(Retrospectivas, pressão materna excessiva, mãe espiritual, revolucionário paradigma relacional com os pais, mediunato “sui generis”)


Benjamin Teixeira
e o espírito
Eugênia.

Cercado de um grupo seletíssimo de amigos íntimos, fizemos nosso Culto do Evangelho das 14h, e, conclusa a atividade-disciplina de estudo e oração, pediu-me a adorável mentora espiritual Eugênia grafássemos algumas breves palavras para cada um dos presentes (seis ao todo, incluindo-me). Extraindo nomes e outros dados que lhes pudessem identificar, para lhes preservar a identidade, seguem-se, transcritas parcialmente, as mensagens dirigidas a cada qual:

(Eugênia) – Ela hoje andou cabisbaixa, ao se perceber com algumas dificuldades de vulto, no controle da raiva, relativa a algumas mágoas do passado, que lhe reassomaram à mente. Gostaria de reforçar a palavra que utilizei, para qualificar o processo: “controle”. Esse é o cerne da questão, sobre que sugeriria tangenciasse suas reflexões, dispensando-me mais extensos comentários, a não ser o de que não deve se culpar, já que não está regredindo e sim recapitulando lições, reciclando lixo emocional, transmutando sua consciência. Isso ocorreu em suas preces, pela manhã, e a incomodou, a ponto de chegar a verbalizá-lo para nós.

(Benjamin) – Seguindo, com quem deseja falar?

(Eugênia) – Ainda com (…). Queria que ela digerisse lição a lição. Por isso, separando os temas, para que os conteúdos sejam devidamente dissecados, processados e, após digeridos, assimilados. O tópico seguinte é o de (…), que, na semana passada, remeteu-a à infância. Muito terna e mimosa, fê-la sentir-se exatamente ao contrário da situação a que aludimos acima. Assim, observe que também os traços e vivências positivos do passado, provocados no presente, constituem recapitulações necessárias. Existem eventos – basicamente neutros, em sua essencialidade última –, e não circunstâncias negativas ou positivas, pela aplicação destrutiva ou construtiva da relação que estabeleçamos com eles. Nós é que lhes damos significado – a mente, como você sabe, tem a função significante das ocorrências existenciais, favorecendo-nos a interpretação, a construção de idéias, a partir de um acontecimento externo, e, por fim, a transformação do Si-mesmo, na absorção dos conteúdos associados, gerados e interconectados.

(Benjamin) – E agora, querida Eugênia, sobre que deseja falar ou com quem?

(Eugênia) – Minha próxima mensagem segue para nossa cara amiga (…). Ela nos pediu ajuda – como era de esperar – para seu filhinho, e, sem dúvida, diga-lhe: está recebendo-a. Por outro lado, gostaria de pedir um pouquinho mais de moderação com ele, no que concerne à cobrança aos estudos. É que, às vezes, cobrança demais pode gerar revolta, íntima ou externalizada, de molde que o efeito acaba sendo contrário. O adoecer representa, de certa forma, a mente do pequerrucho colapsando e pedindo trégua, como se implorasse um pouco de carinho, atenção e perdão para suas deficiências. Observe que, neste ano, você foi bem mais severa com ele, nas exigências quanto à vida estudantil. Fique em paz, com relação a isso. Embora ele não seja muito afeto aos estudos, é homem de bem, em processo de formação, e terá oportunidades de trabalho e subsistência, que surgirão, inclusive, no seio de nossa própria Organização. Não é por acaso que você está aqui e que eles são seus filhos.
Para concluir, diga a seu esposinho (…) que o ouço e o vejo, sim. Nós, que representamos os pais e mães da humanidade encarnada, sempre damos assistência aos nossos protegidos jungidos a corpos de carne. Faço referência ao fato de, na semana passada, ter ele se reportado a esta supervisão nossa à sua vida – se existiria ou não: respondo-lhe que sim.
Reforço-lhes a necessidade de freqüentarem nossas palestras, todas as semanas, ou os grupos de estudo das quartas-feiras, se preferirem, tomando, numa ou nos dois, os passes que antecedem as digressões da noite, que por lá têm ocasião de acontecer.
Que Nossa Senhora e Jesus os abençoem hoje e sempre.

(Benjamin) – E então, Eugênia, quer falar com mais alguém?

(Eugênia) – Quero, sim. Quero me dirigir agora a (…). Meu tão querido filho, de outras vidas. Eu já disse isso a ele, que achou tal revelação pouco crível, acreditando ser a assertiva proveniente da generosidade do coração do porta-voz, como amigo, inconscientemente ocasionando alguma falha de filtragem mediúnica. Não, não se tratou de fruto de sua imaginação: ele foi, realmente, meu filho biológico, como foi de Brígida, e é mais viva a relação de filho comigo do que com ela. Logo, que ele se sinta especialmente envolvido em minhas vibrações de carinho, proteção e inspiração, e não tão-só por meus cuidados na função de mestra. Falo-lhe isso, hoje, em particular, devido a pensamentos de reverência distante que teve em relação a mim, procurando evitar se dirigir à minha pessoa (quando era o que realmente queria fazer), para não incomodar-me, direcionando, assim, de modo um tanto forçado, sua fala para outros espíritos protetores, apenas por julgar que, com eles, tendo maior intimidade (em sua opinião no momento), poderia se dar à liberdade de conversar diretamente, mas não comigo, que seria uma “autoridade” merecedora de respeito, deixando, com isso, de me “apoquentar” com suas questões de “ordem pessoal” – suas questões não me constituem encargo desagradável, em vista deste meu natural arroubo materno por você, tanto quanto os assuntos de sua vida, tão devotado como é ao bem comum, sempre tomam, em alguma medida, implicações coletivas, por se repercutirem nas existências de muitos. Preocupo-me, de modo pessoal, com o caso de sua vida (…), diferentemente, por exemplo, do que acontece com (…), que foi filho do médium e não meu. Ele, sim, é alguém com quem exercito o sentimento de mãe universal, como o devem fazer todas as mães. No seu caso, todavia, os extremos de mãe me são espontâneos, e envido até mesmo inverso esforço, ou seja: de não me entregar inteiramente a eles, evitando, destarte, correr o risco de cometer impropriedades no campo sagrado da justiça, na condução de nossa grande Organização de esclarecimento, educação e conforto espirituais.
Sim, de fato, é um padrão dele, mas, recentemente, a preocupação em não se dirigir a mim tem sido recorrente, na mesma medida em que o desejo de conversar com minha pessoa também lhe tem surgido mais amiúde, por reflexão de meu coração de mãe, mais preocupada com ele, ultimamente. Sua mãe biológica, por mais de uma vez, me serviu de canal para ele, inclusive em momentos de discussões mais acerbas com o cônjuge, como deve se lembrar.
Sua MÃE e mestra Eugênia.

(Benjamin) – Que mais, Eugênia? Devo escrever por você para mais alguém?

(Eugênia) – Sim, precisamos falar com suas outras duas amigas. Primeiro, (…).
Quero dizer-lhe que está de parabéns pelos progressos extraordinários, levados a efeito, no trato com seu pai: foi firme, perguntou por mais de uma vez, no transcurso da semana passada, por seus exames, quando faria as consultas médicas, etc., sem se deixar impressionar pela pouca receptividade que descobria nele, à sua sugestão, tornando a falar-lhe sem também se supor invadindo o espaço dele, como se o fizesse a uma criança de sua responsabilidade, sendo uma mãe. A postura está certíssima: é assim que deve se sentir em relação a ele, quanto à sua mãezinha, acostumando-se a este novo paradigma emocional, como já tive oportunidade de lhe dizer. Observe que, ao aplicá-lo à sua conduta, não se irrita com as resistências do genitor, ao passo que, com o outro sistema de abordagem emocional, sentindo-se a filha e não a mãe, irritava-se até com a idéia de procurá-lo para propor o cuidado maior com o corpo, quanto mais ao notar que seu alvitre fora ouvido com pouca ou nenhuma consideração.
Deus a abençoe.
(…)
Mãe e mestra, Eugênia.

(Benjamin) – Eugênia, seguindo, você deseja agora falar com (…)?

(Eugênia) – Sim. Hoje, pela manhã, a prezada amiga questionou a informação, recebida por você, a respeito de estar incursa em regímen de mediunato. Ela a considerou, a dizer por menos, mirabolante. Não se vê como uma médium em condições de estar em sintonia constante conosco. Fale-lhe que não foi por acaso esta curiosa e hilária experiência da inspiração-representação-livre-do-porta-voz a que presenciaram, antes de me indagar sobre a mensagem para ela (*). Da mesma forma, ela também, pela intenção de servir aos semelhantes, por meio da inspiração, recebe a “injeção” de idéias, associações, sentimentos, que a ajudam, em muito, no conduzir falas com pessoas, em iniciativas de realizar o bem, sugerir o bem-fazer a terceiros, e até, tão-somente, expectar em oração e meditação. Logo, esteja em paz, com relação a seus conflitos, por ter achado absurda a informação, e também julgado ousado o questionamento que fazia, em virtude de muito me respeitar as colocações, bem como a sua condição de médium positivo, que ora psicografa.
O reforço a esta tese é importante, por carrear consigo implicações de vulto, no desempenho das tarefas sob sua incumbência, no sentido de responsabilidade, em todas as interações sociais que entabule, vida afora. Os próximos quarenta anos de sua existência, conforme lhe disse, n’outra oportunidade, serão os mais significativos, produtivos e felizes.

(Benjamin) – Quarenta anos de novo, Eugênia? Este número não reduziu?

(Eugênia) – Não, ainda não (risos). Nunca disse que fosse preciso o número. Quanto mais tempo os companheiros puderem estar encarnados, melhor – adquirirão mais experiência, desenvolverão mais os sentimentos, a identidade com o espírito. A senectude do corpo físico é preciosíssimo laboratório da alma, que a propele a se desidentificar com o corpo e se vincular, profundamente, aos valores do Espírito, da Eternidade… Assim, aproveitar os benefícios da moderna Medicina, no sentido de distender as condições de longevidade corporal, é de extrema relevância no aprendizado e na evolução das consciências. Não aconteceram tais progressos, por acaso, de fato – inclusive no que concerne à dificuldade técnica, no atual momento evolutivo da gerontologia, de se perpetuarem as condições de qualidade de vida física da meia-idade. O padecimento dos achaques, das limitações, das “humilhações” (para o ego), comuns à condição de pessoa mais velha, são de excelente valia para a personalidade humana, que carece, visceralmente, despojar-se dos apegos ao poder, todos eles questionados, minguados e perdidos, gradativamente, à medida que o maquinário orgânico entra em decadência – a beleza, o controle da própria fortuna e “status”, a inteligência e, por fim, eventualmente, até a autonomia da adultidade.
Deus os abençoe a todos.

(Extratos do Culto do Evangelho realizado em casa do médium, na tarde do dia 22 de julho de 2008. Revisão de Delano Mothé.)

(*) O médium, sem o saber, acabara de canalizar, por psicofonia, o pensamento da doce e sábia Mestra espiritual, acerca de assunto suscitado no transcurso deste culto, imprimindo, todavia, ao conteúdo da mensagem (por ela transmitida serenamente) o padrão mental de seu próprio psiquismo, impregnado de indignação e revolta em torno da temática.