Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.

Anacleto, teria algo a nos dizer a respeito da Crise Internacional?

Reforçamos o que já foi dito alhures*, a respeito das guerras e das grandes crises e calamidades: que são excelente oportunidade de crescimento coletivo, tanto quanto individual.

O que, em particular, mais devemos fazer agora?

Deve haver maior preocupação com o outro. A sensibilidade empática (existe a sensibilidade egoísta, de quem só sente por si), a fraternidade, a solidariedade, todos os valores que a cultura consumista, materialista, competitiva ataca e faz perderem força. Os valores da família, por exemplo, da amizade, do carinho pelos vizinhos. Sem dúvida, não se pode retornar aos tempos da vida urbana primitiva, em que se podia ficar horas seguidas, toda noite, à porta de casa, inteirando-se de tudo que ocorre na vida dos que moram ao lado, mas esses valores podem ser transferidos para os vizinhos eletrônicos, aqueles com quem se pode tecer fios de amizade, mesmo a centenas, milhares de quilômetros de distância. As pessoas, em nome da eficiência no mercado de trabalho, na vida profissional e estudantil, nas diversas funções que assumem, têm negligenciado o essencial: os relacionamentos. Isso não implica dizer apenas que se passe mais tempo em casa e com os amigos, mas que o tempo que se passa no trabalho também seja influenciado por esse novo padrão. Essa proposta de maior humanização das relações pode muito bem ser transposta – e deve – para o ambiente de trabalho, onde as ligações interpessoais devem pesar no mínimo a mesma medida que os compromissos meramente profissionais.

Então, você sugeriria mais amor no ambiente de trabalho?

Ó, sim. Pequenas iniciativas, nesse sentido, podem ser tomadas. Por exemplo: festinhas de aniversário no escritório, a happy hour com os amigos na noite de sexta-feira, ainda que – e muito melhor que – sem nenhum elemento alcoólico para integrar o grupo, os pequenos e-mails amistosos da intranet da empresa entre colegas, superiores e subalternos, o sorriso franco e o carinho de um tapinha nas costas com todos.

Algo mais sugeriria nesses dias de correria, para sermos mais humanos?

Que cada um estabelecesse a disciplina diária de, ao menos uma vez por dia, estabelecer um diálogo franco e profundo com um elemento da família, incluindo, no conceito de familiares, cônjuges e amigos íntimos. Quem, por exemplo, mora longe dos pais, pode telefonar, ao menos em dias alternados, para ver como vão. Quem está longe dos filhos, pode fazer o mesmo. Quem está distanciado de amigos do peito, pode enviar cartinhas carinhosas de próprio punho, e reviver velhas e caras lembranças. Quinze minutos ou meia hora por dia dedicados a essa prática manterão viva a chama do amor, a chama das mais caras conquistas da alma. Muita gente corre do trabalho para a tela de TV ou de computador, dali para a cama e da cama de volta para o trabalho, sem notar que existem seres, e seres os mais preciosos do mundo para elas, ao seu lado, crescendo, afligindo-se ou desesperando-se, sem que note uma nesga de nada, até que seja tarde demais, e esteja sozinha e infeliz, consumindo-se em remorsos pelo tempo perdido. Priorizar as relações, o amor, é fundamental para uma vida feliz e completa.

Quer dizer que, em tempo de crise, o amor é o melhor que podemos fazer pela Terra?

Nada há de mais importante. Atitudes de amor melhoram a psicosfera do planeta, criam novas disposições psicológicas, geram uma cadeia de eventos fraternos entrelaçados, um efeito dominó de solidariedade e gentileza que tem resultados positivos para os eventos em dimensão planetária. Obviamente que uma só iniciativa ou uma só pessoa poderão muito pouco. Mas será por essas mudanças individuais e pontuais, no tempo e no espaço, que plantaremos as sementes de um mundo melhor, mais feliz e pacífico. Que ninguém duvide do poder que guarda consigo de transformar a Terra. O mundo melhorará a partir da transformação de cada indivíduo. A responsabilidade de melhoria do globo, portanto, está nas mãos de cada habitante do planeta, em particular, e de todos em conjunto. Que cada um faça a sua parte, em máxima medida, e o todo se beneficiará, gradativa, mas efetivamente, em direção a uma nova era de paz e alegria gerais.

(Diálogo travado em 16 de outubro de 2001.)

* Questão 737 de O Livro dos Espíritos (Nota do Médium).