Anacleto, você pode me dizer o motivo de estarmos hoje sofrendo essa nova crise econômica no país?

O povo brasileiro precisa aprender a conviver com a abundância. Claro que existem complexos fatores econômicos e financeiros que não se circunscrevem à pátria brasileira. Todavia, por detrás de cada contexto, existe um sub-texto de significado divino, uma lição que o Criador deseja passar a suas criaturas. E a Providência Divina quer, por intermédio dessa provação nacional, chamar a atenção do povo da Terra do Cruzeiro para a necessidade do esforço e do trabalho persistentes.

Mas o povo brasileiro não é trabalhador?

Não que lhe falte propriamente disposição para o trabalho. Existe um sério problema conceitual e cultural que faz com que o brasileiro, de uma forma geral, desanime antes de tentar. Se um norte-americano convida outro para abrir um negócio, recebe em resposta, normalmente, uma eufórica resposta de disposição a enfrentar desafios e ambos seguem se retro-alimentando, motivando um ao outro a atingir o objetivo comum. Já um brasileiro que convide um patrício para uma empreitada nova, via de regra ouve: Você tá maluco? Não vê que estamos em crise? Ponha os pés no chão! Não é hora de aventurar, mas de assegurar o pouco que temos. O pessimismo que, no Brasil, muito erradamente se confunde com realismo, é um cancro nacional a se enquistar no âmago do coração do país, criando toda sorte de resistência ao progresso, à ascensão. É por isso que, quando tudo parece bem, uma multidão de vozes silenciosas, no interior da mente de milhões, começa a sussurrar: Isso está bom demais para ser verdade… A crise vem aí… A crise vem aí… E a crise vem. Seja por negligência ou por atos inconscientes de auto-sabotagem ou pela força conjugada do poder mental criativo da massa gigantesca de profetas do apocalipse tupiniquins, milhões de brasileiros começam a trabalhar contra o país e contra si mesmos, indo todos para o buraco estranhamente felizes, dizendo, entre si: Eu sabia! Eu não disse? Aquilo não poderia demorar muito tempo…

E Anacleto: o que é que nós poderíamos fazer para debelar essa crise, ou mudar esse padrão de consciência? Temos alguma chance? Isso parece um terrível ciclo vicioso, em que nos lançamos sempre de volta ao abismo.

Um dos pontos que falou é o essencial: mudar o padrão de consciência. O povo brasileiro deve re-aprender a pensar, intuir e sentir a realidade. Sua forma tragi-cômica de interpretar a realidade faz com que constitua uma nação risonha e satírica ao mesmo tempo. O humor brasileiro está cheio desse tom cáustico e pessimista, diríamos mesmo existencialista, que propele à derrota e à tragédia. Mas o povo brasileiro tanto tem solução que lentamente está se modificando. Dependendo da velocidade com que aprenda a lição, poderá sair do buraco. Um brasileiro, por exemplo, entra na faculdade, com o propósito de conseguir um emprego ao sair. Um norte-americano, com muito maior probabilidade que o brasileiro, pensa não em conquistar um emprego, mas em gerar empregos, em abrir o seu próprio negócio. Essa filosofia brasileira da acomodação, de parasitismo do outro, do Estado e das situações, do jeitinho brasileiro, deve ser combatida com energia. São uma psicologia e uma política da vítima, da criança e do vampiro: minha fonte de soluções e de satisfação de necessidades é o outro. Cada um deve assumir plena responsabilidade pelo próprio destino e parar de se sentir massacrado por forças metafísicas como a que recebe o nome de monstro medonho:… Recessão. Se uma multidão de brasileiros, em expressão significativa, mudar seu padrão de consciência, toda a nação seguirá. A globalização dos mercados será um forte elemento estimulante para se chegar a essa mudança efetiva. Os jovens e as empresas estão precisando se adaptar, rapidamente, às exigências da economia internacional, e isso catalisa o processo de maturação emocional do país.

Mas isso também não indicaria um mecanismo de aculturação, de colonização cultural por parte de uma cada vez mais hegemônica cultura norte-americana?

Em parte, sim. Em outra não. Quando um aluno vai à escola, absorve de tal modo, se for aplicado, o tom mental do mestre, que pode lhe parecer um réplica de estilo e forma de pensar. Após absorver-lhe os conteúdos de aprendizado, adquirindo maturidade e, portanto, autonomia de ideias, de opiniões e de julgamento, pode, então, assumir sua personalidade, seu estilo próprio de ser, agir e pensar. É o que se dá agora com o Brasil. Ele, naquilo que é menos desenvolvido, aprende, vorazmente, e o mundo tem visto como o Brasil sabe aprender rápido e bem. Mas é uma nação também cheia de potenciais extraordinários em outras áreas que nações antigas e mesmo a americana ou não têm, ou têm de forma caótica ou já têm em declínio, como a questão da religiosidade. Entramos numa era em que cada vez mais será necessária a perspectiva espiritual para dar sentido e foco à existência, em um universo ideológico e conceitual de complexidade crescente, pela explosão da revolução da informação. A Europa latina vive o declínio de uma religião fossilizada. A Europa germânica e nórdica padece de terrível ausência de espírito religioso. E, por fim, os Estados Unidos apresentam uma mixórdia de tendências esotéricas e espirituais que mais confunde as pessoas do que as orienta, prestando um auxílio e fornecendo inspiração sim, mas muito pouco para propor um paradigma novo de ser e sentir o mundo. O Oriente, sim, tem sido chamado a trazer novamente suas velhas visões de espiritualidade, com seus milênios de tradição. Mas por isso mesmo, por serem milênios de tradição, existe um espírito de dogmatismo e respeito a conceitos seculares que não condiz com a mentalidade moderna de questionamento, perscrutação racional e comprovação científica de ideias e fatos, bem como de criação e reformulação de princípios e conhecimentos. Somente o Brasil, com o Espiritismo bem assentado na visão científica de Kardec, terá condições de, muito breve, devolver ao mundo o conteúdo de potenciais de um adolescente que se cria agora, mas que amanhã estará sustentando, nutrindo e guiando as nações-mães da Terra.

Que visão belíssima, Anacleto. Isso, porém, tem a ver com a crise econômica brasileira?

Ó, sim. Somente quando houver maturidade, o Brasil poderá assumir uma condição de líder espiritual do planeta. E o Brasil, com essa atitude negativista e acomodatícia, denota a rebeldia do púbere problemático, que não quer saber de responsabilidades e mantém-se fixado a uma visão da vida como uma eterna brincadeira. A forma como a mentalidade brasileira é apaixonada pela futebol e pelo carnaval, apenas para dar dois exemplos, revela a quantas vai o grau de maturidade do inconsciente coletivo nacional. Dá-se, por exemplo, uma atenção aos problemas do futebolismo como se se tratassem de questões de estado. Volumes estupendos de dinheiro são investidos e toda a atenção da imprensa se volta para a época carnavalesca, com um nível de intensidade que questões sérias, como a fome e o analfabetismo generalizados nunca receberam. Claro que os esportes, bem como o lazer, como as festas populares, são importantes para a saúde integral do ser humano. Faço referência aqui ao nível prevalência que esses assuntos tomam no cosmo psíquico da população, de forma desproporcional à sua genuína substância e relevância para a felicidade e o progresso gerais. E essa falta de senso das proporções indica um nível sofrível de maturidade psicológica do povo brasileiro, no que concerne às magnas responsabilidades que lhe estão afetas para o futuro. Os primeiros sinais desse processo de crescimento já foram claramente dados, e um processo coletivo de conscientização tem tomado vulto, incluindo, entre eles, a disseminação cada vez mais forte do Espiritismo, no seio da sociedade, a começar de seus estratos mais esclarecidos.

Há mais alguma coisa que julgue importante falar sobre a temática?

Por ora, estou satisfeito. É o suficiente para vocês refletirem. Mesmo porque, como acima assinalei, o Brasil está precisando de muito mais ação do que de ideação.

Matheus-Anacleto (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
6 de setembro de 2001