Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.

Anacleto, estamos na iminência de talvez um conflito bélico de proporções mundiais. O que você nos poderia dizer sobre isso? A guerra é legítima?

Se não fosse a guerra, os instintos bestiais que ainda afloram do ser humano com freqüência e violentas erupções já teriam destruído a civilização, e implantado a barbárie. Claro que se deve combater a guerra e todas as formas de conflito, pelo seu custo tremendo para todos os envolvidos. É indiscutível, também, que inúmeras guerras foram geradas por interesses mesquinhos e, mesmo as que poderíamos chamar de legítimas (como as que tutelam a liberdade e a paz das nações), pecaram por excessos em incontáveis circunstâncias. Num futuro distante, não haverá confrontos armados entre os seres humanos. Todavia, enquanto o atual nível evolutivo for ostentando pelas criaturas de consciência primitiva que ainda encarnam na Terra em corpos de seres humanos, a guerra far-se-á não só inevitável como, em muitos casos, necessária e desejável. As Forças Armadas, a Polícia, o Sistema Judiciário e Penitenciário das nações estão no mundo em nome de Deus, em função de se manter a paz, a ordem e a coesão social, propiciando um mínimo de equilíbrio para a vida em sociedade, para o progresso, para a prosperidade.
Quando a criança é pequenina, uma pequena palmadinha pode ter efeito moral que lhe coíba comportamentos inadequados ou perigosos, como colocar o dedinho na tomada elétrica, já que não pode entender uma argumentação lógica quanto às conseqüências de fazê-lo. O mesmo expediente pode soar ridículo ou ofensivo, se usado com adolescentes ou adultos. Apela-se para cada recurso, conforme as necessidades de sua época, dos elementos envolvidos, do contexto de premências evolutivas e mesmo de sobrevivência que estão em jogo. Certos povos e indivíduos são irracionais, inacessíveis à conversação diplomática, de modo que somente entendem o expediente da força bruta. Não fazer uso dela, nessas circunstâncias, seria pôr em risco os valores da civilização, do progresso galgado pela raça humana, dando livre curso a polvos semi-selváticos, de níveis civilizatórios inferiores.

Existem acadêmicos que dizem que isso é uma questão de perspectivismo. Que nós veríamos a coisa por esse ângulo, porque estamos do lado de cá.

Esses são argumentos toscos, pobres e perigosos, que comprometem a segurança das nações. A democracia é indiscutivelmente o melhor sistema de Governo que existe por ora, e o totalitarismo, de qualquer procedência ou natureza, deve ser combatido com severidade, ainda que para isso seja feito uso de força armada. Ninguém estranha que as Casas da Justiça sejam guarnecidas por guardas armados, assim como estabelecimentos comerciais e até hospitais e escolas. E o que pensar de toda a civilização estar sendo posta em xeque?

Isso não seria uma forma dissimulada de Guerra Santa?

Não. Justamente o contrário: é a forma enérgica de bani-las definitivamente da face do globo. Todo radicalismo e fanatismo devem ser debelados, em prol da sobrevivência da espécie humana, assim como são alijados do convívio social psicopatas e sociopatas, em função do bem comum. Deve-se ter muito cuidado com as falácias adociadas, os sofismas engenhosos da falsa religião e da falsa espiritualidade que, muitas vezes, pregam a paz, quando, em verdade, propõem passividade ante a fúria assassina de um insano. Isso não é paz: é loucura, irresponsabilidade e atitude criminosa ante nós mesmos e aqueles que estão sob nossa proteção. Propor a paz quando algo ainda deve ser feito para que a paz seja consolidada é o mesmo que destruir completamente as possibilidades de que a paz seja, de fato, constituída. Não por outra razão, em certo momento de seus Evangelhos, disse Jesus: Não vim trazer a paz, mas a espada. Nenhuma conquista importante é feita sem luta e esforço.

Deseja nos dizer mais alguma coisa sobre esse assunto?

Somente reforçar que o mundo civilizado deve se unir enérgica e peremptoriamente contra o inimigo comum da barbárie. Ou se faz isso, ou a tecnologia bélico-nuclear, biológica e química, cada vez mais acessíveis a qualquer paranóico megalomaníaco, podem pôr em risco todo o projeto humano sobre a face do planeta. Não se trata de brincadeira, não se deve ser manso ou cordato com a violência e com atos de despautério, de delírio e de fúria assassina – nesse caso, genocida. Quando tratamos com seres racionais, os diálogos de ordem psicológica, diplomática e elegante podem ser travados. Quando se trata com gente dementada e bestializada, somente os recursos de psicotrópicos e, em última análise, de armas, podem ser utilizados, visando ao bem comum. Denegar algo tão óbvio ao bom senso é renunciar à razão e, à guisa de, por ignorância, estupidez ou hipocrisia, pretender ser bom e justo, dar espaço às forças diabólicas contrárias ao bem e ao progresso, em meio às conquistas da civilização. Não é momento, portanto, para tergiversações, muitas mesuras e cuidados. Um louco em surto psicótico e uma arma não mão, em meio a um conglomerado humano numeroso, deve ser imediatamente abatido. Se se fica em debates improfícuos sobre se seria ético ou não matá-lo, incorre-se, ironicamente, em erro muito maior, o crime da negligência, e inúmeros inocentes, inclusive quem discute pateticamente quanto ao que está evidentemente claro, podem perecer, irremissivelmente.


(Texto recebido em 15 de setembro de 2001.)