Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Não lhe perceberam a tristeza no olhar. Apenas notaram o sorriso em seu rosto, em função da filosofia de gentileza e bondade contínuas que lhe traça as diretrizes de conduta. Supondo-o um ser especial e superior, imaginaram que não teria necessidades e carências humanas, e deixaram-no à míngua de mínimas manifestações de afeto.

Mais um vez segue você denodado, mas exaurido. Permanece insone e ativo, enquanto outros repousam. Continua privado das alegrias do lar, para que outros lares se mantenham de pé. Sofre em silêncio, para não adicionar dores às dores alheias, enquanto as soluciona, com empenho constante e heróico.

Novamente e mais outra e outra vez, vê-se sozinho, após derramar a linfa do estímulo fraterno para muitos. Fez sorrir, mas permanece com a alma esturricada de sede afetiva. E, em meio a toda a carência e desolação emocional, tem que se manter motivado, realizando prodígios na administração do caos na sua e na vida de outros muitos, sem vacilações, transmutando, praticamente só, tudo que lhe chega de ruim, para ímpetos ao bem fazer, falar e sentir.

Luta contra vetores da ignorância, que intentam calar sua voz. Briga, ferozmente, contra a falta de forças que lhe visita a alma fragilizada, por muitas e consecutivas, quando não concomitantes, batalhas difíceis.

E se, de fato, você está na iminência de capitular, ante tantos vetores do mal consociados em seus caminhos, minados de sofrimentos atrozes, recorde-se de que grandes seres angélicos velam por seus passos de homem de bem, e que logo o socorro de novos suprimentos lhe chegará, insuflando-lhe ânimo renovado e propiciando-lhe recursos de continuar e vencer.

Agora, com a mente conturbada pelas contrações psíquicas de um parto consciencial demorado, permita-se dar-se à luz em um novo nível de percepção, avaliação e realização, fazendo-se renascer para o plano transpessoal de consciência, em que o ego não é mais a prioridade para o indivíduo.

Não tenha medo de si, por ter tantas vezes caído. A consciência da queda também traz fortaleza, e uma espécie de desilusão de si muito importante para o desligamento do ego e a ascensão aos níveis transpessoais de consciência.

Se hoje não acredita mais em sua infalibilidade, ótimo! Isso é sinal de genuíno processo de amadurecimento.

Se ultimamente tem-se percebido frágil e vulnerável, excelente! Isso é uma verdade para todo ser humano.

Se não acredita na certeza de seu sucesso: magnífico! Além de essa certeza ser absurda, para quem quer que seja, essa insegurança quanto ao sucesso (desde que moderada) é índice de ter superado a arrogância e a presunção dos muito jovens talentosos.

Você vai vencer e está vencendo. Basta esperar. Não peleje mais, no intuito de resolver, à base do forçar-se, o que não prescinde de serenidade e paciência. Renda-se, confie-se completamente ao Ser Todo Amor que põe sempre uma consolação ao lado de cada lágrima e transforma crises em alavancas para o progresso das criaturas.

Renuncie à excelência e permita-se ser humano: não deixará de ser falível, por se exigir não ser. Então, para ser mais eficiente e prático, admita o inevitável: sua humanidade, e prossiga focando a mente no essencial: a perseguição de sua meta de felicidade, de acordo com o princípio de utilidade social, para que o seu bem constitua transbordamento para o bem de outros, sempre.

(Texto recebido em 3 de junho de 2003.)