(A prática do bem pode, em muitos níveis, ser inócua e mesmo falsa.)


Benjamin Teixeira,
em consulta ao espírito
Eugênia.


“Espalhar o bem não é somente transmitir facilidades de natureza material. Muitas máquinas, nos tempos modernos, distribuem energia e poder, automaticamente.”
Chico Xavier, pelo espírito Emmanuel (*1).

(Benjamin) – Prezados amigos espirituais (*2), julgo esta passagem da obra mediúnica de Chico Xavier particularmente significativa. Parece que este pensamento emmanuelino nos dá muito o que pensar, não?

(Eugênia) – Sim. Destaca a importância do amor, com prevalência sobre o exercício da benemerência mecanicamente praticada. Há pessoas que, ao ofertar uma esmola, supõem, grosseiramente, estar cumprindo seus deveres cristãos, enquanto negligenciam deveres humanos comezinhos, como tratar com bonomia e respeito aqueles com quem convivem. Utilizo esta metáfora, em função de já haver, na atualidade terrena, severas críticas – em sua maior parte, bem fundamentadas – à prática assistencialista do dar, sem ensinar a criatura a subsistir por meios próprios. Existem, todavia, outros níveis menos óbvios de entendimento desfocado do texto bíblico e do pensamento cristão, no que concerne à matéria do amor ao próximo, como acreditar que uma vida de serviço, em si mesma, dignifica e sublima um indivíduo. Sim, a expansão do bem material – em forma de alimento, medicação e agasalho, tanto quanto de prestação de socorro médico, odontológico e jurídico aos sofredores do mundo – proporciona à criatura respeitáveis patrimônios de merecimento. Contudo, a iluminação da consciência – a mudança do diapasão vibratório da alma – só acontecerá se ela se dispuser a sentir amor na realização do bem. Uma exemplificação extrema do princípio que aqui explanamos é a prática comum, entre narcotraficantes, de desdobrar serviços filantrópicos, no seio das comunidades carentes em que estão inseridos, para pô-las a seu favor, no que são copiados, como é notoriamente conhecido, por administradores públicos e políticos corruptos, sobremaneira em período eleitoral.

Evidentemente, quem vibra amor sincero por seus semelhantes, naturalmente se sente impelido a mobilizar-se em seu benefício, prenhe de compaixão por todas as criaturas de Deus. A caridade, assim, para ser excelente e pura, necessariamente será um desdobramento espontâneo do amor. Apesar dessa consideração, contudo, pode-se e deve-se fazer o esforço de disciplinar a própria natureza, pela sistematização de hábitos caritativos, pois que não se logram conquistas de vulto (‘inda mais as espirituais), sem trabalho e persistência. Entretanto, que não se descure do essencial: o domínio íntimo das motivações mais secretas, dos propósitos mais velados. Somente no plano dos sentimentos, os indivíduos revelam o grau de seu progresso psicomoral, denunciam o estágio de amadurecimento espiritual em que se manifestam atualmente. É inclusive esta transformação íntima que faz a conexão da criatura com o Criador, propiciando-lhe os gozos inefáveis que a benemerência genuína carreia para o coração prestativo. Nesta matemática da Perfeita Justiça Divina, o júbilo espiritual é tanto maior, quanto menos houver intenções sub-reptícias de se obterem retribuições de qualquer ordem; porque o bem, em sua mais legítima expressão, tem características indissociáveis de gratuidade e generosidade, misericórdia e indulgência plenas, que somente quem ama – larga e desinteressadamente – pode vivenciar.

É com esse estofo de sentimentos transcendentes que o ser se põe em comunhão íntima com Deus e Seus Representantes… colocando, assim, o Céu no próprio coração, porque, internamente, ascendeu, por esforço próprio, à sintonia do paraíso.

(Consulta mediúnica feita em 13 de agosto de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*1) Trecho extraído do capítulo 116 do livro: “Vinha de Luz”, psicografado por Chico Xavier, em 1952.

(*2) Em princípio, não me dirigi a Eugênia, apesar de ser ela a responsável pela condução de minhas atividades de estudos e reflexões espirituais, em respeito às suas múltiplas ocupações e subidas responsabilidades. Foi a preclara mestra quem se dignou a tomar a iniciativa de responder à consulta que movi ao Plano Sublime de Vida, em função de meditação provocada pela leitura da página psicografada pelo ímpar Chico Xavier, do famigerado autor espiritual Emmanuel, por ocasião do culto do Evangelho realizado, diariamente, em meu lar.

(Notas do Médium)