Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Quando postos no limite de nossas capacidades, somos testados a transcendê-las. Essa assertiva, que parece óbvia para temperamentos decididos, torna-se quase inconcebível para almas mais tíbias, que preferem desistir de seus intentos, quando postas em xeque, pelas circunstâncias e forças da Vida.

Não desista de seu ideal, de seu sonho de realização, de amor, de paz, de felicidade. Sem dúvida, talvez esteja ele eivado de aspectos delirantes – e provavelmente estará. A imaturidade e a fantasia costumam distorcer a pureza do projeto da alma, com os impulsos do ego, desde a megalomania à ganância desmedida. Todavia, ouvindo o próprio coração, com cuidado e, com experiência e bom senso, adaptando os objetivos que se traça para si à realidade que a razão apresenta como plausível, é, sem dúvida, possível ser feliz e encontrar o próprio caminho de paz e realização pessoal.

A Humanidade periclita, numa das suas maiores crises históricas. O terrorismo tem apresentado uma série de desafios-limites à argúcia do engenho humano, no sentido de dar luz a novos paradigmas, novos parâmetros conceituais, novas estruturas relacionais, novos sistemas de organização internacional, novos modelos de fé, de política e de filosofia comportamental. O consumismo aético tem seus dias contados. A política econômica do crescimento pelo crescimento terá que ser substituída pelo conceito de crescimento sustentável. Os movimentos religiosos terão o dever moral de rever suas exegeses teológicas de textos pretensamente de ordem divina. Cada cidadão terá que rever seus próprios princípios, a fim de se encontrar o ponto de equilíbrio entre assertividade e paz; entre competitividade e espírito humano.

Não há mais tempo para compactuações subalternas com nossos instintos primários de supremacia, de império sobre o outro. O ser humano deve encontrar e se conectar com seu núcleo de consciência transpessoal, aquela que lhe dá a visão lúcida de que todos os seres vivos, e não só os seres humanos, fazem parte de uma teia de interdependência. A loucura do princípio da separatividade, o anacrônico e agora mais que nunca visivelmente perigoso paradigma ultrapassado do universo egoico, deve ser imediatamente extirpado do cosmo social humano, dando espaço a novos modelos de comportamento e interação social, propiciando a paz, a prosperidade e o bem comuns.

Não existe felicidade ou progresso solitários. Somente em se percebendo e vivendo o espírito da coalisão entre todos os seres, o paradigma dos organismos, o paradigma holográfico que dizem que todos os seres são intimamente interrelacionados e interdependentes, poderemos superar todas as barreiras de sociedade, raça, classe econômica ou cultural. Chegou a hora de darmos um basta aos delírios esquizofrênicos de uma cultura paranoica, preocupada em possuir, dominar e explorar, esquecendo-se do fundamental: viver. E a vida, sob qualquer ângulo de observação, exige, necessariamente, espírito cooperativo e paz, para seguir e evolutir, sempre.

(Texto recebido em 1º de outubro de 2001.)