Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.


Você faliu ou está desempregado? É possível que a Divina Providência lhe queira ensinar algo sobre o valor do trabalho digno, independentemente de vaidades, cargos, prestígio ou ambições de fortuna.

Gostaria de ser abastado e não tem a riqueza que almeja para si? Esteja certo de que Deus o preserva de quedas medonhas em que talvez incorresse, perdendo o senso das proporções da realidade e a hierarquia dos valores, provavelmente defenestrando as maiores e riquezas da vida, como a família e os princípios espirituais.

Está “só” há muito tempo, esperando um grande amor? É bem provável que a Divina Sabedoria o deixe amargar solidão, no sentido conjugal, para que desperte no sentido de outras formas de afeto, como a amizade, o companheirismo e o sentimento de camaradagem que une as almas afins pelas idéias e pelo coração, independentemente de vínculos sexuais ou passionais.

Sua esposa ou marido o traiu e você se sentiu um “lixo”? Quem sabe o Criador não lhe esteja avisando da importância de se desvencilhar das ilusões de posse e de poder sobre outras pessoas, principalmente as mais amadas?

Perdeu o filho querido ou a pessoa mais amada, para a goela “terrível” da morte? O Ser Todo-Bondade certamente quer lhe apontar o coração para outros corações, e fazer-lhe perceber a felicidade de dar e interagir, sem apego ou sentimento de exclusivismo, que remontam aos instintos animais de preservação dos genes pessoais.

Cuidado para não se sentir vítima e criar um melodrama vicioso e improdutivo, quando está apenas em sala de aula. Quem é dinâmico e trabalhador sempre encontra função útil, ainda que não remunerada ou em posições menos “altas” na hierarquia social. Quem sabe ser feliz dispensa fortuna para realizar seus sonhos, porque sabe adaptá-los ao tamanho do possível para si. Quem é maduro dispensa companhias a tira-colo e nutre-se emocionalmente de formas variadas. Quem ama de verdade não só perdoa como não impõe condições, nem intenta exercer império sobre o ser amado. Quem ama incondicionalmente alguém não lhe exige a presença, quando não é possível, mas agradece pelo tempo em que pode ou pôde estar ao seu lado.

Medite cuidadosamente em torno dos grandes lances aparentemente trágicos da existência. É muito comum a Bondade de Deus visitar a criatura através de escassez, decepção, perda e carência. Não só em momentos felizes e em bênçãos de abundância se manifesta o Senhor-Senhora, mas, de modo sobremaneira especial, em instantes de crise, angústia e desilusão. E isto porque, como todo ser humano medianamente sensato e lúcido sabe, mas que tem que se reiterar sempre, dada a teimosia do ego humano: as crises, as rupturas, as desgraças e mesmo as tragédias do caminho existencial são promissoras de grandes saltos evolucionais para a criatura, principalmente se ela souber aproveitar o ensejo para reflexionar e extrair-lhe a lição oculta. Revolta, desespero, inconformação só agravam a dor, inutilizando o valor educativo da provação. E, por outro lado, a serenidade ante o sofrimento inarredável e a receptividade às sugestões subliminares da expiação não só favorecem uma travessia equilibrada e muito menos dolorosa da mesma, como ainda podem propiciar a extinção do dilema existencial, por catalisar a assimilação dos motivos evolutivos implicados na prova, que, atendidos, fazem o carma diluir-se, como que “por encanto”.

Ante a cruz do inevitável, ore e respire fundo, pedindo inspiração e força a Deus, para compreender as razões profundas de sua expiação. Óbvio que deverá mobilizar recursos práticos para debelar a própria dor. Esperar que o Ser Supremo do Universo resolva questões que lhe caibam é rematado erro do conformismo religioso, grave vício conceitual e psicológico, que justifica, em certa medida, as célebre frase de Karl Marx: “a religião é o ópio do povo”. Deus não é uma “ama-seca”. O Criador espera que Suas criaturas se esforcem, para conquistar, por méritos próprios, a grandeza d’Ele-Ela Mesmo. Mas, com muita freqüência, toda criatura se depara, neste ou naquele departamento de sua existência, com áreas de questões insolúveis (provisoriamente), ao menos em se considerando as condições e ferramentas que lhe estão à disposição. É este o momento augusto não da conformação, mas da resignação, a voz da sabedoria que diz que o que não pode ser resolvido, com o uso dos instrumentais disponíveis ao indivíduo, em termos éticos e espirituais, deve ser aceito com espírito de reverência à Divina Vontade, que deve algo estar pretendendo lecionar ou estimular, ainda que, de pronto, não se descubra qual ou quais sejam tais propósitos ocultos da Divindade.

No mais, seja sábio o bastante para compreender que viver em meio a problemas é uma circunstância normal para todo ser consciente, e que, portanto, não deve haver afobação e tormento, ansiedade e desespero, por se perceber em meio a um turbilhão de dificuldades. O caos fomenta a criatividade. A desordem de um momento propele a buscar-se e a encontrar-se a ordem em nível mais alto de organização. Resolve-se um enigma da existência e outro surge, em seguida, instigando-se, assim, a evolução, “ad infinitum”.

Isso não significa dizer que não haja situações que exijam providências energéticas e eficazes. A dor muita vez se faz mais intensa justamente para avisar alguém da urgência de certas iniciativas. Há dificuldades e determinados quadros existenciais de tal modo dolorosos que tornam inviável a paz e até a saúde mental das criaturas envolvidas. É claro que, nestes casos, o bom senso pede que medidas drásticas sejam tomadas, e pode ser exatamente isto que a Vida pretenda que se faça, ao permitir que a crise atinja tais paroxismos insuportáveis. Mas, além dos picos de dor e transformação, pequenos desconfortos, contrariedades corriqueiras, carências brandas e frustrações toleráveis compõem o quadro da condição humana de existência, que devem ser administrados e encarados com tranqüilidade e equilíbrio. Somente crianças ou mentes muito enfermiças ou criminosas podem supor possível uma existência de deleite ininterrupto e nenhum aborrecimento. Toda romagem terrena inclui disciplinas acerbas, sacrifícios contínuos e o suportar e superar de dificuldades, sofrimentos e adversidades. Quanto mais maduro, experiente, adulto um indivíduo, com mais naturalidade e disposição atende ele às demandas de estoicismo e esforço imprescindíveis à realização do melhor, à perseguição do essencial, à busca da paz e da felicidade, num padrão que respeite tanto a realidade externa, quanto os reclamos internos da própria alma. Capacidade de adiar gratificações para conquistar-se alegrias mais sólidas e duradouras, bem como priorizar o essencial, em detrimento do secundário, princípios da inteligência emocional, constituem também valores morais que o espírito entesoura em si mesmo, à medida que amadurece, no carreiro evolucional.

Carregue, assim, feliz, suas cruzes de disciplina, de perseverança, de escolha do melhor. Não se lamente por ter que carregá-las, nem se sinta um desgraçado por elas existirem em sua vida. Lembre-se do mundo adulto em cotejo com o infantil. Quando a criança se sente desgraçada por ser obrigada a ir à escola, quando prefere dar continuidade a seus folguedos infantis, não sabe ela como agem bem seus pais, por não darem espaço à negociação neste particular, apesar de poderem magoá-la, de sua perspectiva pueril. O mesmo se dá, em proporções inclusive muito maiores e mais profundas, com o universo humano, em confronto com a grandeza imensurável da Consciência Divina: somos freqüentemente conduzidos pela Vida a determinadas contingências desconfortáveis, em função de absorvermos valores inapreciáveis do espírito, que não divisamos, imediata ou completamente, quando incursos no vórtice da provação. Mas a Inteligência Suprema não se deixa impressionar por nossas lamúrias e inquietações, embora nos cerque de consolos e compensações psicológicas, a fim de termos energia e inspiração, para seguir na senda indicada de aprendizado.

Destarte, amigo, sorria em meio à prova mais dura, e agradeça a Deus por lhe estar julgando suficientemente forte e amadurecido para a crise – leia-se: “dádiva de crescimento”. E esteja certo: Deus vela por aqueles que sofrem, confortando-os por mil meios e modos, mas quer Ele-Ela também presenteá-los com os tesouros inaquilatáveis da experiência e da expansão da consciência, que somente por meio de vivências nem sempre agradáveis logra-se amealhar nos escaninhos do espírito.

(Texto recebido em 5 de junho de 2005.)

(*) Pela qualidade ímpar deste texto (tocando em questões viscerais e comuns, de modo didático e forte) e sua relativa extensão, pedi autorização aos orientadores desencarnados, para preservá-lo por dois dias no ar, como “mensagem do dia”, solicitação esta deferida. Figurará assim, aqui, até meia-noite da terça-feira.

(Nota do Médium)