pelo espírito Ilda Nabuco (*).

No início dos anos 30 do século passado, era muito difícil ser mulher. Estava no final da adolescência, quando me casei, em 1932, com um homem doze anos mais velho. Ir ao cinema no final de semana, cozinhar, cuidar da casa, lavar roupa e passar, parir e criar os filhos. O que mais havia no universo feminino a se viver? Ou, melhor dizendo: o que mais era permitido às mulheres?

Resolvi quebrar paradigmas, ao meu modo. Havia sido professora de piano, desde os 12 anos, e, com o tempo, fui me dedicando a outros ofícios artísticos – felizmente, o mundo das artes não era de todo vedado a nós, mulheres. Além de artista plástica (cheguei a pintar vários quadros), tornei-me um ás da culinária em meu Estado, indo freqüentemente ao sudeste brasileiro, estudar com os melhores chefs do País.

Nos anos 50, cheguei a ter o meu próprio programa de rádio, para prendar mulheres e oferecer receitas. Era o meu modo de lutar por ser, realizar e crescer, a despeito das limitações que a cultura e a sociedade impunham ao meu sexo. Tolheram-me, entretanto, a pouca instrução e o desinteresse pela leitura, que acentuavam os problemas que oprimiam o meu gênero e o efeito do preconceito sobre mim, cerceando-me o modo de ser.

O que vim aqui dizer? Que as mulheres se dediquem, acima de tudo, a se destacar pelo conhecimento e pela competência profissional, além de incluir, nesta excelência intelecto-profissional, os apanágios característicos ao seu sexo, como a intuição, a habilidade relacional e todo o pendor ético e espiritual que são tão fortes em nosso gênero. Será deste modo que nos emanciparemos, será assim que lograremos dar um grande salto de qualidade em nossas vidas e desbancar, de uma vez por todas, o império do patriarcalismo que nos solapa, ainda agora, como tão bem revelam as injustiças na remuneração, assim como as castrações para a ascensão profissional e social, que se efetivam em mulheres, por serem ou não bonitas, por serem mais ou menos jovens, por se abrirem ou não a envolvimentos afetivos com seus superiores.

Sim, hoje vivemos num mundo infinitamente melhor que o de um século atrás, não só neste, como em diversos outros capítulos dos costumes e dos preconceitos, tanto quanto na esfera tecnológica e econômica. Mas ainda há muito chão a percorrer. E somente pela dignidade, associada a resultados, conquistaremos, definitivamente, nosso espaço no cenário humano, mostrando, de fato, a que viemos.

(Texto recebido por Benjamin Teixeira, em 10 de abril de 2006. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Bem visível a interferência de Eugênia na confecção desta mensagem, secundando os esforços de Ilda, que não teria condições de, sozinha, concatenar as idéias e redigir o texto, com o sentido de foco e propósito que este breve artigo apresenta. O nome de Ilda foi alterado, para proteger a privacidade de parentes ainda encarnados. Foi mulher carismática e ativa, viveu em capital nordestina e desencarnou em 1999, aos 85 anos incompletos.

(Nota do Médium)