(Maravilhosa esperança para o desdobramento das atuais crises planetárias.)

Benjamin Teixeira
pelos espíritos
Eugênia e Sêneca.


(Conduzido, por Eugênia, a certa localidade do Plano Superior de Vida, sentei-me em banco confortável, num jardim extremamente florido, bem arejado, em paradisíaco caramanchão. Emoções indefiníveis me vinham à mente, com saudade profunda de alguém a quem não via há muito tempo. Por uma percepção direta, característica a estados mediúnicos, sabia tratar-se de figura masculina venerável. Quanto amor, há quanto tempo… Falou-me Eugênia, ao adentrar o caramanchão:)

(Eugênia) – Sente-se, meu querido. De fato, está você em ambiência que lhe já foi cara, n’outra época. Aqui você amou muito e foi muito amado. A paisagem em torno reproduz, em certa medida, o que conheceu. Mas não se trata propriamente do ambiente como o percebe, e sim, da vibração do lugar, das energias e padrões psicológicos que recendem de cada particularidade componente do cenário – o que vocês chamam de psicosfera –, que o remete a evos idos, em que conviveu com figuras venerandas, há muito não presentes no globo, fisicamente.

(Acatando tudo em silêncio, restringindo-me a sorrir, um tanto abobalhado e em estado de êxtase, deslumbrado com tudo que via em torno, percebi que Eugênia se afastou e um senhor de barbas brancas e cãs respeitabilíssimas aprochegou-se. Levantei-me de inopino, e ele fez menção para que tornasse ao meu assento. Obedeci-lhe, quase automaticamente, mas, tão logo se chegou mais próximo de mim, tomei-lhe a destra e beijei-a sucessivas vezes.)

(Sêneca) – Sabe quem sou?

(Benjamin Teixeira) – Pressinto…

(S) – Quero que diga.

(BT) – Estranho… vocês não costumam confirmar identidades.

(S) – Gostaria que arriscasse o nome. Há um propósito.

(BT) – Sêneca. Sinto que o senhor seria Sêneca.

(S) – Diante dele.

(BT) – Por que quis confirmar sua identidade?

(S) – Para ratificar suas intuições – estão certas.

(BT) – Por que o senhor viria aqui?

(S) – Somos conhecidos de muito tempo.

(BT) – Há algum motivo especial para nos encontrarmos?

(S) – Sim, há, como lhe disse.

(Estupefacto com a ilustríssima visita, balbuciei, tartamudeando:)

(BT) – Às ordens. Obrigado por perder tempo comigo.

(Sêneca, imperturbável em sua expressão de serenidade amorosa, respondeu:)

(S) – Deus não se importa de Se fazer Onipresente, ainda que Inacessível ao sensório vulgar, ante toda e qualquer criatura, da mais vil à mais grandiosa. Por que me incomodaria de estar com um velho amigo?

(Hum… amigo? Que coisa absurda… claro que nunca fui… se não poderia nem hoje!… pensei com meus botões, ao que ele retorquiu, revelando captar-me, telepaticamente, as impressões íntimas:)

(S) – Ser um discípulo tornava alguém muito próximo do mestre. Muitos se fizeram mais do que amigos: a relação familiar, semelhante a de um pai para com um filho, era habitual, naqueles dias, entre os preceptores e seus orientandos.

(BT) – Agradecido. Realmente é você? Estou pasmo!…

(Sêneca sorriu, com uma pequena gargalhada surda, movendo sutilmente o estômago, de modo paternal e complacente, como faria um avô sábio e carinhoso, com o netinho impertinente a fazer perguntas tolas:)

(S) – Sim, sou eu. Sou uma criatura de Deus, como qualquer outra.

(BT) – Um grande gênio da história da humanidade… Sabe que não tenho nenhum valor para contactá-lo…

(Com a humildade característica dos grandes espíritos, a se nivelarem com os seres mais desprezíveis, replicou Sêneca:)

(S) – Você está trabalhando pela melhoria do nível de consciência da mesma humanidade. Não podemos mais descer à Terra. Por isso, vocês, médiuns esclarecedores, escritores e falantes (*1), tornam-se porta-vozes nossos, canalizando-nos em seus trabalhos artísticos e culturais, políticos e religiosos – a maior parte, sem notar conscientemente que o faz. Há uma regra que nos prende aqui, há um tempo, e nos manterá neste plano, por mais alguns séculos.

(BT) – Sim… sem grandes sábios e santos reencarnados entre nós, como n’outros séculos abundavam… porque precisamos aprender a andar com as próprias pernas…

(S) – Exatamente.

(Veio-me à mente como deve ter sido horrível terem, estes entes de escol, reencarnado naquele tempo tão primitivo, qual o de Roma do primeiro século de nossa Era. Mais uma vez, o grande mestre, apreendendo-me os bruxuleios de pensamento, lançou-me, com voz mansa e compassada:)

(S) – Sim, meu filho, foi muito difícil. Éramos um grupo de almas civilizadas e sensíveis, em meio a uma massa ignorante e cruel, que nos compreendia em quase nada. Sua mãe (*2) pertencia a este colégio diminuto de entidades mais desenvolvidas. Mas foi necessário nosso sacrifício, para que plantássemos as sementes de uma nova civilização, para que fermentássemos a evolução da mente coletiva, para que erigíssemos as bases da Cultura Ocidental, como hoje a conhecemos. Havia, porém, consolações muito confortadoras. Recebíamos, psiquicamente, visitas de grandes entes de Luz, que nos assistiam e inspiravam, de Mais Alto, bem como partilhávamos da companhia uns dos outros. Apesar de em número reduzido, sabíamos nos encontrar; as próprias energias emanadas d’alma nos atraiam mutuamente. No tempo em que ostentava a personalidade de Sêneca, havia um pequeno, seleto, mas aconchegante agrupamento de espíritos afins, que nos ouviam e respeitavam, quando não partilhavam de nosso diapasão de consciência. Você pertencia a este apanhado estreito de irmãos em humanidade.

(BT) – Claro que não!

(Não consegui refrear a rejeição plena da idéia, ao que o ancião, inalteravelmente tranqüilo, retrucou, com tom paciente e cordato:)

(S) – Não estava muito atento ao que eu disse: afirmei que alguns apenas nos compreendiam e respeitavam, apesar de não participarem propriamente de nosso nível de entendimento da vida, de valores e padrão de conduta. Você foi um discípulo estimado, embora indisciplinado nas aulas e relapso na assiduidade…

(Sêneca repetiu o gesto da risadinha surda, para grande embaraço meu. Parecia querer dar a entender que foram traquinagens de criança. Só que, para minha perspectiva de hoje… que horror… tinha feito pouco caso de… Sê-ne-ca!!??? Mais uma vez denunciando acompanhar-me as reflexões interiores, por mais sutis, disse o velho bondoso:)

(S) – Todos cometemos deslizes desta ordem, meu caro, no trajeto evolucional. Não deve se condenar por isso. Quase sempre, em organizações sociais primitivas, quais as da Terra daqueles dias (e como amiúde ainda acontece atualmente), quem realmente está à frente é tratado com menosprezo ou mesmo com repulsa, por aqueles que mais poderiam se beneficiar com sua presença. Por meu turno, também agi de modo equivalente com meus mestres, em tempos mais recuados, da Capela d’onde viemos…

(Sim… Capela… por isso mencionou que Eugênia compunha sua falange… Argh… como não associei logo? – cogitei, de mim para comigo.)

(S) – Quando você viveu o papel de esposo de quem hoje é sua mãe espiritual (*3), no século em que foi meu discípulo – embora por pouco tempo –, tivemos, todos nós, capelinos, a honra de aliviar as saudades indefiníveis de uma época, uma cultura, uma civilização longínquas. Nutríamo-nos reciprocamente, no domínio do espírito, permutando nossas vibrações símiles, compensando-nos no grande vazio que sentíamos, por estar “fora de casa”, há longos evos…

(BT) – Hum…

(Sêneca emitiu-me algo, mentalmente, que entendi ser a espera de uma provocação minha. Por isso, perguntei:)

(BT) – Sua vinda aqui, hoje, e minha vinda para cá têm a ver com a ocorrência desta madrugada… (*4)

(S) – Têm.

(BT) – Devo publicar este nosso diálogo?

(S) – Fica a seu critério.

(BT) – O que considera melhor?

(S) – Você se sentou para produzir um texto coletivo.

(BT) – Foi… mas percebo o conteúdo tão íntimo… Embaraçar-me-ia deveras trazê-lo a público.

(Compreensivo e empático, disse o grande filósofo:)

(S) – Temos pedido isso a você, com freqüência, não é? Que se exponha, ante a multidão, para que as pessoas aprendam com suas experiências de caráter pessoal. Mas você tem o livre-arbítrio para aceitar ou não a proposta.

(BT) – Certo. Mas não posso – de antemão, já sei – publicar o conteúdo da experiência mediúnica desta madrugada. Qual seria a utilidade, para o bem comum, de se trazer a lume este diálogo que trata mais de minhas questões pessoais do que de temas que importam ao interesse geral?

(S) – Isso é o que você pensa, em primeiro exame, amigo. As pessoas precisam saber que estão sendo acompanhadas por uma plêiade de mestres amorosos e envelhecidos no carreiro evolucional, que velam por seus destinos. Precisam estar cônscias de que não estão relegadas ao abandono, neste mundo de dores, incertezas, tragédias e decepções…

(BT) – Sem dúvida… atritos entre povos e civilizações, fome, doenças misteriosas, calamidades naturais, aquecimento global, terrorismo…

(S) – Por isso mesmo aqui vimos para dizer: nada que realmente comprometa a sobrevivência da civilização planetária vai acontecer. Queremos que as massas tenham conhecimento disso. Nem guerras nucleares de proporções apocalípticas, nem devastação ecológica que extinga as fontes de alimentos e oxigênio do globo. Vim, em nome do Conselho de Anciães (*5) de que faço parte, afirmar nossa proteção e a tranqüila convicção na vitória desta humanidade (*6), que ultrapassou os maiores perigos de auto-extinção e que, neste momento, candidata-se a, de fato, converter-se numa grande família de espíritos maduros e fraternos.

(BT) – Fez alusão, quando falou “maiores perigos de auto-extinção”, à Guerra Fria?

(S) – Sim.

(BT) – “Candidata-se”… disse também… Nossa salvação não está certa, então?!…

(S) – Ou a solidariedade e o espírito de corpo se instalam na mente popular, no orbe inteiro, ou esta humanidade se destruirá.

(BT) – Mas os senhores estão otimistas…

(S) – Sim, muito!

(Sorriu muito ao dizer, meneando suavemente a cabeça veneranda, em gesto afirmativo, e prosseguiu:)

(S) – Como disse há pouco, mais que isso: estamos convictos no triunfo final da paz e do bem, no porvir desta humanidade, que encerra uma problemática adolescência simbólica, para adentrar uma adultidade jovem – alegoricamente, no campo dos conceitos e da conduta –, conscienciosa e responsável, contudo, a despeito do verdor da juventude.

(BT) – Posso fazer uma pergunta pessoal?

(S) – Sim.

(BT) – Como foi ser mestre de Nero?

(S) – Difícil.

(BT) – Ele está bem hoje?

(S) – Não. Ainda não.

(BT) – Dois mil anos depois?

(S) – Exatamente. Porque pediu oportunidade de se ressarcir pelos erros gravíssimos cometidos no primeiro século do calendário cristão, mas os agravou no século transato.

(BT) – Hitler… ele voltou como Adolf Hitler???…

(S) – Lamentavelmente.

(BT) – Mas era tudo previsto…

(S) – Sem dúvida. Sabia-se da grande probabilidade de ele reiterar seu equívoco monumental, para que saturasse sua alma doente da compulsão-vocação a perpetrar crimes em larga escala. E, por outro lado, era necessário, para uma Europa flébil, dobrável, indiferente e viciada, no domínio moral, que um tirano a despertasse de seu sono espiritual mórbido, de que ainda não acordou totalmente. Destarte, como os desígnios do Altíssimo tudo encaixam para o bem geral, o erro mastodôntico de Nero/Hitler foi aproveitado, construtivamente, para estímulo do progresso social e humano do século XX.

(BT) – Interessante você dizer isso… porque ambos eram maus artistas – Nero e Hitler –, ambos frustrados por não serem reconhecidos como artistas excepcionais… Outra característica que lembro, equivalente nos dois, é que possuíam um poder de oratória magistral, uma capacidade de envolver e inflamar as massas populares de pasmar. Também é curiosíssimo que tenham mobilizado o populacho no sentido da “caça às bruxas”, culpando segmentos religiosos específicos, por problemas enfrentados por seus respectivos povos – Nero, convencendo os romanos a perseguirem os cristãos; Hitler, persuadindo os alemães a acossarem os judeus, em chacinas medonhas e legendárias, levadas a efeito, nos dois casos. Incríveis as semelhanças de perfil psicológico e de eventos históricos ocorridos na vida dos dois vultos famosos… Nunca me tinha dado conta disso… Desculpe ter disparado a falar… é que achei interessantíssimo!…

(S) – O mesmo espírito, em eras diferentes, com os mesmos renitentes vícios de narcisismo histriônico.

(BT) – Não sei se a indagação é cabível e se seria construtiva… Mas ele é também capelino?

(S) – Sim, um grande criminoso de Capela…

(BT) – Nossa!… até hoje, não conseguiu se regenerar…

(S) – Infelizmente.

(BT) – E vai ser expurgado da Terra, com a legião dos terrícolas degradados moralmente, à maneira dos capelinos que vieram para cá, há alguns milênios, exilados de seu planeta de origem?

(S) – Sim, ele é dos casos mais graves, raríssimos, que terão que sofrer o segundo expurgo planetário. Será expulso do orbe, juntamente aos “dragões” (*7).

(BT) – Impressionante… Deseja tocar em mais algum assunto ou continuar nossa conversa?

(S) – Não. O que tínhamos a falar hoje se esgotou.

(BT) – Vai voltar n’outras ocasiões?

(S) – Se Deus nos conceder a graça.

(BT) – Agradeço a boa vontade, não só de se dignar a vir falar conosco, como de se prontificar a eventualmente retornar.

(S) – A serviço do Cristo.

(A cena se esvaiu, com o rosto do venerabilíssimo sábio da Roma Antiga a desvanecer ante minha psicovidência, com todo o cenário idílico atrás dele, e vi-me, em seguida, mais uma vez, na sala de estar de meu apartamento, onde costumo psicografar, alta hora da madrugada.)

(Diálogo mediúnico travado na madrugada de 23 de outubro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*1) Psicógrafos e psicofônicos.

(*2) Eugênia.

(*3) Novamente, alusão a Eugênia.

(*4) Dois itens neste parágrafo: 1) “Sua vinda aqui, hoje, e minha vinda para cá”: encontramo-nos num território intermediário entre as altas vibrações do mentor e as minhas, muito baixas, para que pudéssemos interagir um com o outro. Elevei minha freqüência psíquica ao máximo; ele reduziu a dele consideravelmente, de forma que houvesse a equiparação dos padrões de ondas mentais, e a comunicação, por fim, pudesse-se estabelecer. 2) “Ocorrência desta madrugada”: longa fala de Eugênia, em nome do Conselho de Anciães, com temas sigilosos, que, infelizmente, compõem aquele conjunto de assuntos indevassáveis ao público, que médiuns de trabalho coletivo guardam consigo.

(*5) Grandes Sábios que funcionam como Ministros do Cristo (ou dos Cristos), a dirigirem os destinos de nosso planeta.

(*6) “…desta humanidade” – a da Terra. Há inúmeras outras, espalhadas pelo universo sem-fim do Criador.

(*7) Gênios extraordinariamente avançados em poder psíquico e convencimento no mal, que coordenam as forças das trevas em nosso orbe, de regiões abissais do domínio extrafísico de vida.

(Notas do Médium)

Observação Importante:

Como tornamos a publicar, aqui, no site do Instituto Salto Quântico, mensagens mediúnicas inéditas também em dias não-úteis da semana, e considerando que algumas são realmente de tamanho expressivo, dificultando o acompanhamento sistemático do conteúdo novo de nosso sítio eletrônico, por parte de nossos internautas, sempre que o artigo a ser publicado ultrapassar a medida de dez mil caracteres como este, que chega a quase quinze mil(!) , deixá-lo-emos exposto por dois dias como “mensagem do dia”.