fazendo um mal em si, por cima do mal que outrem já fez, que se está vingando em si, por cima da injustiça que já se sofreu. Que se pense em como vale a pena respirar aliviado, dormir em paz, viver tranqüilo, após o perdão, e sua concessão parecerá mais fácil. E observe-se que não chegamos ainda nas questões propriamente espirituais, no carma, na necessidade de desenvolver humildade, de ser paciente e indulgente com as faltas dos semelhantes.

O que dizer do perdão nesse nível?

Em resumo, quem não perdoa está se desgraçando, assimilando carma, em vez de crescer com o ataque do outro. É como se outro estivesse dando uma bomba relógio de presente, e o concessionário levasse o pacote para casa, para desembrulhá-lo com carinho, mesmo já sabendo do que se trata.
Para aquele que está vivendo esse problema, dizemos, com veemência: Largue essa bomba que lhe passaram: vingue-se de quem lhe fez mal não guardando mágoa, ignorando o mal que lhe fizeram, trabalhando o esquecimento, desviando a atenção para o que interessa, para o que importa para sua felicidade.

Mas é isso que a pessoa muitas vezes quer fazer e não consegue.

Consegue sim. A questão é que ela não quer se desapegar do orgulho, dos pontos de vista, do sentido de honra, das aparências, do conceito que farão delas, da aprovação pública. Nada disso vale a felicidade. A maturidade psicológica, o bom senso, a experiência, a sabedoria, mas também o sentido lógico, prático, de ser inteligente, mostra que não faz sentido algum ficar se consumindo por quem menos merece, por quem ou pelo que não só não está contribuindo, como está trabalhando contra a própria felicidade.

E o que, em termos práticos, sugere?

O desvio do foco da atenção, como falamos acima. Alguma ocorrência desagradável vem à mente, pense-se em alguém querido, em uma situação feliz, em um trabalho a fazer, ocupe-se a mente com trabalho ou lazer, brinque-se com uma criança, saia-se com o cônjuge, seja-se melhor, concentre-se em tudo que concorre para o bem estar e a paz e não no que os rouba de si.
Se alguém que causa desconforto vem à mente, por que não desviar a atenção e preencher o espaço mental com os entes queridos? Por que não telefonar para alguém especial ou muito amado? Por que não dar um beijo na esposa, quando se quer morder o adversário? Por que não abraçar o filhinho adorado em vez de esmurrar o rival? É uma questão de escolha, de ser masoquista ou preferir se sentir bem.

Mas alguém diria, diante disso, que não quer perdoar, para não ser abusado e para não relaxar diante de uma situação injustificável.

Falamos, logo a princípio, que perdoar não implicar concordar. Portanto, pode-se ser enérgico, mobilizarem-se todas as providências no sentido de se defender e de coibir o abuso do inimigo, sem com isso se inflamar contra ele. No momento em que nos exaltamos, começamos a passar para o lado dele, no sentido de compor as forças de nossa própria destruição. Se alguém quer ser eficaz contra outrem ou alguma força que pugna por destruir-lhe deve primar por manter isenção emocional, para que não bloqueie o fluxo da criatividade e da inteligência, da frieza e eficiência no comportamento, com o fito de proteger-se e impedir o ataque inimigo.

Então, o perdão é um assunto também de estratégia de guerra.

Exatamente. O bom general nunca tem raiva. Pensa corretamente. Não se pode pensar corretamente e sentir raiva ao mesmo tempo. O “sangue-frio”, mesmo sem razão, tem mais chances de vencer.
Para quem está vivendo o drama da tentação de se envolver pela fúria, dizemos: não queira nem lute por estar com a razão – prefira ser feliz. Deve-se procurar perdoar sempre que possível, mesmo porque todos precisamos de perdão uns dos outros. É um princípio lógico e muito prático utilizar o perdão larga, generosamente, para simplificar a vida e torná-la mais fácil, alijando-se da canga bruta que adicionamos ao nosso peso d’alma com o rancor. Por fim, se for necessário aplicar um pouco de severidade e mesmo agressividade para defenderem-se interesses e responsabilidades importantes, que se faça isso na estrita medida do necessário, procurando abstrair-se, quanto viável, do turbilhão emocional do medo e do ódio que tanto dificultam o fluxo das soluções.

Mais algo a dizer?

Não.

(Diálogo travado em 15 de junho de 2002.)