Não importa se você chama seu mal-estar de fastio ou tédio incuráveis, que lhe dê a alcunha científica de transtorno bipolar ou unipolar, que se recorde da pouco conhecida “distimia” ou da glamourosa e clássica “melancolia”.

Pode até ser mais “chic” – embora nada moderno – que você se declare “blasé” ou, bem ao tom popular, afirme-se morgando ou mergulhado(a) num tremendo baixo-astral.

Portando corpo masculino, é provável que se sinta mais irascível que o habitual e não consiga relaxar – a irritação aguda é o modo como normalmente a depressão clínica costuma ser mascarada em homens.

Quiçá você julgue, minimizando seu problema, ter apenas um temperamento naturalmente tímido ou triste. Atualizado(a) ou afeito(a) a uma abordagem cientificamente qualificada, você pode se reportar à “síndrome de burnout”. Por fim, sendo um(a) generalizador(a) que prefere fugir a facear suas questões, provavelmente você acabará apelando para o sempre atual rótulo do “estresse do trabalho e da vida moderna”.

Não pretendemos discutir com especialistas do domínio físico de existência, quanto ao acerto dessa miscelânea de “classificações” (desde os termos científicos aos literários, passando pelas denominações informais do populacho) e “gradações” de sentimentos ou problemáticas diagnosticáveis, dessa ou daquela forma, segundo a corrente terapêutica que se adote como referencial.

Não nos interessam a sintomatologia clínica nem os métodos psicoterápicos, que são de responsabilidade das respectivas escolas de atuação na área da saúde mental humana. Propomo-nos aqui tão somente ser práticos(as) e ajudar as pessoas a não exagerarem na utilização de psicofármacos, que têm ocasião certa e situações específicas para se fazerem necessários.

Tais recursos deveriam ser muito menos frequentemente ministrados do que são, nessa cultura de ciência reducionista e filosofia de vida do menor esforço (embora disfarçada de frenética atividade), que levam indivíduos incautos a buscarem os atalhos das pílulas mágicas, em vez do autoconhecimento e do governo relativo dos próprios atos, pela gerência trabalhosa e complexa da dinâmica psíquica.

A você, estimada leitora, caro leitor, seja qual for o seu caso, ou se ainda cria nomenclaturas outras para se referir a sua “baixa de energia”, seria bom que lesse com atenção e, se possível, experimentasse, disciplinada e persistentemente, um pouco do que sugerimos abaixo, a partir da avaliação do que surtir ou não resultados positivos em seu bem-estar pessoal, a curto, a médio e, mormente, a longo prazos.

Seguem algumas medidas permanentes e obrigatórias (para quem tiver juízo – risos), entre outras eletivas e opcionais:

1) Trabalhe mais. Talvez você esteja muito parado(a). Procure ser útil, mesmo que sua função não seja rentável, como um serviço voluntário.

2) Trabalhe menos. Se você é um(a) viciado(a) em seu ofício profissional – o(a) famigerado(a) “workaholic” –, é provável que, ao contrário do que propusemos no tópico anterior, você precise repousar e se permitir momentos seus, conforme detalhamos adiante, neste breviário de recomendações.

3) Faça terapia ou mantenha conversas terapêuticas com pessoas de sua confiança. Importante descobrir as razões profundas de seu mal-estar. E uma tarefa dessa envergadura, com camadas sucessivas de motivações inconscientes, não se realiza facilmente, mesmo com auxílio profissional ou abalizado.

4) Tenha um propósito para viver. Isso implica ter uma definição espiritual de vida, de cunho religioso ou não, desde que atenda à sua natureza vocacional. Sem sentido para viver, o ser humano fenece psicológica, física e intelectualmente. O que o(a) torna mais feliz e pleno(a) como ser humano? Isso faça, isso viva, com disciplina e perseverança, ainda que em suas horas vagas.

Poderíamos endossar tal assertiva com a propugnação veemente do incomparável mitólogo Joseph Campbell a seus(suas) discípulos(as): de buscarem sua própria “bliss”. Muito melhor, no entanto, respaldarmo-nos em Nosso Senhor Jesus e Sua exortação a vivermos as “bem-aventuranças”, o “Reino dos Céus”, que, como Ele afirmou categoricamente, está “dentro de nós”. Traduzindo em bom vernáculo: procure uma ocupação que lhe desperte um sentimento de felicidade e paz geminadas, tornando essa vivência (ou “modus operandi”) o mais corriqueira possível.

5) Pratique atividade física sistematicamente. Ao menos trinta minutos ao dia, três a cinco vezes por semana, como é consenso no meio médico. Dedique-se a exercícios simples, quais os aeróbicos, se você considerar que esportes ou outras práticas mais técnicas, como artes marciais, dança ou musculação, não lhe são palatáveis ao perfil psicológico. Pesquisas indicam que 60% dos quadros mais brandos de depressão desaparecem apenas com o hábito da atividade física.

6) Devote-se a um projeto filantrópico ou humanitário. Este item conjuga os tópicos 1 e 4, mas é importante o bastante para destacarmo-lo, pelo poderoso efeito que tem o benfazer, no sentido de trazer ânimo e bem-estar de volta à fonte que os gerou.

7) Desenvolva talentos ocultos, artísticos ou intelectuais que você esteja desprezando, embora os perceba em si. Suas idiossincrasias precisam ser ouvidas e, eventualmente, ter voz para o mundo externo, ou você estará implodindo um pouco todos os dias.

8) Ore e/ou medite, diariamente. Talvez você esteja sofrendo influências negativas, sejam internas ou externas, de encarnados(as) ou desencarnados(as), induções nefastas essas que podem ser debeladas com uma prece sincera e fervorosa, ainda que breve e despretensiosa.

9) Libere sua raiva reprimida. Soque travesseiros, grite ao relento (terapia do grito primal), brinque com jogos violentos, escreva cartas de desabafo (ou fúria) que nunca envie (se for o caso – risos), chore “pelos cotovelos”, até se cansar. Terminada a “sessão de descarrego” (risos), lave o rosto, sorria e volte à sua rotina de atividades e compromissos diários.

10) Ouça músicas de seu agrado, por alguns minutos, ou coloque-as como fundo musical para suas ocupações cotidianas. As neurociências revelam que a região da recompensa, no cérebro, é ativada com a escuta de música – obviamente serão melhores os benefícios, se as escolhas melódicas condisserem com seu gosto pessoal.

11) Faça sexo. Ainda que você não esteja muito à vontade ou com desejo, o simples fato de entregar-se à experiência de agradar “o bichinho” (que é o organismo físico) já favorece excelentes resultados, quer o faça acompanhado(a) ou sozinho(a), quer atinja o orgasmo ou não.

12) Tome um banho demorado, com temperatura d’água a seu bel-prazer. Isso equivale a um processo de limpeza energética e material dos diversos corpos (físico, astral, mental), como também constitui, em algum nível, um sucedâneo da massagem.

13) Receba massagem terapêutica de pessoa com quem se sinta à vontade para tanto. Reiki, passes, johrei surtirão efeitos semelhantes, em proporções que variarão de acordo com o seu temperamento e suas afinidades com a técnica procurada ou o(a) profissional escolhido(a) – caso assim seja, porque uma massagem do cônjuge, encaminhando-se para o sexo ou não, pode carrear, igualmente, ótimos efeitos curativos.

14) Assista a programas, filmes ou seriados cômicos, românticos, dramáticos ou mesmo violentos – sim (mais uma vez), a fim de que haja, pela fantasia, extravasão de eventual acúmulo de energia agressiva. Sair de si, por algumas dezenas ou poucas centenas de minutos, na distração-projeção das personagens de peças dramatúrgicas, televisionadas ou cinematográficas, é um dos instrumentais excelentes da contemporaneidade para se combaterem os males da intensa, contraditória e multifacetada vida moderna.

15) Cuide de animais, jardins, crianças pequenas. Libere as tensões, apequenando-se intelectualmente, para fortalecer seu emocional.

16) Tire um cochilo no meio do dia, se possível, ou durma mais, se também sua agenda permitir. Pesquisas científicas indicam que o período REM (“rapid eye movement”) do sono, em que sonhamos, é de extrema valia para a diluição dos processos depressivos.

17) Defina momentos, na rotina semanal, para estar entre pessoas que você ama, em circunstâncias descontraídas, como um jantar em família ou uma sessão de cinema na casa de colegas. Ou então dê uma saída, sem compromisso, sozinho(a) ou acompanhado(a), como preferir, indo à praia, ao campo ou a um parque, de conformidade com o seu local de residência.

Não queremos, ao término deste minimanual da emergência psicológica (risos), encerrar de forma poética, científica ou bombástica, nem mesmo ensaiar uma finalização, para que você se sinta convidado(a) a complementar – em coadunância com sua personalidade, recursos e contingências de vida – a lista de iniciativas que podem ser levadas a cabo, pondo-a, se necessário for, ao alcance cotidiano de seus olhos, seja eletronicamente ou por meios convencionais, como o famoso lembrete afixado na porta da geladeira ou no espelho do banheiro.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia, Roberto Daniel e Dr. Temístocles (Espíritos)
2 de outubro de 2013