Benjamin Teixeira
por
espíritos incógnitos.

Bondosos amigos espirituais, há algo que queiram dizer ou algum tema que desejem abordar?

Sim, o tédio.

O que têm a dizer sobre ele?

O tédio indica a fuga de um compromisso existencial ou a saturação de um estágio de desenvolvimento. Assim, quem está enfastiado encontra-se fora de rota ou a ponto de mudá-la. É um incitamento da Vida à correção de rumos, justamente ao subtrair do indivíduo todo estímulo a seguir na mesma direção, por ser errada ou insatisfatória para seus reais interesses.

Existe mais alguma razão para ele?

Sim, os ataques energéticos e mentais de entidades alojadas na dimensão extra-física, ou mesmo daqueles encarnados que cercam o indivíduo, minando-lhe as forças, com o propósito de fazê-lo derrotado num certo projeto de vida.

Como assim?

Há organizações astrais que trabalham para fins específicos de seus segmentos, algumas delas francamente criminosas. Assim, quando alguém está agindo a favor de pessoas ou de causas que contrariam os interesses protegidos por esses grupos espirituais, provacam-lhes a sanha de vingança ou no mínimo um ataque estudado, estratégico, com o fito de impedir-lhe a continuidade de suas iniciativas.

O que podem nos sugerir para o combate efetivo do tédio?

Uma outra palavra, com significado próximo à de tédio, pode vir em nosso socorro, a partir de seu estudo etimológico, para elucidar a questão: desânimo. O vocábulo é derivado do verbete latino: “anima”, que significa alma. Assim, quem está des-animado está, literalmente, desalmado. Portanto, é a falta de conexão com o próprio eixo, com o centro de si, que leva o indivíduo a se desnortear e a se desvitalizar. Cabe, assim, que se envidem todos os esforços no sentido de se re-conectar consigo mesmo, tais como: a prática da oração, a busca das vocações pessoais, a perseguição de ideais e a defesa de valores profundos do espírito. Quem faz isso, dedicando-se com afinco, terá todos os meios para sair do estado de torpor e angústia, em níveis mais profundos, a que o tédio conduz a pessoa.

Com isso, vocês deixaram claro que existe a necessidade de se movimentar.

Exatamente. Ai daquele que se deita em meio à tempestade – como já foi dito por outro autor – porque o aguaceiro poderá arrastá-lo, de roldão, a barrancos insuspeitados. A sugestão hipnótica do tédio é no sentido da acomodação ou da fuga. Ambas conduzem ao abismo. Somente por ação efetiva no campo do bem podem-se vencer as causas profundas que o geram.

E o que dizer daqueles que, no afã de eliminar a sensação de vazio, procuram excitantes em atividades viciosas ou moralmente dúbias?

A médio ou longo prazo, estão trocando o tédio pelo desespero. Que se veja o resultado de quem chegou ao último nível de escravidão a vícios, em clínicas de desintoxicação, e se terá uma noção do que estamos falando. Em outras palavras, permutam o convite para a ascese, para a felicidade, para a realização em um nível mais alto de consciência, por uma queda livre rumo às profundezas abissais de todas as formas de escravidão mental, a começar pela perda da estima e da confiança em si, da desesperança no bem e da descrença em toda possibilidade de vitória sobre a dor e o fracasso.

A maior parte dos que fazem isso, fazem-no inconscientemente, ignorantes dos motivos profundos e finalidades do tédio, bem como do erro grave em enveredar pelo caminho dos vícios, incluindo os morais, como o da prática do crime. Isso não parece injusto, como castigar crianças por serem crianças?

Existe um princípio em Direito que reza que ninguém pode alegar desconhecimento da Lei. O mesmo ocorre em relação à Vida. É lamentável que muita gente sofra por ignorância, mas, em última análise, é a ignorância sempre que provoca a queda e o sofrimento das criaturas, inclusive daqueles que supõe-se estejam agindo no mal deliberadamente. Ainda são ignorantes e não sabem, porque se sua sabedoria fosse mais profunda, jamais persistiriam no mal, pois que teriam plena ciência de como não vale a pena estar em seus territórios. Não por acaso disse Jesus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Buda disse algo semelhante e ainda mais claro quanto ao que afirmamos: “O mal é a ignorância”. Sócrates legou ao mundo a epígrafe à porta do templo de Delfos: “Homem, conhece-te a ti mesmo.” Quem relaxa no capítulo do essencial, quem se mantém ignorante ou inocente, paga um alto preço por isso. A vida não perdoa ingenuidade: destrói-a, para que possa surgir a maturidade psicológica, assim como tudo na natureza é conduzido do verdor à madureza. Essa, portanto, que parece uma realidade tirânica é, em verdade, uma grande graça ou manifestação da bondade divina: ou seja, todos são compelidos, por bem ou por mal, a crescer e encontrar formas mais amplas de felicidade, ainda que para isso façam estágios demorados nas moradas da dor…

Mais algo desejam dizer dentro dessa temática?

Não.

(Diálogo travado em 13 de junho de 2002.)