Benjamin Teixeira
pelos espíritos
Eugênia e Marcos.

Em vez de pedir um esclarecimento mais peremptório a respeito da dificuldade em vencer certas limitações íntimas, importante considerar:

1) Determinadas modificações de vulto não se dão abruptamente. Os movimentos bruscos ou são impulsivos e provisórios, ou denotam últimos desdobramentos de processos antigos, que se vinham desenvolvendo na subliminaridade do inconsciente. As mudanças substanciais ou, melhor dizendo, estruturais da personalidade não se podem improvisar. Nem sequer estão sujeitas às deliberações do ego, da mente consciente.

2) Assim, a postura em relação às iniciativas de automelhoria, de aprimoramento, deverá ser trabalhar para propiciar a ocorrência da transcendência, e não se cobrar por ela, como se fora um resultado devido à própria vontade, ao poder pessoal de decisão.

Ainda que altamente disciplinada a criatura, jamais logrará transformar-se ao talante de suas escolhas conscientes, por mais nobres ou elevadas. Poderá até se fragmentar, gerando distúrbios emocionais e psíquicos que Jung muito bem classificou como “problemas da Sombra” (psicológica). Jamais se conseguirá dirigir a própria evolução, como quem faz um preparo culinário, seguindo uma receita. Que se labore por propiciar o terreno para a modificação expressiva, mas nunca se suponha poder determinar o momento de ela se dar, nem o modo. Como muito bem disse um conhecido autor espiritual, através de prestigiado médium, a semeadura é nossa, mas a colheita pertence a Deus (*1).

Ninguém tem controle absoluto sobre si. As “fraternidades dos 12 passos”, como a Alcoólicos Anônimos e a Narcóticos Anônimos, enfatizam que ninguém supera um vício sozinho, mas, tão-somente, com o apoio de grupos afins e a interferência de um Poder Superior.

Seja responsável por si. Mas não deduza que responsabilidade implique controle. A gerência da mente humana é atividade por demais complexa e subjetiva para que possa ser realizada por uma mente humana – sem paradoxo. Assim, deve a criatura labutar, persistente e sistematicamente, por favorecer certas ocorrências de mudança profunda do próprio psiquismo, sem, contudo, pretender saber quando, como e por que meio espocará este evento.

Não acredite no engodo da cultura racional, dominante nos dias que correm, de que se pode, pela força da vontade, controlar a própria mente. Seja mais humilde, lúcido e realista, e perceba que, lamentavelmente, pode-se fazer muito pouco sobre a própria psique, ou a maior parte das criaturas decentes e maduras seriam ases de autodisciplina. É lamúria recorrente e quase generalizada o não se lograr concretizar na existência a décima parte do que se tem como essencial, quando mesmo não se diz estar sendo levado a fazer, como o apóstolo Paulo corajosamente declarou por escrito, exatamente o que contraria os próprios princípios, valores ou prioridades existenciais (Romanos, 7:15,19 e 21) (*2).

A força da imaginação costuma ser o quadrado da força de vontade, como asseverou, acertadamente, Emile Coué, famoso especialista francês no poder da sugestão e da auto-sugestão, fazendo com que, ironicamente, quanto mais se lute contra uma tendência, mais ela se consolide no próprio arcabouço psicológico. Afirmou, outrossim, Jung que tudo que é combatido na psique se fortalece, a par de reconhecer a autonomia do inconsciente e suas personalidades espectrais, assim como o fizeram seus antecessores, sobremaneira Freud, personalidades virtuais estas por eles chamadas de arquétipos, neuroses ou complexos (*3). Deste modo, devem-se fazer negociações inteligentes com a oceânica e intrincada massa irracional do inconsciente, e nunca intentar submeter a fera bravia da própria natureza profunda.

Logo, trabalhe por gerar o melhor em sua vida, mas na convicção prévia de que você faz uma parte, e Deus, no mínimo, faz outra – na verdade, a maior parte de tudo…

(Texto psicografado pelo médium Benjamin Teixeira. O espírito Marcos, no dia 7 de novembro, transmitiu a primeira versão do artigo; e o espírito Eugênia deu-lhe refinados complemento e acabamento, incluindo os estudos de psicologia junguiana e todas as citações de autores ilustres, na madrugada do dia 13 de novembro de 2006. Revisão de Delano Mothé.)

(*1) Mais ou menos nestas palavras falou o espírito Emmanuel, através da psicografia ímpar de Chico Xavier.

(*2) “Não entendo, absolutamente, o que faço: pois não faço o que quero; faço o que aborreço. (…) Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. (…) Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal.” (Paulo de Tarso, “São Paulo”, o “Apóstolo dos Gentios”)

(*3) Eugênia utiliza de modo bastante livre os termos técnicos aqui citados, numa aplicação muito própria, inclusive por denominá-los, resumida e, no meu entender, sabiamente, de “personalidades espectrais” embutidas na mente humana, facilitando, com grande flexibilidade conceitual, o entendimento popular de tão obscura e complexa questão.

(Notas do Médium)