Decepcionado consigo, sente as mãos esfriarem de tristeza… e a alma. Não sabe como se posicionar, porque a fraqueza é recorrente. Tentou já de diversas formas solucionar a pendência, mas sempre envolveu-se em malogro, retornando à estaca zero.

Sim, de fato é tremendamente frustrante tentar uma autocorrigenda e ver seus esforços baldados. Mas nada disso acontece por acaso. Reanime-se, retempere-se no calor da esperança e da fé, e volte à luta, com entusiasmo renovado. Mantenha em mente que a pior coisa que lhe pode acontecer é perder o ânimo, ante os desafios da vida, o gosto pela própria vida. Recorde-se de que a aprendizagem se dá por etapas e por repetições também. Ninguém acerta sem antes haver errado inúmeras vezes, amiúde à exaustão. É o longo histórico no erro que confere experiência, que por sua vez conduz ao acerto.

Claro, você poderia ser mais rígido consigo, mais exigente, mais determinado. Não nego que tudo isso não possa ser feito, mas quero lembrar que, muitas vezes, todos os esforços redundam inúteis, para tarefas aparentemente simples, a fim de que o indivíduo exercite humildade e reverência perante Deus, em tomando mais nítida consciência de sua falibilidade humana.

Não se sinta preguiçoso ou mau caráter, por notar-se fraco. Se hoje não conseguiu, novamente, atingir o ponto em que gostaria de estar para se sentir em paz e realizado, torne ao empenho amanhã, e depois e depois. No percurso dessa busca incessante, enquanto luta, observe se sua percepção está realmente certa, se não está perdendo tempo com iniciativas erradas, e se o mal não está em outro endereço. Não fuja, para aliviar a tensão: em reconhecendo-se errado, apenas renove os esforços e persista, até vencer. Todavia, frequentemente, tenta-se vencer o invencível, enquanto se esquece de dar atenção ao essencial. Que se veja o que aconteceu com as almas bem-intencionadas de outras eras, que perderam vidas inteiras, lutando contra os instintos sexuais, desperdiçando encarnações completas, nos redutos frios e vazios de monastérios, com tanto serviço a fazer do lado de fora daqueles antros de ócio e tortura estéreis.

Mas se nada disso o consola, respire fundo e faça uma prece. Peça a Deus perdão por sua falha e se comprometa a não mais repeti-la, tanto quanto possível. Lembre-se de Jesus, ao dizer: Vá, e não tornes a pecar, deixando claro que, ao se comprometer, sinceramente (ainda que não venha a ser coroada de êxito), em não reincidir no erro, a pessoa já está, por isso mesmo, perdoada de seu gesto infeliz, porque é uma alma, como todos somos, em processo de aprendizagem. O erro verdadeiro está em não se querer sair dele. Mas quem reconhece-o e luta por vencê-lo, vencendo-se, já faz o que deve, porque faz o que pode.

Sua alma ainda lateja de culpa, dúvida e medo. A sombra sinistra do mal parece pousar sobre sua cabeça, sussurrando-lhe maus augúrios. Tudo isso, entrementes, amigo, é passageiro. E assim como a noite passa, também essa noite escura da alma – nos dizeres de São João da Cruz – a noite de sua alma também passará.

Ore pelos sofredores do mundo, ore pelas forças negativas que pugnam por destruí-lo, pedindo a Deus, que elas também recebam tudo de que precisam. Ore em voz alta, e os Anjos ouvi-lo-ão. Não acredite no poder definitivo do mal: somente o bem é permanente. E, em se mantendo assim, tranquilo e devotado à prática do melhor, em toda circunstância, dentro do que lhe é possível fazer, tenha certeza: o Senhor estará caminhando com você, e, nos momentos mais críticos de dificuldade e dor, pô-lo-á nos braços, conduzindo-o, seguro, ao porto da paz e da felicidade.

Sim, amigo, não é fácil vencer-se. E ninguém disse que seria. É uma luta ferrenha, muita vez soando inglória, que se prolonga por toda a vida. Mas assim como toda guerra tem tréguas, deve-se dar, volta e meia, pausas para repouso e meditação, perdoando-se e respirando por um tempo, para voltar à batalha, renovado, na convicção de que Deus sabe de suas limitações e não vai lhe cobrar nada que ultrapasse suas forças.

Mentalize bem as consequências nefastas de cada momento de concessão inocente a que se entrega, ante as exigências benéficas de abnegação e empenho que a disciplina lhe impõe, e, fixados na memória, com clareza indelével, tais resultados dolorosos do erro, lance-os à tela mental, quando se sentir tentado a repetir o gesto menos feliz, exercitando o hábito salutar de dizer não ao que não lhe faz bem.

Por fim, confie-se ao Ser Todo Amor, que lhe dará recursos, quando lhe faltarem, sobremaneira na hora em que se vir tentado a resvalar no deslize a que se familiarizou, e notará forças novas lhe chegarem, aumentando, substancialmente, sua probabilidade de vitória, para logo.

Diante disso, amigo, se realmente está compenetrado, pelo tamanho do ônus que seu erro lhe cobra, de não vale mais a pena recalcitrar no maldito defeito que o atormenta, tão doloroso o momento a ponto de não sobrar nenhuma dúvida a essa plena consciência, tem combustível suficiente para se decidir não mais nele reincidir. E, se é assim, que maravilha!: meus parabéns!, você se libertou do mal, e se não o venceu definitivamente, está bem próximo disso, pelo seu nível de esgotamento em tentar superá-lo e lutar contra ele. É momento, portanto, não de se contristar, e sim de comemorar.

Converta, então, essa lágrima sorrateira, que lhe escorre do canto dos olhos, em um sorriso largo e prenhe de júbilo, abrindo os braços às possibilidades infinitas de felicidade que o futuro lhe reserva, olhando para frente e para cima, agradecendo a Deus, Infinito Amor, que lhe dá nova oportunidade de recomeçar, indefinidamente, até que vença, definitivamente!…

Eugênia-Aspásia (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
3 de março de 2001